postado em 09/01/2009 08:17
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi complacente ao lidar com os primeiros estágios da crise econômica global, que chegou à América Latina - e ao Brasil -, diz reportagem desta sexta-feira (9/01) do jornal britânico "Financial Times" ("FT").
Segundo o diário britânico, a crise está frustrando o otimismo que existia no continente até poucos meses atrás de que conseguiria escapar do pior.
Em artigo intitulado "Going South" ("Piorando", em tradução livre), o jornal, especializado em finanças, lembra que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em setembro que a crise era do presidente americano George W. Bush.
"[Mas] agora ela é de Lula da Silva", afirma. E o "FT" diz que "a produção industrial do país caiu 6,2% no ano até novembro, segundo números anunciados nesta semana - a queda mais acentuada da produção desde dezembro de 2001".
"O líder brasileiro não estava sozinho em sua complacência", ao acreditar que a turbulência não atingiria o seu país, disse o jornal. "Por todo o continente a crise provocou uma destruição de riqueza em grande escala."
"Duras lições"
"As duras lições das crises financeiras anteriores encorajaram cautela entre os formuladores de políticas latino-americanos", disse o "Financial Times".
"Muitos governos coibiram empréstimos no exterior tanto pelo setor público quanto privado. Eles mantiveram suas dívidas baixas, deixaram o câmbio flutuar para evitar crises de desvalorização e formaram grandes reservas de moeda estrangeira. Eles vigiaram seus bancos como falcões, o que ajudou a assegurar que permanecessem em grande parte livres das dívidas tóxicas americanas." Isso é o que fez com que economistas e autoridades governamentais vissem a região "como melhor posicionada do que em qualquer outro momento em cinco décadas para suportar um duro golpe." "Mas o pior choque global em três quartos de século expôs a fraqueza mascarada pelos números agregados."
Uma dessas "fraquezas no Brasil e no México", diz o "FT", "foi uma série de contratos falhos de derivativos que as empresas assumiram juntamente com um grupo de bancos de investimento". "Isso as deixou desesperadas em busca de dólares, colocando o real brasileiro e o peso mexicano em queda acentuada em outubro."
Excluídos
O artigo afirma ainda que a crise ainda deverá chegar aos "países até aqui não afetados pela crise de crédito". "São aqueles que, em grande parte, já estavam excluídos do mercado financeiro internacional", afirmou o jornal, que inclui neste grupo Equador, Venezuela e Argentina.
"Esses governos gastaram livremente durante o boom das commodities (...) Diferentemente do Chile e um ou dois outros, seus governos têm pouco guardado para momentos difíceis." O "FT" aponta o Chile como o país em melhor posição para enfrentar a crise, dizendo que "ele vem obtendo superávites fiscais equivalentes a 6% ou 7% do PIB [Produto Interno Bruto] nos últimos três anos e agora tem espaço para aumentar os gastos públicos".