Economia

Crédito escasso e clima adverso provocam perdas no campo

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postado em 06/02/2009 08:00
Não bastassem os problemas de crédito causados pela crise financeira internacional, o clima instável em algumas regiões do país contribui para derrubar ainda mais as expectativas do campo. Levantamentos elaborados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados ontem, apontam para quedas expressivas na produção de grãos neste ano, o que preocupa o governo e os produtores de um modo geral. As estimativas oficiais para a safra 2009, que já chegaram a 144 milhões de toneladas, agora situam-se na casa das 134 milhões de toneladas. Para a Conab, o saldo em volume significa um recuo de 6,5% em relação ao período anterior. Nas contas do IBGE, o tombo é de 7,6%. Em franca deterioração desde as primeiras pesquisas nas lavouras realizadas no ano passado, ambos os cenários tendem a piorar ao longo dos próximos meses. ;Esperamos uma queda em torno de 8% ao fim do ano, mas mesmo assim o Brasil terá sua segunda melhor safra de grãos da história;, minimizou o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes. No ano passado, segundo a Conab, a colheita foi de 144,1 milhões de toneladas, enquanto que para o IBGE o número final foi de 145,8 milhões de toneladas. Em relação à área plantada, os dois órgãos identificaram pequenas expansões na comparação com o ano agrícola passado. As lavouras ocupam, conforme as perspectivas, um total de 47 milhões de hectares. De acordo com Stephanes, as condições de comercialização de alguns itens estão melhores do que no fim de 2008, o que anima uma parcela considerável dos empresários do campo. O ministro admitiu que é difícil fazer prognósticos precisos em meio às tantas turbulências externas, mas previu dias melhores para produtos como soja, açúcar e etanol. Até este mês, no entanto, o balanço é negativo para a maioria das culturas. A forte estiagem que castiga áreas de Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul compromete boa parte das plantações. Os produtores paranaenses são os mais prejudicados. A falta de chuvas fez cair em cerca de 40% a produtividade do milho e da soja no estado. No Rio Grande do Sul a estiagem também afeta o milho. Em Santa Catarina a escassez de chuvas atinge partes do estado, enquanto que em outras o problema é o excesso de água: os catarinenses registram perdas da ordem de 5% nas áreas ocupadas com arroz. Apesar de todos os contratempos, o governo descarta qualquer risco de desabastecimento. O Ministério da Agricultura informou que está preparado para intervir onde e quando for necessário, seja por meio de políticas públicas clássicas ; como a de preço mínimo para determinados produtos ;, seja na forma de medidas de emergência traçadas em conjunto com o Ministério da Fazenda e o Banco Central. Oscilações de preços, porém, podem ocorrer. Na avaliação do governo, é possível que grãos como milho e soja ; e consequentemente seus derivados ;, experimentem picos de valorização ao longo do ano. Agroindústria Em 2008, conforme dados do IBGE, a agroindústria brasileira cresceu 1,8%. Por causa do encolhimento dos mercados, esse ritmo de expansão acabou sendo bem menor do que aquele registrado em 2007 (5%). O segmento de insumos utilizados na agropecuária apresentou forte alta no ano passado, influenciado pelo crescimento das lavouras de soja, de cana-de-açúcar e de milho, mas também pela alta dos preços internacionais de quase todos os materiais utilizados para plantar ou criar. Na avaliação por trimestres, o IBGE registrou desacelerações nos segundo e terceiro trimestres, e queda no quarto trimestre do ano passado (-3,1%).
Lula quer três turnos O presidente Luiz Inácio Lula da Silva orientou ministros a priorizarem contratos com dois ou três turnos de trabalho para a realizar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Ao inaugurar a Usina Hidrelétrica de São Salvador, no Rio Tocantins, ele disse que a medida aumentará a oferta de emprego especialmente para a mão-de-obra com menos qualificação. ;Neste começo de ano, que acho que será o período mais delicado, tenho pedido a meus ministros, a governadores e prefeitos, que nos contratos das obras de infraestrutura, priorizem dois ou três turnos;, disse. A uma plateia de 150 pessoas, incluindo funcionários da usina e empresários, ele propôs que as empresas definam turnos das 6 às 14 horas e das 14 às 22 horas. ;O que precisamos é aumentar a oferta de emprego;, disse. ;Se fizermos isso, vamos ter um patamar diferente;. De acordo com a Odebrecht, líder do consórcio que tocou a obra, a usina de São Salvador, com 243 MW de potência, é a primeira hidrelétrica do PAC a ficar pronta. Os investimentos, da