Economia

Analistas preveem que crise mundial vai acelerar processos de fusão de bancos

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postado em 04/01/2009 09:06
No dia 3 de novembro de 2008, quando foi surpreendido pela fusão entre o Itaú e o Unibanco, o mercado bancário brasileiro selou seu futuro, marcado por uma grande e irreversível onda de concentração. A expectativa, expressada pelo presidente do Itaú, Roberto Setúbal, durante o nascimento da maior instituição financeira da América Latina, com seus ativos de R$ 572 bilhões, é de que, no máximo, seis bancos dominem o sistema. O presságio, que há até bem pouco tempo seria motivo de duras críticas por prejudicar o consumidor, hoje é visto com alívio, inclusive dentro do governo. Em meio ao terremoto que varreu o mundo e tirou do mapa instituições centenárias como o Bear Stearns e o Lehman Brothers e fez tremer o gigante Citibank, todos abatidos pelo estouro da bolha imobiliária dos Estados Unidos, a concentração bancária virou sinônimo de solidez. ;Realmente, do ponto de vista do consumidor, que ficará com pouquíssimas opções para abrir uma conta corrente ou tomar um empréstimo, a concentração é péssima porque restringe a concorrência e encarece os serviços. Mas do ponto de vista de segurança do sistema e de melhor fiscalização pelo Banco Central, ter o mercado dominado por poucos e sólidos bancos é o que de melhor pode acontecer;, diz o especialista em sistema financeiro José Luiz Rodrigues, diretor-presidente da JL Rodrigues Consultores. Ele ressalta, porém, que esse movimento de concentração já estava no mapa havia anos. Para constatar isso, basta conferir os números consolidados pelo BC, com base nos balanços das instituições financeiras referentes à primeira metade de 2008. Os nove maiores bancos do país detêm 89% do total de depósitos em conta corrente, 90% das aplicações em caderneta de poupança e 77% das operações de crédito. ;A crise, portanto, só acelerou o processo, que passou pela aquisição da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil;, acrescenta Rodrigues. Briga acirrada Ao listar os bancos que, num futuro bem próximo, terão o domínio do mercado brasileiro, os analistas não titubeiam: do lado privado, estarão o Itaú-Unibanco, o Santander-Real e o Bradesco; do lado do setor público, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Completaria esse time o HSBC, que ainda precisa ganhar muita musculatura para encostar na concorrência. Sempre que instigado sobre o assunto, o HSBC opta pelo silêncio, até porque também está curando as feridas abertas pela crise em várias de suas filiais pelo mundo. Mas os alvos preferenciais, tanto da instituição quanto do Bradesco ou mesmo do Banco do Brasil para crescer, seriam os negócios do Citibank no país, o Banco Safra, o Votorantim e, claro, os bancos de médio e pequeno portes, os mais prejudicados pela crise. Como se sabe, a maioria deles foi socorrida pelo BC quando as linhas externas de crédito secaram e a desconfiança dominou o sistema. Para sobreviverem, essas instituições tiveram que se desafazer de boa parte de suas carteiras de empréstimos e absorver parcela importante dos quase R$ 100 bilhões em depósitos compulsórios injetados no mercado pelo BC. Para o analista de bancos João Augusto Salles, da consultoria Lopes Filho e Associados, apesar da disputa aberta entre os bancos, é preciso comedimento quando se fala em fusões e aquisições. ;Acredito que o espaço para megaoperações, como a que envolveu o Itaú e Unibanco e a compra da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil, tenha se esgotado;, diz. Na sua avaliação, a tendência é de que a concentração do sistema se dê por meio das pequenas e médias instituições. ;Mas essas operações não serão suficientes para mudar, de forma considerável, o atual ranking dos maiores bancos do país;, afirma. No Setor privado, a liderança será do Itaú-Unibanco, com o Bradesco e o Santander-Real brigando acirradamente pelo posto de vice. O BB continuará sendo o maior banco público do país ; e, para desgosto do presidente Lula, apenas o segundo maior no ranking geral, depois de 200 anos no topo da lista. BB e Caixa A despeito do revés imposto pela fusão do Itaú com o Unibanco, o Banco do Brasil, junto com a Caixa Econômica Federal, terá papel preponderante no mercado bancário, sobretudo nesse período de crise. Nos cenários traçados pelo economista-chefe do banco Credit Suisse, Nilson Teixeira, essas instituições serão vitais para manter a oferta de crédito, que caiu significativamente depois do estouro da bolha imobiliária dos Estados Unidos. O BB e a Caixa estão ocupando o vazio deixado pelos bancos privados, temerosos de que, com a desaceleração da economia, o desemprego aumente e, por tabela, o país mergulhe num mar de calotes. Na opinião do diretor-executivo da Fitch Ratings, Rafael Guedes, é compreensível que, num momento de escassez de crédito e de juros elevados, os bancos públicos ampliem a presença no mercado de crédito. Ele ressalta, porém, a necessidade de as operações seguirem critérios técnicos e não apenas satisfazerem o desejo do governo de que o crescimento da economia neste ano atinja os 4% fixados como meta pelo presidente Lula. A presidente da Caixa, Maria Fernanda Ramos Coelho, garante que não há com o que se preocupar. Tanto a instituição quanto o Banco do Brasil estão operando em condições muito seguras, sem se exporem demasiadamente a riscos. ;Não vamos fazer nada além da nossa capacidade. Todas as concessões de crédito que fazemos são avaliadas criteriosamente;, diz. ;E essa tem sido a orientação do governo, do presidente Lula;, emenda. Sem entrar no mérito dessa discussão, Luís Miguel Santacreu, analista da Austing Rating, afirma que, assim que a crise mundial amenizar, o tamanho do setor bancário em todo o mundo ; que ainda assistirá a muitas falências ; deverá ser bem menor e muito mais regulado, focado em operações tradicionais, sem as estripulias que resultaram nos subprimes, créditos de péssima qualidade que detonaram a mais grave crise financeira desde 1929. ;Essa receita valerá mais do que nunca para o Brasil, onde os bancos sempre foram muito conservadores;, destaca.

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