Economia

Venda direta cresce 15% mesmo com a crise

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postado em 23/02/2009 10:03
São Paulo, SP (FolhaNews) - Nem o reflexo da crise internacional no Brasil, com o corte de quase 800 mil postos de trabalho desde novembro, afetou o faturamento das vendas diretas no país, calcadas principalmente em produtos de cuidados pessoais, que respondem por 88% da receita. Segundo a associação do setor, houve um aumento de 15,1% no quarto trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior, alta superior à média anual (14,1%). Em 2008, esse mercado movimentou R$ 18,5 bilhões, segundo a ABEVD (Associação Brasileira de Vendas Diretas). Para o presidente, Lírio Cipriani, um dos motivos de o setor ainda não ter sido afetado é o fato de operar com pagamento à vista, logo não teve o impacto da escassez de crédito. "A experiência mostra que, em tempos de crise, as pessoas buscam maneiras de se autoafirmar e o cuidado com a aparência é uma das formas mais eloquentes de autoestima que, aliás, vem com um plus: tem valor no mercado de trabalho. Afinal, a boa aparência é um quesito que ajuda a conquistar e a manter empregos", afirma João Carlos Basilio, presidente da Abihpec (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos). Os números ainda não estão fechados, mas "o quarto trimestre surpreendeu positivamente" e a estimativa é a de que, em 2008, o crescimento do setor tenha sido de 10,4%. Edenilza Morais, 27, é um dos 2 milhões de revendedores que atuam no país -7,2% a mais do que em 2007- e vem comprovando essa teoria. Em dezembro, faturou 15% acima do mesmo mês de 2007 com os produtos da Avon. Segundo ela, as clientes não apenas não diminuíram os pedidos como, em alguns casos, até se permitiram levar cosméticos mais caros desde o agravamento da crise. Para Cipriani, em parte para compensar a frustração de não poder trocar bens duráveis, como a TV ou o carro, ou pelo adiamento de uma viagem. Para as consumidoras mais fiéis, Edenilza parcela as compras em cinco vezes, embora tenha que pagar à vista à empresa. Referência em vendas diretas, a Avon teve um crescimento de 15% no faturamento do quarto trimestre no país ante o mesmo período do ano anterior, contra uma retração de 2% no mundo. "O impacto da crise foi menor no Brasil", avalia Luis Felipe Miranda, presidente local da multinacional. A empresa anunciou um corte que pode chegar a 3.000 postos de trabalho em quatro anos, mas ainda não definiu, de acordo com o executivo, qual será a redução em cada país. Segundo Miranda, está mantido o investimento de US$ 150 milhões para a construção do maior centro de distribuição da Avon no mundo, em Cabreúva (SP), com inauguração prevista para o final do próximo ano. Outra grande empresa do setor, a Natura teve aumento de 22,2% na receita líquida no último trimestre e de 17,7% no ano, ante igual período anterior. O lucro líquido cresceu, respectivamente, 20% e 17,3%. José Vicente Marino, vice-presidente de negócios da empresa brasileira, comenta que o bom desempenho é reflexo da crise interna da companhia, que adotou um plano estratégico desde o início de 2008 para melhorar os resultados. "Estamos confiantes e entusiasmados com 2009, mas vigilantes dos efeitos da crise." A participação das operações internacionais na receita da Natura representa 5,9% do total, ante 4,7% do ano anterior. O foco agora é ampliar a presença nos países onde já atua, principalmente na América Latina. A Abihpec estima que, no ano passado, o Brasil tenha mantido, com faturamento de US$ 25 bilhões, o terceiro lugar no mercado mundial de cosméticos, fragrâncias e produtos de higiene pessoal, atrás apenas de Estados Unidos e Japão. As vendas diretas respondem por quase 30% do faturamento desse setor. "Historicamente, em ano de crise, cresce o número de consultoras porque, diante de dificuldades financeiras, a tendência das mulheres brasileiras é começar a vender cosméticos para complementar a renda", destaca o presidente da associação.

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