postado em 22/02/2009 08:56
Caneta e papel na mão. É exatamente assim que se começa a sair do sufoco das dívidas. Conhecer o quanto se deve e como encaixar os débitos no orçamento é a principal recomendação de consultores financeiros e dos órgãos de defesa do consumidor. O objetivo é promover uma dieta no bolso, cortar os gastos desnecessários, economizar para liquidar os problemas.
O Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo (Ibedec) alerta para o aumento de 50% nos pedidos de orientação dos consumidores endividados em 2008. ;A avalanche de crédito aumentou a capacidade de consumo e trouxe à tona um problema, a falta de educação financeira dos brasileiros;, afirma José Geraldo Tardin, presidente do Ibedec. ;As facilidades do crédito levam ao endividamento;, completa. O resultado desta ;bolha; aparece nas pesquisas de inadimplência: o volume de cheques devolvidos por falta de fundos no país cresceu 20,5% em janeiro ; comparado com o mesmo mês de 2008, segundo levantamento do Serasa. Frente a dezembro de 2008, foram devolvidos 13,4% mais cheques neste começo de ano.
Desafio
O Correio promoveu o encontro do consultor financeiro José Antônio Bastos e com a diarista Marizete Aparecida Barbosa, de 33 anos. Mãe de duas filhas e responsável pela sobrinha, Marizete tem rendimentos variáveis e o começo de ano não está dos melhores: a renda de R$ 1,2 mil caiu pela metade. Por esse motivo, as parcelas de um empréstimo de R$ 1 mil estão atrasadas e as prestações da máquina de lavar podem ir pelo mesmo caminho.
Com os dados, Bastos traçou um ;plano de fuga; para a diarista. ;Se seu salário é diferente em cada mês, você tem que guardar o máximo possível para as épocas em que estiver mais apertada;, disse o consultor. O primeiro passo foi listar as despesas básicas com alimentação, energia elétrica, supermercado. ;Minha casa é cedida então não pago aluguel, é uma despesa a menos;, conta Marizete.
O consultor constatou que o empréstimo adquirido por Marizete estava com juros muito alto e poderia ser negociado. ;Sei que você aceitou nove parcelas de R$ 180 mas converse com quem lhe emprestou e tente esticar o prazo sem aumentar os juros. Negocie e dê a garantia de que irá pagar;, sugere. José Antônio também recomendou que Marizete se esforce para não atrasar as parcelas de R$ 200 da máquina de lavar. ;Priorize a máquina, os juros são muito altos.;
Depois da aula de economia pessoal, a diarista garantiu que irá mudar de atitude: conversou com as filhas e a sobrinha, apresentou o problema e pediu colaboração. ;Não perdi tempo, acredito que vou sair dessa. Já comprei um caderno para anotar tudo o que gasto e controlar as despesas;, afirmou otimista.
A dica mais importante é evitar o endividamento. ;É preciso controlar os impulsos de comprar. Poupar dinheiro em vez de lançar mão de financiamentos;, diz Bastos. O consultor ressalta que existem ;dívidas boas;, os investimentos, como comprar um carro ou uma casa. Porém, se não houver um plano financeiro consistente, o que deveria ser um sonho, vira um pesadelo. ;Ter planos é muito saudável e importante só não se pode esquecer dos limites;, pondera.
Gente que pode ajudar
Os órgão de defesa do consumidor são pontos de apoio para os endividados tirarem dúvidas e reorganizar a vida financeira. Procon, Ibedec, Serasa e Conselho Regional de Economia (Corecon) estão de portas abertas. Não trazem a solução mas orientam os cidadãos sobre que caminho seguir.
O Ibedec, por exemplo, lançou uma cartilha na semana passada apontando as consequências de não se pagarem contas de diversos setores. O documento ; que está disponível no Ibedec e no Procon ; traz dicas e sugestões sobre como reverter a situação. ;Além de explicar sobre como agir diante de cada credor há modelos de como renegociar dívidas, pedir documentos e propor acordos;, detalha José Geraldo Tardin. ;Antes de qualquer coisa, dever não é o fim do mundo. Temos levantamentos que apontam que 10% da população brasileira está devendo uma ou mais parcelas de algum tipo de contrato;, informa.
No Procon-DF, as maiores demandas são de revisão de contratos. ;Não fazemos renegociações mas podemos traçar uma planilha dos débitos e auxiliar na intermediação;, explica Oswaldo Moraes, diretor de atendimento do órgão. Os campeões de procura são os contratos de compra de carro e faturas de cartões de crédito. ;Quando o consumidor compra um veículo, por exemplo, tem que tomar o cuidado de comprometer menos de 30% do orçamento para não correr riscos de deixar de pagar;, diz Moraes. No Serasa e no Corecon há profissionais que, gratuitamente, também ;traduzem; a linguagem dos contratos e ajudam na hora de traçar uma estratégia de liquidar estes problemas.
;Sem mudança de atitude fica muito difícil. O devedor deve ter certeza de que há uma saída e o certo é não ficar parado;, afirma Tardin. É importante saber que, mesmo inadimplente, todos estão amparados pelo Código de Defesa do Consumidor. ;Quem está devendo não pode ser expostos ao ridículo, a constrangimentos ou sofrer ameaças. As empresas não podem ligar no trabalho ou perturbar o cliente. A comunicação precisa ser feita por escrito;, explica Oswaldo Moraes, do Procon-DF.
Segundo Oswaldo, a inclusão do nome dos clientes nos órgãos de proteção ao crédito, como SPC e Serasa , só pode ser feita depois de prévio aviso. ;Do contrário, o credor está sujeito a implicações legais e processos;, diz. Ele também sugere que, caso as negociações diretas com as empresas não funcionem, pode-se recorrer ao judiciário. Para causas no valor inferior a 40 salários mínimos (R$ 18,6 mil) não é necessário constituir advogado e basta entrar no juizado de pequenas causas. Acima disso, somente na Justiça comum. (LN)