Economia

Desemprego pode voltar aos dois dígitos

Rápido impacto da crise mundial tem força para derrubar uma das conquistas brasileiras

postado em 17/01/2009 09:35
A taxa de desemprego nas seis principais regiões metropolitanas do país poderá voltar aos dois dígitos, mais precisamente 10%, até junho deste ano, como reflexo da onda de demissões provocada pela crise mundial ; em novembro, último dado disponível, estava em 7,6%. Será a maior taxa em quase dois anos. ;É perfeitamente factível que isso aconteça, devido à rapidez com que as turbulências internacionais impactaram o mercado de trabalho brasileiro;, disse o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal. ;Ninguém esperava que tantos postos de trabalho fossem fechados nas últimas semanas, como estamos vendo. Há um movimento generalizado de dispensa de trabalhadores;, acrescentou. Normalmente, o mercado de trabalho é a última variável a ser afetada quando a economia está em retração. ;Mas nesta crise está sendo bem diferente. Há um componente psicológico nessas demissões, provocado pela expectativa de que está tudo muito ruim;, afirmou o economista Fábio Romão, da LCA Consultores. Para ele, a onda de demissões será liderada pela indústria, seguida pela construção civil. ;A indústria, por sinal, já acusou o golpe em novembro, quando cortou 80 mil vagas. Foi um baque. Nos últimos anos, neste mês especificamente, foram fechados entre 1 mil e 2 mil postos;, assinalou. Segundo o professor Manoel Henríquez Garcia, da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), é possível que em dezembro o índice de desemprego tenha saltado para 8%, quando deveria cair. Ele baseia sua estimativa na informação preliminar do governo de que, somente no último mês de 2008, foram fechados mais de 600 mil vagas formais de trabalho (com carteira assinada). Os dados finais do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) serão divulgados na segunda-feira, e há possibilidade de os números serem ainda piores. No acumulado do ano, porém, o saldo será positivo em 1,5 milhão de vagas. Na avaliação da economista-chefe do Banco ING, Zeina Latif, a euforia que dominou o mercado de trabalho até setembro do ano passado chegou ao fim. ;Os tempos mudaram. Daqui por diante, teremos números bastante ruins, principalmente nos primeiros três meses do ano, que só tenderão a ser revertidos a partir do segundo semestre, quando a indústria retomará a produção com maior ênfase;, disse. Ela acredita, no entanto, que os segmentos mais dependentes da renda, como a indústria alimentícia, tendem a manter o quadro de funcionários, pois a demanda não deve despencar como ocorreu com os automóveis, cujas vendas necessitam de crédito, que escasseou e ficou mais caro. Essa avaliação é compartilhada por Fábio Romão, da LCA. ;Não podemos esquecer que, independentemente da crise, o salário mínimo passará de R$ 415 para R$ 465 em março, os juros vão cair e que a inflação está em queda, favorecendo o poder de compra, sobretudo das camadas mais pobres;, disse. Esses fatores, reconheceu o economista, podem não ser suficientes para evitar o tombo da produção e do consumo, mas serão suficientes para amortecer a retração da atividade, impedindo, de alguma forma, um estrago ainda mais devastador no mercado de trabalho. Chances pequenas Apesar de toda a ajuda recebida do governo, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para reduzir os estoques de carros zero quilômetro, são muito pequenas as chances de a indústria automobilística reverter as demissões anunciadas nos últimos dias. Segundo a economista-chefe do Banco ING, Zeina Latif, o setor está se ajustando ao seu tamanho real. ;O crescimento da produção e das vendas de carros que vimos nos últimos anos, de dois dígitos, foram irreais e eram insustentáveis;, afirmou. ;Portanto, não há como manter o mesmo número de empregados nas empresas;, acrescentou. Para o professor Manoel Henríquez Garcia, da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), a redução de empregos será ainda mais cruel com os fornecedores da indústria automobilística, como o setor de autopeças. ;O emprego nas montadoras não é tão grande, o que realmente importa é a cadeia produtiva do setor, e essa vai sofrer bastante com a retração da venda de carros;, acrescentou. (VN) Mais saques no FGTS A onda de demissão que varre o país já bateu pesado no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Em dezembro, quando mais de 600 mil postos formais de trabalho foram fechados ; o número oficial sairá na segunda-feira ;, os saques de recursos no fundo totalizaram R$ 5,2 bilhões, volume 62% maior do que o registrado no mesmo mês de 2007, de R$ 3,2 bilhões. A corrida ao FGTS foi tamanha que por pouco, não houve déficit. A arrecadação superou os resgates em apenas R$ 17 milhões conforme informou a Caixa Econômica Federal ao Correio. O desempenho do FGTS no mês passado acendeu a luz vermelha entre seus gestores, pois há o temor de que as demissões sejam tão fortes neste primeiro trimestre do ano, levando o patrimônio do trabalhador a registrar déficit mensal pela primeira vez em mais de três anos. Com a economia bombando, estimulando um processo de formalização recorde do emprego, o fundo ganhou musculatura, a ponto de, somente em 2008, ter computado lucro líquido de R$ 4 bilhões. ;Teremos um período difícil pela frente, com a perspectiva de o índice de desemprego atingir um patamar entre 9% e 10% até o meio deste ano;, disse um técnico da Caixa. A preocupação é ainda maior, porque o governo vê o FGTS como um dos principais instrumentos para estimular o crescimento da economia em 2009 e garantir a meta de crescimento de 4%. Até o final deste mês, o presidente Lula anunciará o Plano Nacional de Habitação, voltado, principalmente, para a população de mais baixa renda (até R$ 2 mil). Uma das medidas em estudo prevê o aumento de R$ 900 milhões, de R$ 1,6 bilhão para R$ 2,5 bilhões, nos subsídios às prestações da casa própria. (VN) O número Resgate R$ 5,2 bilhões foram sacados em dezembro no FGTS

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