Economia

Demanda em retração vai afetar vendas brasileiras e derrubar saldo da balança até 2010

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postado em 03/01/2009 08:17
Com pouca ou nenhuma capacidade de reagir a baques econômicos de efeitos globais, a balança comercial brasileira sentirá saudades do tempo em que o mundo jorrava dinheiro. Por causa da escassez de crédito e da redução da demanda, o fluxo de compra e venda de mercadorias sofreu um forte baque em todo o mundo e a valorização do dólar em relação às principais moedas do planeta, inclusive ao real, ainda não ajudou. Antes do furacão financeiro, os tempos de bonança apontavam para janelas de oportunidade sem precedentes. O Brasil ampliou ou inaugurou canais inéditos de comércio empurrado pelo excesso de liquidez. O superaquecimento da economia turbinou ainda o status do país frente aos concorrentes, passando em alguns casos de coadjuvante para protagonista da gangorra comercial. ;É preciso, com urgência, renovar nosso parque industrial para dar uma resposta a essa crise. A saída é mandar o seguinte recado ao mundo: o Brasil está pronto para receber novos investimentos;, alerta Roberto Segatto, presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (Abracex). No ano em que todas as previsões foram parar no ralo, a crise abalou o ânimo dos países, reduzindo o apetite da maioria por trocar produtos ; sejam eles básicos ou de valor agregado. Parte significativa do que ocorreu em 2008 terá reflexos sobre 2009, 2010 e 2011. Os itens básicos, primeiros a acusar o golpe da desvalorização, vão funcionar como termômetros de dias melhores ou catalisadores de novas tempestades. Tanto que pouca gente arrisca-se a dizer quando afinal de contas os preços das commodities vão reagir e voltar a ser realmente competitivos. Não é o caso do Credit Suisse. A instituição prevê para 2009 a redução da corrente de comércio e do saldo comercial. Dos atuais US$ 24 bilhões, o saldo da balança comercial deverá cair para US$ 14 bilhões. A culpa , segundo o Credit Suisse, será da desaceleração da demanda externa e dos preços em queda das commodities. E as commodities representam cerca de 60% das exportações brasileiras. Nas exportações, o Credit Suisse projeta uma redução de 20% na quantidade e também no preço dos produtos exportados. Nas importações, a queda, segundo a instituição, será de 17%. No caso das importações, a redução se dará por conta da desaceleração da demanda doméstica. Também contribuirá a depreciação cambial, que agirá no sentido de inibir a compra de produtos que não sejam essenciais. Para o Credit Suisse, a redução das importações será significativa nos setores de bens de capital e de consumo duráveis, com destaque para os veículos. As importações de commodities são concentradas em combustíveis, fertilizantes e produtos siderúrgicos. Acomodação Exportadores e importadores já se conformaram com horizontes um pouco mais limitados do que estavam acostumados a lidar, mas afirmam que com um ajuste fino no foco das políticas públicas de incentivo ao comércio exterior as frustrações tendem a ser menores. ;A grande puxada global será a troca de guarda nos Estados Unidos, com Barack Obama, mas o Brasil pode se antecipar, reduzindo a carga tributária que recai sobre a produção e a mão-de-obra;, justifica Segatto. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior indicam que o Brasil perde fôlego mês a mês desde o estouro da bolha imobiliária americana. O país não conseguiu atingir a meta de exportar US$ 202 bilhões em 2008 ; no ano passado, as vendas externas chegaram a US$ 160,6 bilhões. O Banco Central, por exemplo, projeta um comportamento bem mais modesto das exportações em 2009, com um recuo de 4%. Se isso se confirmar, será a primeira queda desde 1999. Nas contas do BC, o Brasil exportará US$ 193 bilhões em 2009. As previsões da iniciativa privada são ainda mais pessimistas. A indústria avalia que o cenário está tão deteriorado que dificilmente os embarques irão além dos US$ 170 bilhões. O desempenho em termos de saldo comercial só não será pior, alertam os analistas, porque com a alta do dólar as importações deverão crescer em marcha lenta. Isso tudo somado ; e mantido o cenário atual ; o superávit da balança em 2009 tende a ficar entre US$ 14 bilhões e US$ 16 bilhões, contra os US$ 23,5 bilhões registrados em 2008. Setores sensíveis aos solavancos dos mercados, como o de mineração, estão em compasso de espera. Depois de anos muito bons, com lucros e grande produtividade, a expectativa volta-se agora para o curto e médio prazos. ;É no primeiro semestre de 2009 que vamos saber se os pacotes baixados pelos governos deram certo;, diz Antonio Lannes, gerente de dados econômicos do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). Entre os produtores de soja, a expectativa em relação aos primeiros meses de 2009 é grande. Cerca de 30% da safra já começa a ser colhida agora este mês e o restante entre março de abril. ;No ano passado, fizemos vendas antecipada e, para 2009, a situação é inversa;, contou o produtor de Mato Grosso, Ricardo Arioli. Segundo ele, as trades não compraram nada devido à escassez de crédito no mercado internacional. ;Assumimos uma conta alta e não sabemos a que preço vamos conseguir vender a produção;, disse Arioli. De acordo com o produtor, a expectativa é grande em relação ao preço da soja no mercado interno e internacional. ;Preço bom para o produtor é a saca de soja entre R$ 35,00 e R$ 40,00. Abaixo disso vamos ter prejuízo e, mais uma vez, ficarmos descapitalizados para a safra seguinte;, observou.

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