postado em 22/02/2009 14:10
Dependendo do tamanho da fome, comer é uma arte que pode custar barato. Alheio a crises financeiras, um tipo de fast-food de rua que já virou moda no Distrito Federal avança e se consolida como opção para quem tem pressa ou, simplesmente, quer gastar pouco. No Plano Piloto e nas cidades ao redor ; sempre muito bem localizados ; quiosques anunciam em letras garrafais todo tipo de massas, crepes, caldos e sanduíches. A clientela e o bolso agradecem.No Guará, bomba é sinônimo de lanche rápido a preço justo. O hambúrger acompanhado de queijo, presunto, salsicha, ovo, tomate e alface sai por apenas R$ 4 na versão combo, com direito a um copo de suco ou de refrigerante. ;É o carro-chefe da casa;, resume André Aparecido Alves Murici, proprietário do Boy`s Fast Food. De frente para um colégio e ao lado de um grande supermercado, a lanchonete é referência para jovens, casais e famílias. O dono não revela quanto vende, mas admite que há 12 anos, quando deu o pontapé inicial no negócio, não imaginava ir tão longe. ;Vendo mais do que o McDonald;s;, diz sorridente apontando para a loja da rede americana que fica a menos de 300 metros de seu quiosque.
O cardápio do Boy;s oferece cerca de 100 itens. O mais caro custa R$ 9. As 65 mesas estão cheias de segunda a segunda e o estabelecimento aceita até cartão. ;Eu quero os R$ 4 que estão no bolso das pessoas, mas se alguém quiser pagar R$ 1 no crédito eu aceito do mesmo jeito;, completa André, que acaba de inaugurar uma filial em Águas Claras. Marcelo Lopes Rodrigues, consumidor cativo, diz que preço e qualidade são fundamentais. ;Venho todo domingo;, revela. Na mesa, com o filho Thiago e o amigo Mauro de Andrade, ele conta que muita gente deixa de fazer comida em casa para comer no quiosque.
Custo baixo
A percepção é realista e vale não só para o tradicional sanduíche vendido no Guará. Em Taguatinga, as pessoas fazem fila na porta do Hot Dog do Miquéias. Os cinco tipos de cachorros-quentes são os preferidos. O preço? R$ 3,50. ;Vendo muito, por isso compro muito. Desse jeito consigo baixar o meu custo;, justifica o dono, Miquéias Fraga da Silva. Tanto rigor na escolha dos fornecedores permitiu não só a expansão do negócio, como seu incremento. Não por acaso, o hot dog mais conhecido da entrada de Taguatinga tem até drive-thru. ;Estacionar aqui é um pouco difícil. Decidi separar a estrutura para atender o pessoal. Deu certo;, completa o empresário. De dentro do veículo o cliente faz o pedido e o pagamento. A rotatividade impressiona e os elogios encorajam o dono a incorporar novos serviços à rotina da casa de lanches.
Como comercializam às centenas e, às vezes, até aos milhares, os donos de quiosques do DF ; ao menos aqueles mais bem-sucedidos ; conseguem derrubar os preços dos itens básicos que servem de matéria-prima para o sanduíche ou qualquer outro tipo de lanche rápido vendido na rua. Por isso, colocam na praça produtos tão baratos. A economia feita atrás do balcão chega a 30% ou 40% do que usualmente é o custo-padrão, por exemplo, de uma lanchonete no shopping. A concorrência incomoda as lojas e os restaurantes vizinhos, o que na opinião dos consumidores é uma vantagem.
O Macarrão na Rua, especializado em massas, deveria ter sido fundado no shopping ou em alguma comercial do Plano Piloto. ;Mas quando vi que seria muito caro, comecei com um reboque e um fusca mesmo;, lembra o dono, Ronaldo Camargo. Hoje, passados quase sete anos, a esquina da 205/206 Norte é a prova de que o destino nunca erra. Que o digam os clientes que lotam as mesinhas de plástico espalhadas na calçada e decoradas com velas ao centro.
O lugar é aconchegante. A programação cultural tem blues no DVD, música ao vivo quase sempre e pinturas de artistas ;amigos da casa; espalhadas por todos os lados. Por R$ 7 ainda é possível comer uma boa massa em plena Asa Norte. ;A produção é caseira, inclusive o molho, a gente é que faz;, revela Camargo. ;O preço é justo, me dá um lucro pequeno e é honesto. Não é porque estou no Plano Piloto que posso cobrar caro. Isso independe do lugar;, diz o proprietário. A estudante Raquel Almeida, 23 anos, que mora no Sudoeste e é fã de massas, gosta do cardápio. ;O lugar é ótimo. A comida, uma delícia. E tem mais: adoro o preço;, reforça.
Toques especiais
Um diferencial importante das lanchonetes (quase) a céu aberto é o atendimento personalizado. Apesar do corre-corre na cozinha e entre as mesas, os clientes têm a liberdade de dar toques especiais aos pedidos que fazem. Nesses lugares, o ditado popular que diz que ;o cliente tem sempre razão; é levado ao pé da letra.
Desde que não atrapalhe o fluxo ou trave a produção, a vontade do consumidor é tratada como prioridade. No melhor estilo fast- food americano, o sanduíche ou o macarrão ganham ingredientes especiais conforme o gosto de quem pede. Em alguns locais visitados pelo Correio, foi possível, por exemplo, ver itens do cardápio serem totalmente modificados. Apesar de não incentivarem a prática, os donos das lanchonetes também não a inibem porque acreditam ser este um dos maiores trunfos na dura concorrência com as grandes redes.