postado em 18/01/2009 09:08
Considerado uma espécie de locomotiva sem freios até o estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos, o agronegócio brasileiro vai sentir como poucos os efeitos da crise mundial em 2009. Com as cotações internacionais em queda livre, além das incertezas em relação ao comportamento da demanda, o apetite exportador do campo será atingido em cheio. Previsões nada animadoras estimam receitas menores no embarque de produtos que são as estrelas das lavouras e também da balança comercial. Há quem aposte que o agronegócio perderá, em breve, a condição de protagonista para passar a mero coadjuvante das trocas entre o Brasil e outros mercados.
Levando em consideração a tendência firmada nas últimas semanas, a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) fez projeções dos preços dos itens cotados em bolsa e de volume de vendas do país. Das principais matérias-primas agrícolas, só o grupo açúcar deve ter aumento de preços e das receitas com as vendas (veja quadro). ;A crise internacional vai afetar duplamente as exportações brasileiras de produtos agrícolas. A demanda menor dos países desenvolvidos vai deprimir os preços das commodities e também a quantidade vendida;, avalia o vice-presidente da AEB, José Augusto de Castro.
Ainda conforme análise da AEB, a soja terá um ano bastante difícil pela frente ; agravado por problemas de clima no Sul e queda na produção. Todos os produtos desse grupo devem sofrer redução no faturamento com exportações. O Brasil, maior exportador do grão, também tem participações globais nos mercados de farelo e óleo, o que agrava a situação. Em média, o país exporta 40% do que produz, comprovando o quanto esse segmento depende do comércio exterior. ;Ou seja, a situação para o agregado das exportações brasileiras será pior ainda por causa da queda na safra de soja, um produto essencial na nossa pauta;, explica Castro.
O desaquecimento econômico provocado pelas turbulências financeiras ainda infligirá ao comércio exterior brasileiro um prejuízo indireto. Países muito expostos a commodities terão uma renda menor neste ano para comprar produtos importados. Dessa forma, também precisarão reduzir suas compras para não desequilibrar o próprio saldo no balanço de pagamentos. Com isso, por exemplo, os pecuaristas nacionais verão os embarques para a Rússia minguarem ; os russos dependem das receitas de petróleo, cujos preços despencaram com a crise.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) vê poucas chances de os ventos mudarem no curto prazo. Referência entre os grandes produtores, a entidade traçou vários cenários para o ano ; positivos e negativos ; como forma de orientar o campo na tomada de decisões em meio ao plantio da próxima safra. Todos os cenários possíveis indicam que o volume em dólares com as vendas de produtos agropecuários vai despencar. ;Não esperamos grandes reduções na quantidade, mas em receita, sim;, diz Matheus Zanella, assessor técnico entidade.
Fim da euforia
Depois de crescer com vigor ano após ano desde 2000, pela primeira vez, as exportações das commodities do campo vão render menos dinheiro. Em 2009, a previsão da CNA é que o Brasil alcance US$ 56,4 bilhões, total que nem de longe se compara aos robustos US$ 71,9 bilhões registrados no ano passado. Para Zanella, as maiores quedas serão puxadas por itens listados em bolsa, como soja e algodão. Outros itens, no entanto, devem pegar carona na desvalorização generalizada, só que em menor escala.
A recente valorização cambial, que poderia servir de alento ao produtor, nem de longe pode ser encarada como tábua de salvação. Isso porque os custos dentro e fora da porteira subiram como nunca. Fertilizantes, frete, crédito e praticamente todos os principais insumos dispararam no ano passado. O alto nível de endividamento do produtor também pesa contra. ;O câmbio em 2009 é mais aliado do que foi em 2008, mas isso não quer dizer muita coisa;, justifica Matheus Zanella.
Também devido ao peso dos produtos agrícolas no comércio internacional do Brasil, as exportações totais do país diminuirão 17,6% neste ano, de acordo com a AEB ; passando dos US$ 197,9 bilhões de 2008 para US$ 163,1 bilhões. No balanço de exportações e importações, o superávit deve cair pelo terceiro ano consecutivo, saindo dos US$ 24,7 bilhões de 2008 para US$ 17,1 bilhões neste ano. Os analistas ouvidos semanalmente pelo Banco Central esperam menos: US$ 14,5 bilhões. Fernando Muraro, analista da AgRural, afirma que será preciso ;remar nessa maré; por pelo menos mais dois anos.