postado em 08/03/2009 09:31
Na próxima terça-feira, o Brasil saberá exatamente o tamanho da fatura que arcou com o a crise detonada em setembro do ano passado, com a quebra do banco americano Lehman Brohters. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará o resultado do Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todas as riquezas produzidas pelo país, no último trimestre de 2008. Se as contas dos analistas estiverem corretas, a economia encolheu 2,2% quando comparada aos três meses anteriores. É esse o consenso do mercado, apesar de os mais pessimistas apontarem para um tombo de até 3%.
Qualquer que seja o tamanho da retração, porém, o Brasil terá encerrado o mais longo ciclo de expansão dos últimos 30 anos. E estará entrando na décima recessão em três décadas ; além da queda nos últimos três meses do ano passado, o PIB deverá encolher no primeiro trimestre de 2009. ;O impacto da crise no Brasil foi rápido e profundo. A produção parou, o consumo despencou, os investimentos desapareceram e o desemprego deu um salto expressivo;, diz o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa. ;Do ponto de vista técnico, com dois trimestres seguidos de retração, o Brasil está em recessão;, acrescenta o Diretor de Pesquisas Macroeconômicas do Bradesco, Octávio de Barros.
Para ter uma ideia mais clara do tamanho do estrago que a crise provocou na economia brasileira, Barros anualizou a taxa de retração do PIB no último trimestre de 2008, seguindo o modelo usado em boa parte do planeta, e comparou o resultado ; 9,6% de queda ; com os desempenhos de 25 países. Resultado: o Brasil teve o oitavo pior desempenho, ficando atrás de seis países asiáticos ; entre eles, a Tailândia, onde o PIB teve retração de 22,3%, e o Japão, com redução de 12,6% ; e do México, que tombou 10,3%. Nos Estados Unidos, epicentro da crise, o PIB encolheu 6,2%. Na Zona do Euro, a economia recuou, em termos anualizados, 1,5%
O pior é que as perspectivas não são boas. Apesar de todas as medidas adotadas pelo governo, como a redução de impostos para a compra de carros e a injeção de mais de R$ 100 bilhões no caixa dos bancos para incrementar o crédito, o nível de atividade continua no chão. Isso ficou claro na última sexta-feira, quando foram divulgados os resultados da produção industrial de janeiro. A aposta era de incremento entre 10% e 11% ante dezembro. Mas o saldo veio positivo em apenas 2,3%. Na comparação com janeiro do ano passado, o consenso era de queda de 11%. O tombo, porém, foi de 17,2%, o maior desde 1991.
;Ou seja, a reação da indústria foi decepcionante e não há sinais claros de retomada;, afirma o economista-chefe da Corretora Convenção, Fernando Montero. Na avaliação de Carlos Thadeu Filho, economista-chefe da SLW Asset Management, a economia brasileira só conseguirá sair do buraco quando houver uma melhora no quadro internacional. Essa avaliação é endossada pelo economista-chefe do Banco Santander, Alexandre Schwartsman. Ele ressalta que o setor industrial é mais dependente das exportações do que se imaginava. E se a demanda externa permanecer fraca, a produção levará muito mais tempo para se recuperar, ainda que o mercado doméstico mostre um certo fôlego.
Comércio menor
Para Octávio de Barros, a produção industrial fechará 2009 com retração de 3,5%, muito em função dos negócios que deixarão de ser fechados no comércio exterior. Nos seus cálculos, as exportações brasileiras vão encolher US$ 66,4 bilhões em relação a 2008 e as importações, US$ 55,6 bilhões ; ou seja, a corrente de comércio do país com o mundo diminuirá US$ 122 bilhões. Os investimentos produtivos, por sua vez, vão encolher 3,4%. ;Com as vendas em queda, suspendemos todos os nossos projetos de expansão em 2009;, avisa Oriovista Guimarães, presidente do Grupo Positivo, do setor de informática, bastante dependente de crédito.
Apesar do esperado aumento da renda, de 1,5%, o consumo vai capengar. Tanto que, nos dois primeiros meses deste ano, as vendas do comércio despencaram, na média, 6% segundo Luíza Helena Trajano, presidente da rede Magazine Luíza e do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV). ;O que vivemos é uma crise de confiança. O crédito precisa voltar rápido, as pessoas têm de retomar o consumo e as empresas, a investirem. O Brasil está em uma situação muito melhor do que a maioria do mundo. Só depende de nós;, diz. A empresária ressalta que, apesar da parada brusca da economia, o saldo de 2008 foi muito positivo. Até setembro, o PIB crescia acima de 6% e o resultado final para o ano a ser mostrado pelo IBGE é de expansão entre 5% e 5,4% ; números que não veremos de novo tão cedo.
Todos querem agressividade
Com o Brasil mergulhado na recessão ; ainda que mais leve do que as anteriores ; e a constante deterioração da economia mundial, os economistas passaram a apostar em um corte mais agressivo da taxa básica de juros (Selic) na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que começa na próxima terça-feira e acaba na quarta. Agora, mesmo os mais conservadores, como o economista-chefe do Banco Santander, Alexandre Schwartsman, falam em redução de até 1,5 ponto percentual, que, se confirmada, levará a Selic, dos atuais 12,75%, para 11,25% ao ano, patamar registrado em abril de 2008, quando o BC começou a elevar os juros para deter um forte surto inflacionário.
Na avaliação de Joel Bogdanski, economista do Banco Itaú, o foco da política monetária neste momento é evitar um tombo ainda maior da atividade econômica, já que não há ameaça de inflação. ;Há espaço para um corte de 3 pontos percentuais até o meio do ano;, diz. Como os efeitos dos juros sobre a economia se dão de forma defasada, em torno de seis a nove meses, ele acredita que o ideal seriam duas quedas seguidas de 1,5 ponto. ;No entanto, o Copom preferirá um ritmo mais cauteloso, promovendo ajustes em doses de um ponto (como ocorreu em janeiro);, acrescenta.
Esse gradualismo, por sinal, foi sinalizado pelo presidente do BC, Henrique Meirelles. Diante das pressões de empresários e sindicalistas para ser mais ;corajoso;, Meirelles deixou claro seu descontentamento com as cobranças ao frisar que o Copom não seria movido pela ;irresponsabilidade;. Mas, a despeito da velocidade da queda da Selic, a economista-chefe do Banco Fibra, Maristella Ansanelli, assegura que o processo de baixa é irreversível e que, antes do fim do ano, os juros estarão em um dígito ; 9,75%, provavelmente, patamar inédito na história do país.
Para Fernando Montero, economista-chefe da Corretora Convenção, o BC tende a ser mais agressivo para estimular uma reação mais rápida da produção e do consumo. No entender do diretor do Departamento de Análises Econômicas do Bradesco, Octávio de Barros, o Copom deve levar em conta que ;a melhor política anticíclica que se pode ter neste momento é a redução dos juros, pois alivia o lado fiscal;. Ele diz que, com os sucessivos cortes da Selic, o país terá, neste ano, a menor carga de juros em décadas: 4,7% do Produto Interno Bruto (PIB).