ordem de R$ 850 milhões. Lula afirmou que tem por missão elevar a autoestima da população. Lembrou que, nos anos de sindicalismo, nas décadas de 70 e 80, atuava para que os trabalhadores não desanimassem em meio a um cenário de recessão e desemprego. ;Eu ia para porta de fábrica quando estava tudo muito difícil para levantar o moral da tropa, até para que se ela tivesse que voltar a trabalhar, voltasse de cabeça erguida e não como se estivesse rendida diante do fracasso;, completou. ;Me sinto hoje o levantador de moral em função da crise econômica que se abateu desde setembro.; O presidente voltou a fazer um apelo para que os empresários mantenham os projetos. ;Façam seus investimentos porque dinheiro temos para financiar;, afirmou. Lula também pediu que os consumidores não deixem de comprar. ;Troquem suas meias, seus sapatos e seu carro.; Lula comparou o momento atual ao período do governo do seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. ;Hoje, só o Banco do Brasil tem disponível para crédito a mesma quantia que o Brasil todo tinha em 2002;, afirmou. ;Não há nenhuma razão para termos medo dessa crise.; Estados Unidos Lula não esconde a ansiedade com novas medidas do governo dos EUA para combater a crise financeira e reconhece as dificuldades enfrentadas pelo presidente Barack Obama. ;Confesso a vocês que, embora seja muito importante ser presidente dos Estados Unidos, acho que nosso querido companheiro Obama está com um pepinaço na mão;, disse. ;Rezo para ele mais do que para mim, para que consiga encontrar uma saída para os Estados Unidos e, quem sabe, isso ajude a resolver o problema de outros países.; Ele disse que o Brasil depende das medidas tomadas pelos Estados Unidos e pela União Europeia para sair da crise financeira. ;Obviamente vai depender muito do que fizerem os americanos daqui para frente, um pouco do que fizer a União Europeia daqui para frente, porque embora o Brasil tenha política de balança comercial muito diversificada, nossos compradores dependem muito do que exportam", avaliou.
Empresas em apuros A dificuldade na gestão financeira das empresas, sobretudo no último trimestre de 2008, levou o número de pedidos de recuperação judicial em janeiro a aumentar cinco vezes em relação a igual mês do ano passado. De acordo com a Serasa, 75 empresas fizeram a solicitação em todo o país, número que vem crescendo desde novembro, quando foram registrados 39. Em dezembro, foram 46 pedidos. Na análise do assessor econômico da Serasa, Carlos Henrique de Almeida, a menor oferta de crédito nos mercados doméstico e externo, os juros elevados e o aumento da inadimplência do consumidor afetaram a rentabilidade das empresas. Em janeiro, foram aceitos 40 pedidos de recuperação judiciais e quatro foram concedidos, enquanto no mesmo período do ano passado houve dez pedidos aceitos e uma concessão. Já o volume de falências requeridas iniciou 2009 apresentando queda de 10,1%, com 124 pedidos em janeiro, contra 138 no mesmo período do ano passado. Segundo Almeida, esse comportamento vem sendo visto desde a aplicação da nova Lei de Recuperação de Empresas, de junho de 2005, que estabeleceu um patamar mínimo de cobrança de 40 salários mínimos para que se seja feito o pedido de falência. Indústria Os dados regionais da indústria confirmam que houve um tombo generalizado do setor em dezembro, segundo observou a economista da coordenação de indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Isabella Nunes. Houve recuo na produção, ante dezembro de 2007, em 13 dos 14 locais pesquisados. Segundo ela, não houve registro de uma queda tão generalizada por regiões na indústria em um mês, ante igual período de ano anterior, desde março de 1996. Isabella explicou que São Paulo registrou queda de 14,5% na produção ante dezembro de 2007, o pior resultado desde março de 2006, porque a região abriga não apenas indústrias de automóveis, mas fornecedores de toda a cadeia automotiva. As principais pressões de queda na indústria paulista em dezembro foram dadas por veículos automotores (-44,2%, inclui automóveis e autopeças), material eletrônico e de comunicações (-60,5%) e máquinas e equipamentos (-27,7%). Os três estados que apresentaram maior desaceleração nos resultados na passagem do terceiro para o quarto trimestre, que são Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo, têm nas suas indústrias peso forte do setor automobilístico ou de commodities exportadoras, como minério de ferro e aço. No caso das indústrias mineira (-27,1%) e capixaba (-29,6%), os resultados de dezembro, ante igual mês do ano anterior, foram os piores apurados pelo IBGE desde o início da série histórica da pesquisa, em 1991.

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