postado em 21/02/2009 09:38
A mudança no cenário econômico internacional e as repercussões em solo brasileiro dispararam os números do desemprego no paÃs. De acordo com pesquisa realizada mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e EstatÃstica (IBGE), a taxa de desocupação em janeiro foi de 8,2%, a maior desde abril do ano passado. O número de desempregados foi de 1,9 milhão, 20,6% a mais que em dezembro. Segundo o IBGE, a variação negativa entre dezembro e janeiro foi a mais alta para este perÃodo desde o inÃcio da série histórica, em março de 2002.
Segundo Maria Lúcia Vieira, técnica do IBGE, é comum que o desemprego suba em janeiro se comparado a dezembro, mas o aumento deste ano foi mais forte que o esperado. ;Quando a economia está aquecida, parte dos temporários contratados no fim do ano acabam sendo mantidos, mas com a má fase da economia mundial nem os trabalhadores efetivos foram poupados;, avaliou a especialista.
Nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE ; Salvador, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre ;, o número de trabalhadores ocupados somou 21,2 milhões, 1,6% a menos que em dezembro. Em relação a janeiro de 2008, no entanto, houve uma expansão de 1,9%, ou seja, 385 mil pessoas a mais com vagas no mercado. O número de empregados com carteira assinada foi de 9,5 milhões, uma queda de 1,3% em comparação a dezembro e uma alta de 4,5% na comparação anual.
Entre os setores que demitiram estão o comércio e a construção civil, cujas reduções foram de 2,5% e 4,7%, respectivamente. O emprego na indústria permaneceu praticamente estável (-0,2%) se comparado com dezembro do ano passado, a menor taxa de variação para janeiro. De acordo com o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o resultado pode ser relativizado, tendo em vista que, ;em dezembro frente a novembro, o emprego na indústria caiu 2,4%. Ou seja, o número de ocupados que serviu de base de comparação para calcular a variação de janeiro estava em um nÃvel baixo no último mês de 2008;, afirmou a instituição em nota.
Em nenhuma das regiões pesquisadas houve uma alteração significativa da população ocupada no setor industrial em janeiro frente a dezembro. A maior variação ocorreu em São Paulo, onde o número de empregados na indústria foi de 20,8% das pessoas ocupadas, 0,8 ponto percentual acima de dezembro do ano passado. Ao comparar o primeiro mês de 2009 e 2008, a diferença é maior em Salvador, onde os trabalhadores da indústria representaram 9,7% dos ocupados, 2,5 ponto percentual a menos.
Quase todos os setores analisados ficaram estáveis em janeiro em relação ao mesmo mês de 2008. Apenas o grupo educação, saúde, serviços sociais, administração pública, defesa e seguridade social apresentou elevação no número de vagas.
Renda
O rendimento médio real foi de R$ 1.318,70, 2,2% a mais que em dezembro e 5,9% superior a janeiro de 2008. A renda média domiciliar per capita ficou em R$ 840,62, 1,7% acima de dezembro e 6,4% a mais que em dezembro. A massa de rendimento real efetivo dos ocupados de dezembro de 2008, ou seja, a soma de todo o dinheiro recebido pelos trabalhadores, foi de R$ 35 bilhões, 17,6% a mais que em novembro e 7,1% na comparação com dezembro de 2007.
Construção em queda
Pelos números do Instituto Brasileiro de Geografia e EstatÃstica (IBGE), a crise pegou a construção civil em cheio e provocou a redução de 75 mil vagas. Entre dezembro e janeiro, a queda do emprego no setor foi de 4,7%, a maior variação nessa base de comparação desde o inÃcio da série histórica.
Para o presidente da Câmara Brasileira da Construção Civil (Cbic), Paulo Safady Simão, o levantamento sobre emprego do IBGE é limitado ; aborda seis regiões metropolitanas ; e, por isso, não representa adequadamente a realidade como os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho . ;Em janeiro, segundo o Caged, o setor foi responsável pela criação de 11,7 mil vagas de trabalho enquanto as demais áreas estão demitindo;, ponderou.
;São Paulo pesou muito nos números do IBGE, o que já era esperado. É lá que estão as maiores empresas, as mais importantes, as que estão sendo afetadas diretamente;, completou. A apuração do IBGE, o emprego da construção civil em São Paulo recuou 7,1% com a eliminação de 45 mil postos de trabalho.
Apesar dos Ãndices negativos, o setor está otimista. ;Sabemos que não vamos crescer como ocorreu em 2008, mas vamos segurar a crise com força e não desanimar;, disse o presidente da Cbic. Ele acredita que as obras do governo federal serão uma resposta do estÃmulo da construção civil. ;A manutenção das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a preparação das cidades para a Copa do Mundo de 2014 são exemplos do que virá pela frente;, concluiu.
Novas demissões
A Coperfrango, maior cooperativa avÃcola de São Paulo, com sede em Descalvado, vai suspender suas atividades por conta da crise de liquidez. Por isso, comunicou ao sindicato local que vai demitir os cerca de 1,4 mil funcionários em suas cinco unidades. Com um faturamento de R$ 200 milhões em 2008, a empresa tem ainda 4,5 mil empregados indiretos. Responde, segundo a prefeitura local, por 33% do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) devolvido ao municÃpio de 32 mil habitantes, ou R$ 8,1 milhões.
O presidente da empresa, Carlos Garcia, disse que ;vai dar uma parada;, e culpou os jornalistas pela situação da Coperfrango. ;A imprensa, em vez de ajudar, atrapalha. Se não estivessem fazendo esse barulhão, a empresa estaria em outra situação;, disse antes de desligar o telefone. Segundo Orlando dos Santos, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Alimentação de Porto Ferreira e Região, que foi informado da decisão ontem, ;a Coperfrango só vai encerrar o abate de mais 800 mil frangos que estão nos alojamentos, o que deve ocorrer até o fim da próxima semana, antes fechar as portas e demitir todo mundo;, disse.
De acordo com o sindicalista, em uma assembleia, os trabalhadores da Coperfrango se dividiram em relação à decisão que irão tomar com as demissões. Metade pretende entrar com uma ação pedindo o confisco de imóveis da cooperativa para o pagamento de dÃvidas que incluem salários e futuras rescisões de contratos. ;Ao mesmo tempo os outros vão seguir a orientação de esperar, pois vamos entrar na Justiça com uma ação coletiva para garantir o pagamento das rescisões e esperar por uma reestruturação;, disse o presidente do sindicato.
Férias
A Volvo do Brasil, instalada na Cidade Industrial de Curitiba, concedeu férias coletivas para 700 trabalhadores do setor de caminhões pesados. Outros 400 que fabricam caminhões leves já estão em férias, devendo retornar em 9 de março. A Volvo foi a primeira entre as montadoras de Curitiba e região metropolitana a anunciar medidas em decorrência da crise econômica. Em 1º de dezembro de 2008, 430 funcionários foram demitidos. As férias coletivas devem-se à crise.
De acordo com a Federação Nacional da Distribuição de VeÃculos Automotores, em janeiro houve um decréscimo de 24,45% na venda de caminhões em comparação com dezembro de 2008. Para evitar que cortes fossem realizados, o Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba assinou um acordo com a Volvo, estabelecendo que a empresa manterá o nÃvel médio de emprego até 31 de maio. ;Mas entre nós foi acertado que não haverá demissões;, adiantou o vice-presidente do sindicato, Nelson Silva de Souza.