postado em 18/01/2009 09:07
Se 2008 já não foi um ano tão bom assim para o setor aéreo, por causa da crise, a situação deve ficar ainda mais complicada em 2009. Quem pode sair ganhando é o consumidor, pois a queda na comercialização de passagens, a partir de setembro, e a entrada de uma nova concorrente no mercado, a Azul, devem fazer com que as empresas façam de tudo para atrair novos clientes e manter os atuais. Investimentos, como a compra de aeronaves, também podem ser adiados.
;A expectativa, por conta da entrada da nova concorrente, é que as empresas devem fazer muitas promoções, por causa da taxa de ocupação das aeronaves. E deve acontecer isso. A taxa de ocupação da aeronave vai cair, e elas vão fazer promoções, reduzindo o preço;, afirmou Solange Paiva Vieira, presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), em entrevista ao Correio. As taxas de ocupação das duas maiores empresas do setor já estão abaixo da média ideal, de 70%. Segundo Solange Vieira, a da TAM é de cerca de 68% e a da GOL, 55%, o que mostra que as companhias terão que fazer muita ginástica este ano para, se não aumentar, pelo menos manter os números atuais. E as ofertas de tarifas costumam ser as estratégias mais usadas.
José Márcio Mollo, presidente do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), pondera que o número de promoções vai depender do custo do petróleo e do dólar, que impactam diretamente no preço do querosene para aviação, um dos principais indicadores do custo das empresas. Mas ele acredita que o movimento de tarifas deve se intensificar depois do carnaval, quando entra o período de baixa temporada e o fluxo de passageiros normalmente cai. E com o agravante da crise, então, a queda deve ser ainda maior.
Simone Escudêro, diretora de Projetos e Estudos de Mercado da All Consulting, analisa que a entrada de uma nova concorrente no mercado já pressiona os preços das passagens aéreas para baixo, mas como a cotação do dólar tem influência direta no combustível e nos contratos de leasing das aeronaves, as empresas poderão intensificar as promoções, mas não a qualquer custo. ;Só em 2008, houve um aumento de 40% nos preços das passagens aéreas. Para que as empresas se tornem viáveis financeiramente e economicamente, têm que ter uma taxa de ocupação mínima. Como há uma concorrência acirrada, é mais fácil subir a tarifa do que baixar os preços e ter que aumentar o número de assentos ocupados;, explica. ;Se fizerem promoção, diminuem a margem. Se diminuem a margem, são obrigadas a ter mais passageiros a bordo. As companhias têm que ter um ponto de equilíbrio. A aeronave inteira a preços promocionais não compensa, não paga os custos mínimos. Por isso, muitos voos são cancelados;, revela.
O presidente da Azul, Pedro Janot, afirmou que manterá a política da empresa de tarifas reduzidas, focada, principalmente, no público que não viaja ou que viaja de ônibus. O diretor de Vendas e Marketing da Trip, Evaristo Mascarenhas, informou que a companhia continuará fazendo ofertas pontuais, de acordo com a demanda de mercado. A GOL informou que ;manterá sua política de oferecer tarifas reduzidas em 2009, uma prática utilizada desde o início de suas operações, em janeiro de 2001; e que continuará a competir com o ônibus. A TAM informou que oferece várias opções de tarifas e que mantém um hotsite de ofertas.
Forte desaceleração
Empresas aéreas: aposta no crescimento da demanda doméstica
Não se sabe ainda qual é o impacto real da crise internacional no setor de aviação brasileiro. Mas os primeiros sinais apareceram nos dados consolidados de 2008 divulgados pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Enquanto a taxa de crescimento registrada até agosto era de 10% ante 2007, o mercado perdeu voo e fechou o ano com 7,4%. Desde 2003, o setor não registrava crescimento abaixo de dois dígitos. Para 2009, a previsão de Solange Paiva Vieira, presidente da Anac, é de expansão de 4%. ;O faturamento das nossas empresas, o grande grosso dele, vem do mercado doméstico. Então, é só uma questão de elas redimensionarem o tamanho da frota;, afirmou.
José Márcio Mollo, presidente do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), observa que, quando a economia está crescendo, o setor aéreo cresce o dobro, mas em um cenário de desaceleração, ele é o primeiro a sentir. ;A crise só se agravou em outubro, mas neste mês já tivemos tráfego negativo. O setor aéreo reflete o que vai acontecer, sobretudo pela redução do ritmo de viagens de negócios;, ressalta. ;Agora ainda temos um movimento de férias e de carnaval, mas depois disso não sabemos o que vai acontecer;, alerta.
Simone Escudêro, diretora de Projetos e Estudos de Mercado da All Consulting, também prevê um 2009 difícil. ;A crise vai afetar vários setores e o de transporte aéreo depende do desempenho da produção industrial, do câmbio e do preço do barril de petróleo. São muitas variáveis;, comenta.
As companhias, porém, mantêm os planos de investimentos para 2009. Segundo Pedro Janot, presidente da Azul, a empresa, que hoje tem cinco aeronaves, chegará ao fim do ano com 16. O número de destinos atendidos passará de quatro para 22 e as rotas de 12 para 35. Evaristo Mascarenhas de Paula, diretor de Vendas e Marketing da Trip, diz que a companhia também mantém o plano de crescimento de 70% ao ano.
A TAM estima para 2009 crescimento de 5% a 9% na demanda do mercado doméstico, com manutenção de uma taxa de ocupação total de 70%. A companhia informou que planeja o lançamento de uma nova frequência ou destino internacional em 2009. A GOL mantém a previsão de aumento de 6% para toda a indústria aérea em 2009. A empresa pretende fazer acordos com outras companhias internacionais para aumentar a demanda. (KM )