postado em 18/02/2009 08:00
A crise financeira internacional atrapalhou o desempenho do varejo em dezembro do ano passado e pelo terceiro mês consecutivo o comércio apresentou queda. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e EstatÃstica (IBGE), as vendas foram 0,3% menores que em novembro. Em relação a dezembro de 2007, houve um salto de 3,9%, pior resultado para esse perÃodo desde 2003, quando a expansão foi de 3,2%. Na Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) referente a janeiro, no entanto, os números devem se mostrar mais coloridos com uma tendência a mudar de trajetória no começo de 2009, avalia o professor Nuno Fouto, do Programa de Administração do Varejo (Provar) da Fundação Instituto de Administração (FIA) e da Universidade de São Paulo (USP).
As mudanças no cenário internacional levaram muitos consumidores a alterar o comportamento ao ir à s compras. ;As pessoas mudaram a forma de gastar, estão mais ancoradas nas notÃcias que nos fatos;, diz Fouto. ;Muitos postergaram as aquisições de novos produtos esperando as promoções do começo do ano;, acrescenta. Essa corrida pelos descontos vai ajudar a melhorar os indicadores do comércio em janeiro. Carlos Thadeu, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), acredita que as promoções serão fortes aliadas dos lojistas. ;As liquidações e a queda no preço de muitos alimentos vão ajudar o comércio a apresentar bons resultados no começo de 2009;, prevê.
O crédito, entretanto, continuará sendo uma pedra no sapato dos empresários, explica Thadeu, ;As vendas de bens de consumo duráveis foram as mais afetadas e como o crédito vai seguir afetando, podemos ter uma desaceleração do crescimento;, afirma. Mesmo que em velocidade melhor, Thadeu não descarta uma expansão do comércio em 2009. ;Creio que fecharemos o ano entre 2% e 3,5% acima;, projeta.
Para o economista Reinaldo Pereira, da coordenação de comércio e serviços do IBGE, a mudança na alÃquota do Imposto de Renda em janeiro vai contribuir para aumentar a renda das pessoas e pode favorecer o comércio. As ações tomadas pelo governo devem ajudar a melhorar a situação do varejo no paÃs. Na opinião de Fouto, no entanto, a redução da taxa básica de juros para 12,75% ao ano não deve ser tão poderosa a ponto de levar consumidores à s compras. ;Essa queda não anula o efeito do risco;, analisa o professor.
Expansão menor
A pisada no freio no último trimestre do ano não permitiu que o comércio registrasse expansão recorde do volume de vendas em 2008. Com o desempenho mais baixo nos últimos três meses, o crescimento não atingiu a casa dos 10% como vinha acontecendo até setembro, mas mesmo assim foi alto: 9,1% ante 2007. O indicador ficou abaixo do verificado em 2007, quando as vendas subiram 9,7% em relação ao ano anterior.
Até a divulgação dos dados de setembro, o comércio varejista somava aumento de 10,4% nas vendas em comparação com os mesmos meses de 2007. ;Se não houvesse a crise, o crescimento das vendas seria superior ao de 2007;, afirma Pereira. No último trimestre do ano passado, a queda acumulada foi de 2,3% em comparação com o terceiro trimestre. Em relação a igual perÃodo do ano anterior, houve expansão de 6%, o que mostra que esse foi o pior quarto trimestre desde 2005.
Entre as atividades listadas pelo IBGE, equipamentos e materiais para escritório apresentaram a maior alta: 33,5% no ano (veja quadro). Em segundo lugar ficaram os artigos farmacêuticos, medicamentos ortopédicos e de perfumaria, cujas cresceram 13,3%. Supermercados e hipermercados registraram variação de 5,3%, abaixo da média do varejo nacional. Tecidos, vestuário e calçados tiveram aumento de 4,9% mesmo com a queda de 6,3% em dezembro em comparação com novembro. VeÃculos, que fazem parte do varejo ampliado, mesmo com o problema de crédito dispararam 11,9%.
Ligeira alta no calote A inadimplência no comércio do Distrito Federal foi de 4,8% em janeiro, segundo levantamento do banco de dados da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), que administra o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). O Ãndice foi maior que o verificado em dezembro, de 4,6%, e menor que o de janeiro de 2007, de 4,9%. Segundo o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Vicente Estevanato, é comum a inadimplência aumentar no começo do ano. ;Em novembro e dezembro, as pessoas saem à s compras e em janeiro viajam de férias. Acabam perdendo o controle das finanças;, diz. Para Estevanato, a pequena queda em relação a 2007 pode ser atribuÃda ao aumento das vendas à vista no fim do ano. De acordo com a CDL, 135 mil e 419 pessoas tiveram o nome incluÃdo no SPC e 129 mil e 217 pessoas foram excluÃdas do cadastro de inadimplentes em janeiro no Distrito Federal.
Crescimento de 3,9% no DF Os consumidores brasilienses têm a maior renda per capita do paÃs, mas mesmo assim não garantiram resultados espetaculares ao comércio do Distrito Federal. O varejo local registrou queda de 2,1% em dezembro, quando comparado ao mesmo mês de 2007. No ano, houve crescimento de 3,9%, número bem aquém do registrado no paÃs, de 9,1%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e EstatÃstica (IBGE). No cálculo do varejo ampliado, que inclui materiais de construção e veÃculos, a expansão foi ainda mais modesta: 0,7% ante 9,9% da média nacional. O baixo desempenho do DF foi puxado por dois segmentos do comércio: veÃculos, motos, partes e peças e supermercados e hipermercados. O primeiro grupo apresentou redução de 11,5% nas vendas de dezembro em comparação com igual mês do ano anterior. Em 2008, a queda foi de 4,8%. O setor de supermercados e hipermercados teve redução de 4,2% nas vendas em dezembro ante o mesmo mês de 2007 e fechou o ano com variação negativa de 2,9%. O número pegou a Associação dos Supermercados de BrasÃlia (Asbra) de surpresa. Segundo o superintendente da entidade, Antônio Tolentino, o ano foi bom para o setor. De acordo com o economista Reinaldo Pereira, do IBGE, das 12 unidades da federação que têm os dados abertos pelo instituto, apenas Goiás e DF apresentaram dados negativos para as vendas dos hipermercados. O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Vicente Estrevanato, também se diz surpreso com os dados do IBGE. ;Projetávamos um crescimento entre 9% e 10%, vamos ter de nos debruçar sobre os números da pesquisa e ver o que aconteceu;, afirma. Para 2009, Estevanato projeta uma expansão entre 4% e 5% mesmo com a crise. ;Tudo vai depender do comportamento do consumidor nas datas especiais como o dia das mães, pais, namorados e do custo do crédito;, diz. (LN)