Economia

Lula vai pressionar diretoria da Embraer a negociar com trabalhadores

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postado em 05/03/2009 08:00
Recordando seus tempos de sindicalista, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que vai pressionar a Embraer a negociar com o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos. Segundo Adilson dos Santos, presidente do sindicato, que foi recebido ontem no Palácio do Planalto junto com outros dirigentes e alguns funcionários demitidos, o presidente se comprometeu a ligar para o presidente da indústria de aviação, Frederico Fleury Curado, ainda ontem, e dizer a ele que a empresa deve abrir negociação. ;O presidente quer que a empresa sente com o sindicato antes da audiência de amanhã (hoje) em Campinas. Ele foi sindicalista, até comentou as negociações que fez com outras empresas quando demitiram em massa. E disse que já tinha pedido a empresa para negociar com o sindicato. Ele me perguntou duas vezes se a Embraer tinha feito isso, e falamos que não;, afirmou Adilson dos Santos. ;Acho que isso dá um pouco de legitimidade à negociação dos trabalhadores. Tem peso o pedido do presidente, que disse que está torcendo para que seja mantida a liminar de Campinas;, ressaltou. Luís Carlos Prates, secretário-geral do Conlutas, disse que o presidente ficou surpreso ao saber da situação da Embraer. ;Nós dissemos que a empresa tem dinheiro em caixa: R$ 3,6 bilhões e que as encomendas não diminuíram. Eram 204 aviões no ano passado e passou para 242 este ano, o que prova que a empresa não vive uma situação falimentar. A Embraer tem também a maior jornada do setor aeronáutico e na região: 43 horas semanais e na região;, afirmou. Segundo Prates, o presidente disse ainda que está tomando uma série de medidas para estimular a aviação regional. De acordo com o sindicalista, o governo vai encomendar cinco aviões a Embraer para substituir os modelos Hercules e Boeing. Se não houver negociação, o sindicato ameaça fazer paralisação nas fábricas da Embraer. O deputado Ivan Valente requereu uma audiência pública com representantes da Embraer, governo, sindicato e trabalhadores para discutir as demissões. Ele acompanhou os sindicalistas no encontro com o presidente. Os sindicalistas também foram recebidos pelo presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, do Senado, José Sarney, e pelo ministro do Trabalho, Carlos Lupi. ;Michel Temer e Sarney disseram que vão enviar um telegrama para a Embraer e para o TRT, apoiando a suspensão das demissões. Lupi também se solidarizou conosco;, comemorou Adilson dos Santos. Os trabalhadores que participaram da comitiva em Brasília estão esperançosos de poder voltar à empresa depois do encontro com o presidente. Daniel Magela de Souza, analista de sistemas da Embraer há quase dois anos, tem três filhos, acabou de financiar um imóvel e não sabe o que fazer se não conseguir o emprego de volta. ;Não sei até quando o dinheiro vai durar. Até fui chamado por uma outra empresa, mas querem pagar 20% do meu salário;, diz. Júlio César da Silva era fresador da Embraer há 20 anos e foi demitido. Sua esposa, que trabalhava como doméstica na casa de um casal que trabalhava na Embraer também foi demitida na sexta-feira. ;É difícil;, desabafa. » Áudio: ouça entrevistas com funcionários demitidos da Embraer Daniel Magela Galvão Júlio César da Silva José Aparecido Magalhães
Perda de milhões com derivativo Os sindicalistas especulam que uma das principais razões para a demissão em massa na Embraer tenha sido o prejuízo de R$ 177,8 milhões no terceiro trimestre com operações com derivativos no mercado financeiro, valor praticamente equivalente ao salário dos 4,2 mil demitidos ao longo de um ano. A Embraer nega, mas especialistas do mercado afirmam que um prejuízo desse porte pode ter apressado as demissões. ;O diretor-financeiro fez operações malsucedidas. É como foi o caso da Aracruz e da Sadia, que vendiam dólar que não possuíam para manter a saúde financeira da empresa. A Embraer tem que vender avião, e não dólar;, critica Demetrius Borel Lucindo, analista de empresas. ;Na minha visão, isso deve ter agravado a situação e provocado demissões sim;, ressalta. Cristiano Silva, economista do Instituto de Estudos Sócio-Econômicos, também corrobora a tese. ;A Embraer trabalha com a ideia de que as demissões são necessárias por causa da redução de encomendas. Mas ela contou que a redução do lucro líquido foi o principal fator de aumento de despesas financeiras. E a empresa quer manter o nível de lucratividade aos acionistas, enquanto o correto seria reduzir a lucratividade em um momento de crise como esse. E o valor do prejuízo tem equivalência ao custo dos trabalhadores demitidos;, diz. ;Há duas teses: ou a empresa está querendo compensar essa perda financeira ou está querendo evitar uma crise de fato;, pondera.

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