postado em 20/02/2009 16:26
Por considerarem ilegal a demissão de 4,2 mil trabalhadores na fábrica da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) em São José dos Campos (SP), a Força Sindical, a Conlutas, a Federação dos Metalúrgicos do Estado de São Paulo e os Sindicatos dos Metalúrgicos de São José dos Campos, de Botucatu e de Gavião Peixoto entrarão na próxima quarta-feira (25) com ação judicial no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de Campinas.
As centrais informaram que vão pedir ao TRT que reconheça a ilegalidade das demissões, que foram feitas sem que a empresa tentasse negociar com o sindicato e os funcionários. As entidades vão também cobrar responsabilidade social da Embraer perante seus funcionários.
Hoje (20), em entrevista coletiva, representantes do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região lembraram que há dois meses o sindicato procura a empresa para tentar discutir a situação. Segundo os sindicalistas, a própria empresa teria garantido que não haveria demissões. As demissões vêm ocorrendo desde o ano passado e, somadas s 4,2 mil de ontem (19), são cerca de 5 mil postos de trabalho a menos.
A alegação da Embraer é a crise na economia. No entanto, ela não tomou nenhuma medida alternativa [férias coletivas, licença remunerada] para tentar evitar as demissões. Tampouco aceitou nenhuma das várias propostas de reunião feitas pelo sindicato nos últimos meses, para discutir a situação, diz nota do sindicato.
Conforme o comunicado, não há motivos para demissão de funcionários, já que, no ano passado, a Embraer bateu recorde de produção e venda de aeronaves, obtendo rentabilidade recorde nos últimos anos. De acordo com a própria empresa, ela reviu para baixo a produção em 2009, para um total de 246 aeronaves no ano. Vejam o absurdo: no ano de 2008, quando ela bateu recorde de produção, o número de aeronaves fabricadas foi 204. Ou seja, mesmo na crise, o número de pedidos que a empresa tem é maior que o do ano anterior.
Os sindicatos informaram também que cobrarão algum tipo de responsabilidade do governo federal, já que há mais de dois meses vem tentando marcar uma audiência na Presidência da República para tratar do que, até então, eram ameaças de demissão na fábrica. Queremos do governo uma medida concreta, que emergencialmente edite uma medida provisória garantindo estabilidade no emprego para todos os trabalhadores. O presidente do sindicato, Adilson dos Santos, e o secretário-geral da entidade, Luiz Carlos Prates, viajaram a Brasília para tentar uma audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Enquanto isso, os sindicalistas prometem continuar a campanha de mobilização para tentar reverter as demissões. Entre as ações estão a continuidade de uma abertura de diálogo entre a empresa e o sindicato e a participação da Justiça do Trabalho. Queremos a readmissão imediata dos trabalhadores, a estabilidade no emprego para todos os funcionários e a redução da jornada de trabalho, sem redução de salários e direitos, diz ainda a nota do sindicato.
Entre os funcionários demitidos pela Embraer a sensação é de tristeza e dúvida quanto ao futuro. Há 11 anos na empresa, o montador de estrutura adaptável, Luciano de Paulo Nogueira, 35 anos, voltou dos seus 30 dias de férias e se deparou com a surpresa da demissão. Ele contou que ao chegar no primeiro turno de trabalho já teve a notícia em uma reunião com o supervisor que entregou a carta de demissão a ele e a diversos colegas de seu grupo e de outras equipes.
Fiquei espantado, porque não sabia de nada que estava acontecendo na empresa. Havia boatos de corte, mas a própria empresa desmentiu esses boatos, mesmo demonstrando que a empresa já não ia bem desde setembro. Eles disseram que o momento era turbulento, mas que não devíamos nos preocupar com as notícias que saíam na imprensa sobre demissão em massa na Embraer, afirmo Nogueira.
Ele disse que, além de ter uma função muito específica, sofre com uma lesão provocada pelo trabalho, o que já o tinha desviado de sua função dentro da fábrica. Com isso, a dificuldade para conseguir outra vaga de trabalho aumenta porque, além disso, o salário é diferenciado do de outras funções. Assim como eu, pelo menos 20 colegas lesionados estão na rua. E há um colega, que faz tratamento contra câncer, ficou sem emprego e sem ter como se tratar.
Nogueira espera que as autoridades das três esferas de governo consigam interferir na questão e encontrar uma solução para as demissões. Espero que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não seja omisso, que faça alguma coisa pelos trabalhadores assim com fez pela empresa quando ela precisou de financiamentos.