Economia

Em Davos, EUA admitem rever cláusula protecionista em pacote econômico

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postado em 30/01/2009 18:55
O governo dos Estados Unidos afirmou nesta sexta-feira (30/01) que pode reconsiderar a polêmica cláusula chamada Compre América, incluída no novo pacote de estímulo à economia americana, por meio da qual se proibiria o uso de aço estrangeiro em grandes projetos de infraestrutura, anunciou um porta-voz da Casa Branca. "A administração está examinando essa cláusula", disse o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs. O pacote, de US$ 819 bilhões, foi aprovado quarta-feira pela Câmara dos Representantes americana - o plano ainda deve passar pelo Senado, onde Obama e os democratas têm a maioria, mas eles ainda precisam de dois votos (chegando a 60). O Compre América foi incluído dentro de um projeto de lei de cerca de 650 páginas. A cláusula, segundo os especialistas, prejudicaria não apenas os europeus, mas principalmente o Brasil - o maior exportador de ferro e um dos maiores exportadores de aço do mundo. O Brasil exportou US$ 1,296 bilhão em produtos siderúrgicos para os EUA em 2007, o equivalente a 19,6% das vendas externas do setor no período, segundo o Ministério de Minas e Energia. Os números de 2008 ainda não foram fechados. O projeto de lei aprovado pela Câmara proíbe que os fundos previstos para o plano de retomada sejam aplicados em projetos de infraestrutura "a menos que todo o ferro e o aço utilizados (nestes projetos) sejam produzidos nos Estados Unidos". O texto prevê exceções no caso de esta disposição "ser contra o interesse público", ou se não houver aço e ferro de qualidade satisfatória suficientes, ou ainda se os recursos aos únicos produtos americanos aumentarem o custo de um projeto em mais de 25%. Críticas Sobre "decisões protecionistas", o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Celso Amorim, fez um apelo hoje no Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça), pela conclusão da Rodada Doha e pediu ainda que os países não recorram ao "instinto protecionista", o que, segundo ele pode aniquilar os países pobres. "Não há como evitar medidas protecionistas num sistema que não esteja progredindo, pois o instinto [em situações de crise] não é favorável ao livre comércio. É ser protecionista´, afirmou. Se o mundo entra nessa vertente, os países pobres se verão prejudicados, por falta de condições de enfrentar esse nacionalismo econômico", disse Amorim. Também em Davos, a Europa contestou a cláusula em favor da compra de produtos americanos prevista no plano do presidente Barack Obama. A comissária europeia do Comércio, Catherine Ashton, manifestou preocupação. "Estamos examinando a situação. Ainda é cedo para se pronunciar sobre este texto, antes de ter sua versão final", indicou seu porta-voz, Peter Power, em Bruxelas. "Entretanto, há uma coisa da qual estamos absolutamente certos, é que se uma lei for votada e ela proibir a venda ou a compra de produtos europeus no território americano, não poderemos ignorá-la e ficar de braços cruzados", disse Power. Durante sua campanha, Obama defendeu uma renegociação dos acordos de livre comércio assinados pelos Estados Unidos, lançando temores no exterior de uma volta do protecionismo da primeira economia mundial.

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