postado em 02/01/2009 08:34
A desaceleração do continente de crescimento mais dinâmico no mundo será mais forte do que o previsto nos últimos meses, mas a Ásia tem amortecedores mais potentes que as demais regiões do mundo.
A opinião é de diversos economistas ouvidos pela Folha, que estimam em 6% o crescimento do PIB continental em 2009, menos que os 9% de 2007. Com exceção do já recessivo Japão, as outras duas grandes potências, China e Índia, devem crescer 6% e 5%, respectivamente. Os países cresceram 10% e 9%, respectivamente, nos últimos cinco anos.
Para os analistas, a fortaleza asiática se sustenta em crescentes classes médias com forte consumo interno, assim como no aumento vigoroso de gastos estatais.
As principais economias da região têm grande poupança, enormes reservas internacionais, baixo endividamento e superávits fiscais -com exceção dos endividados bancos da Coreia do Sul, onde também há déficit de conta corrente. Mas não serão capazes de amortecer sozinhas a recessão global.
Antes, os governos asiáticos terão que conter crescentes tensões sociais, principalmente nos países que dependem muito de exportações -as primeiras afetadas pela crise nos EUA e na União Europeia.
Dependendo de seu tamanho e duração, a crise pode mexer no turbulento cenário político regional. O terceiro primeiro-ministro japonês em dois anos, Taro Aso, pode ter seu mandato ameaçado. As eleições indianas em maio podem ser difíceis para o primeiro-ministro Manmohan Singh, que busca reeleição. E o Partido Comunista chinês não esconde a tensão pelo aumento exponencial do desemprego.
Por questões eleitorais ou de popularidade, onde eleições não são necessárias os governos continuam muito otimistas. A Academia Chinesa de Ciências Sociais, principal centro de estudos do governo, estima que o PIB chinês cresça entre 8% e 9% em 2009.
Na Índia, o governo diz que o PIB vai crescer 7%.
Algo refutado pela maioria dos economistas regionais. "A China só deve crescer 5%, o que para o chinês médio vai parecer recessão", disse à Folha o economista Ben Simpfendorfer, do Royal Bank of Scotland, em Hong Kong.
As exportações devem cair, e o investimento imobiliário não deve se recuperar no ano que vem, segundo o economista. As exportações representam 36% do PIB, mas, se for contado apenas o valor agregado, esse peso cai para 12% do PIB -boa parte dos fabricantes depende de componentes importados. Segundo Simpfendorfer, as exportações devem cair 9%.
O investimento em imóveis residenciais foi um dos grandes responsáveis pelo crescimento do país nos últimos cinco anos -a propriedade privada de apartamentos só foi permitida em 1998. Mas logo juros altos, impostos e sobretaxas e regulamentação para evitar preços abusivos e especulação sufocaram o setor imobiliário, que começou a ficar com milhares de unidades encalhadas. Os preços começaram a cair e o investimento em imóveis desabou como consequência.