postado em 06/03/2009 08:26
Campinas ; Nem os apelos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva surtiram efeito. Na primeira audiência em que os funcionários demitidos da Embraer e a diretoria-executiva da empresa ficaram diante de um juiz do Trabalho, na manhã desta quinta-feira (5/03), não saiu acordo para reintegrar os 4.270 funcionários desligados em 19 de fevereiro. Pelo contrário, enquanto o desembargador Luís Carlos Martins Sotero, presidente do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 15ª Região, em Campinas, tentava convencer a empresa a negociar com os demissionários, 27 empregados estavam recebendo cartas de demissão. São funcionários da linha de produção que estavam de férias e retornaram ao trabalho ontem.
Irritado com a intransigência dos advogados da Embraer, o desembargador resolveu manter a liminar que cancela as demissões e remarcou uma nova audiência para a próxima sexta-feira, 13 de março. ;Não teria uma data melhor do que essa?;, ironizou o demissionário Carlos Santos Júnior. Na segunda-feira, haverá um encontro informal entre o desembargador e as duas partes para tentar costurar o acordo que poderá ser selado na sexta.
À Justiça do Trabalho, a Embraer alegou que demitiu 4.270 trabalhadores em razão da retração do mercado mundial de aviação. Os advogados da empresa afirmam que houve um decréscimo das ações e que clientes importantes da companhia estão em situação financeira difícil. Para provar ao desembargador Sotero que a crise internacional afetou a saúde financeira da empresa, os executivos entregaram a ele o balanço de 2008, apontando que o faturamento de 2008 ficou em torno de R$ 10 bilhões, repetindo os resultados recordes dos últimos anos. A Embraer também tem disse ter em caixa R$ 3,6 bilhões.
Bonificação
De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, o balanço da companhia mostra que há dinheiro suficiente para pagar os salários de todos os funcionários durante dois anos. Segundo os documentos da empresa, a carteira de pedidos firmes da empresa (encomenda garantida) continua em cerca de US$ 20 bilhões e a cadência de produção em 2009 também será maior em relação a 2008 em 20%. ;A cada ano, a Embraer distribui uma bonificação de R$ 50 milhões a 26 pessoas da diretoria-executiva, conselho de administração e conselho fiscal. Portanto, é uma das demonstrações de que há espaço para cortar custos, sem que seja necessário demitir trabalhadores;, alega o advogado do Sindicato, Aristeu Pinto Neto.
O Sindicato dos Metalúrgicos associa as demissões à perda financeira que a empresa teve no ano passado no valor de R$ 185 milhões ao ter apostado R$ 1,1 bilhão em derivativos. ;A Embraer jogou no cassino, perdeu e agora penaliza os funcionários;, acusa Pinto Neto. Ele propôs ontem que a Embraer reduza a jornada de trabalho de 43 horas semanais para 40 horas sem diminuir os salários. A empresa disse não ser possível.
A empresa metalúrgica Sobraer, também de São José dos Campos, demitiu na manhã de ontem 60 trabalhadores do primeiro turno. A empresa, que é fornecedora da Embraer, alegou que a fabricante de aviões cancelou uma série de encomendas.
Telefonema de Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que conversou com o presidente do Conselho Administrativo da Embraer, Maurício Botelho, e pediu que a empresa negocie com os sindicalistas a demissão dos 4,2 mil funcionários, anunciada na semana passada.
;Acabei de conversar com o Maurício Botelho. Ele certamente está ligando agora para o Frederico (Curado, presidente da Embraer) com as sugestões que eu dei. Vamos ver;, disse o presidente.
Questionado se há possibilidade de reversão das demissões, Lula respondeu: ;Eu não diria reverter. Até porque a empresa só poderá reverter se tiver encomendas. Mas há chance de um negócio;, comentou sem dar detalhes. Lula disse também que o governo vai manter os investimentos para elaboração de um novo projeto para construção de um avião semelhante ao Hércules. Essa pode ser uma encomenda que pode fazer com que a Embraer, pelo menos a médio prazo, recontrate parte dos demitidos.
;(As Forças Armadas) não podem encomendar mais do que precisam. Não vamos comprar avião para não ter o que fazer. Estamos pensando em manter a ideia da construção de um avião de carga, que é substituto do Hércules. Já colocamos dinheiro no orçamento para garantir o projeto executivo do avião;, explicou.