postado em 10/02/2009 08:00
A exemplo do que ocorreu com a produção no fim do ano passado, o emprego nas fábricas também perdeu terreno à medida em que a crise mundial mostrava suas garras. Em dezembro, o nÃvel de ocupação nas indústrias caiu pela terceira vez consecutiva, recuando 1,8% na comparação com novembro. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e EstatÃstica (IBGE), que divulgou os dados ontem, essa é a maior retração desde 2001. Em relação a dezembro de 2007 ; depois de uma sequência de 29 meses de crescimento ;, a taxa de pessoal ocupado fechou no vermelho e caiu 1,1%.
No encerramento de 2008, o contingente de trabalhadores ocupados registrou alta de 2,1%, resultado quase idêntico ao apurado em 2007 (2,2%). Por estados, destacaram-se São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Na avaliação setorial, os carros-chefes foram máquinas e equipamentos, meios de transporte, máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações e alimentos e bebidas. Vale observar, no entanto, que o desempenho da indústria no ano passado teve dois momentos distintos: de janeiro até setembro, quando a turbulência externa ainda não havia desembarcado no Brasil, e entre outubro e dezembro, perÃodo marcado por fortes impactos negativos.
As estatÃsticas tabuladas pelo IBGE (veja quadro) mostram que o ritmo de expansão de alguns setores da economia, e de deterioração de outros, ficou evidente dependendo do mês analisado ao longo de 2008. Até setembro, por exemplo, os resultados da indústria apontavam para recordes positivos. No último trimestre do ano passado, entretanto, a maré virou e o setor fabril acabou amargando uma série de resultados ruins, fruto da desaceleração motivada pela crise internacional, que começou nos bancos americanos e, rapidamente, se espalhou pelo resto do planeta. A soma dos resultados de outubro, novembro e dezembro (-2,5%) comprova que o tombo do emprego industrial foi dos grandes.
Isabella Nunes, economista que integra a coordenação da pesquisa realizada pelo IBGE, explicou que os resultados indicam que o emprego apenas reagiu aos choques promovidos nas linhas de produção. ;O emprego está sempre respondendo a uma situação. Ou para cima ou para baixo. É uma resposta à redução da atividade;, disse. Segundo ela, os setores que mais reduziram o ritmo no ano passado foram ; não por coincidência ; os que mais desempregaram ou concederam férias coletivas aos trabalhadores. ;Em meios de transporte, máquinas e equipamentos, materiais eletrônicos houve essa tendência;, completou a especialista.
O agressivo ajuste implementado pelas indústrias, principalmente no ramo automobilÃstico, fez com que o número de horas pagas aos trabalhadores da indústria, em dezembro, caÃsse 1,7% na comparação com o mês imediatamente anterior. Em relação a dezembro de 2007, a queda foi de 1,8% ; menor taxa, de acordo com o IBGE, desde dezembro de 2003. Por esse motivo, no acumulado de 2008, o indicador registrou avanço de 1,9%, saldo que poderia ter sido pelo menos o dobro não fossem os efeitos perversos da crise sobre as companhias. ;A mudança do quadro macroeconômico a partir de setembro teve impactos negativos sobre a atividade industrial e, consequentemente, sobre o número de horas pagas e o emprego. A desaceleração nestes indicadores ficou evidente nas comparações mensal e trimestrais, com reflexos no fechamento do ano;, assinalou o IBGE.
Igualmente atingida pela redução de fôlego das fábricas, em dezembro, a folha de pagamento real na indústria perdeu 0,7% em valor, ante novembro de 2008 ; terceira queda seguida. No confronto com igual perÃodo de 2007 houve avanço de 4,1%, o que contribuiu de maneira decisiva para que o montante de pagamento real em 2008 fechasse em 6% no acumulado no ano. Análise do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) sobre os resultados divulgados pelo IBGE indica que ;a crise internacional já está tendo um custo para a economia brasileira;. ;Os últimos três meses de 2008 (sobretudo o mês de dezembro) causaram um acentuado revés no nÃvel de emprego, levando-o para o patamar de abril de 2007;, resumiu a entidade.
Apreensão
Um indicador anunciado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que o setor produtivo está paralisado diante da crise, com impacto negativo para novos investimentos. O Sensor Econômico, que passará a ser divulgado mensalmente, ficou em 9,78 em janeiro, numa escala que vai de 100 (otimismo) a -100 (pessimismo). Pela metodologia, 9,78 significa apreensão. Segundo a pesquisa, a indústria é o setor mais pessimista em relação aos próximos 12 meses, mas há maior confiança em comércio e serviços.

Demissões e férias coletivas 9 de fevereiro A Citrosuco, segunda maior processadora de suco de laranja do mundo, anuncia o encerramento da produção em Bebedouro (SP), com a demissão de 208 funcionários. 7 de fevereiro Mercedes-Benz dá férias coletivas para 7 mil funcionários da fábrica de São Bernardo do Campo por 10 dias. Perdigão dispensa 1.520 em Mato Grosso do Sul por 30 dias. 4 de fevereiro Fiat põe 5 mil empregados em férias coletivas de duas semanas. Perdigão anuncia férias coletivas para 2.780 empregados no Rio Grande do Sul. 2 de fevereiro A petroquÃmica Quattor anuncia a demissão de 63 trabalhadores, 45 deles do polo de Capuava, no ABC paulista. 28 de janeiro Banco Panamericano anuncia 370 demissões de empregados e prevê a dispensa de 867 prestadores de serviço. Os 800 funcionários da Valeo Sistemas Automotivos, em São Paulo, têm jornada de trabalho reduzidas por três meses em troca de estabilidade por quatro meses e meio. 27 de janeiro Volkswagen Caminhões prorroga férias coletivas de 23 de fevereiro a 5 de março. 22 de janeiro Fiat anuncia férias coletivas para 800 empregados por 10 dias. 21 de janeiro Sadia dispensa 350 empregados em oito estados. Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) demite 500 funcionários desde dezembro. General Motors anuncia licença remunerada de 1.633 trabalhadores temporários em São Caetano do Sul. 15 de janeiro Suzano contabiliza 180 demissões: 110 em São Paulo e 70 na Bahia. Votorantim concede férias coletivas a 200 funcionários em Juiz de Fora. Belgo Bekaert negocia a suspensão do contrato de 1,6 mil empregados por cinco meses. Na Volks, 350 funcionários aderem ao programa de demissão voluntária. Lanxess, indústria quÃmica, anuncia o desligamento de 400 empregados. 20 de dezembro A fábrica de ônibus, Marco Polo dispensa 1,8 mil funcionários por duas semanas. 16 de dezembro CSN concede férias coletivas de 20 dias para 2,5 mil empregados. 15 de dezembro Eletrolux dispensa 3 mil funcionários. 6 de dezembro Vale fecha a usina de extração de ferro de Itabira (MG) (foto) e coloca 400 empregados em férias coletivas. 4 de dezembro Vale elimina 1,3 mil empregos e concede férias coletivas a 5,5 mil. A gigante AT; anuncia demissão de 12 mil em 2009. 27 de novembro Belgo deu férias coletivas a 390 funcionários. 14 de novembro Invicta Vigorelli Metalúrgica, de Limeira (SP), dispensou 200 funcionários. Crocs decide fechar a fábrica no Brasil e dispensa 55 funcionários. 12 de novembro Fiat anuncia férias coletivas para 3 mil em Betim (MG). Ford antecipa as férias coletivas de 10 dias para 1.580 fucionários.