postado em 09/03/2009 08:57
O técnico eletrônico Braz Aparecido da Rosa, 37 anos, está desesperado. Tem dívidas no mercadinho da esquina, deve no carnê três prestações de R$ 380 do financiamento que fez para comprar um carro ano 1995 e não sabe como vai pagar o aluguel (R$ 350) da casa de dois quartos onde mora com a mulher e o filho de 3 anos na cidade de São José dos Campos, a 84Km de São Paulo. Jonas Lopes Ribeiro, 48, técnico em mecânica, não consegue dormir com tanta preocupação. Na semana passada, ele chamou a filha de 22 anos para fazer um comunicado sério: ela terá que trancar no mês que vem o curso de pedagogia porque ele não terá mais como pagar a mensalidade de R$ 522. Houve choro, mas não há saída.
Braz e Jonas fazem parte do bolo de 4,2 mil trabalhadores que foram dispensados no dia 19 de fevereiro da Embraer, a terceira maior fabricante de aviões do mundo e uma das empresas brasileiras que mais exportam. Fora do mercado de trabalho, eles se juntam a um universo de 1,89 milhão de pessoas que estão à procura de emprego no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Em poucas palavras, a Embraer justifica a dispensa alegando a crise internacional.
Os dois desempregados em questão não apostam que terão o emprego de volta, apesar de um desembargador ter cancelado as demissões por meio de uma liminar. ;Ninguém acredita nessa hipótese. Eu já estou distribuindo currículos no mercado para não perder tempo;, avisa Jonas. De fato, nem o presidente Luís Inácio Lula da Silva acredita na ;reversão; da demissão em massa ocorrida na Embraer, apesar de ter feito apelos aos executivos da empresa. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Adilson dos Santos, o Índio, sempre que pode, pede cautela aos demitidos e, de leve, tenta mostrar a realidade aos trabalhadores: voltar ao batente na fabricante de aviões é um sonho distante.
Desde que se mudou do interior de Minas Gerais para São José dos Campos, em 1997, Braz Aparecido passou a sonhar em trabalhar na Embraer. Ele considera a empresa uma mãe. Para realizar esse projeto de vida, fez cursos técnicos e aprendeu a mexer com a parte elétrica de aeronaves. Fez cinco testes para ingressar na companhia e foi reprovado nos cinco, até que fez um outro curso técnico mais avançado e passou no sétimo teste. Contratado há 10 anos e ganhando R$ 3,2 mil por mês, casou-se com Mariléia Custódia, 35, tem um filho de três e ela está grávida de oito meses. ;A demissão foi um choque. Estou sem chão e sem rumo. Não acredito que vão dar o nosso emprego de volta. Não sei o que fazer. Se arrumo minhas coisas e volto para o interior de Minas ou se batalho por outra coisa por aqui;, desabafa Braz.
Jonas já havia sido demitido da Embraer em 1995, mas recuperou o emprego em 1998. Nos três anos em que esteve fora da empresa comeu o pão que o diabo amassou, segundo ele mesmo define. Especializado em montar aviões, não conseguia emprego em lugar algum. Passou a vender vassouras de porta em porta para não passar fome. ;Quando eu consegui meu emprego de volta, entrei até para a igreja. Hoje, meu maior medo é ter que voltar a vender vassoura. Não tenho mais nem idade para isso;, atesta.
O montador Luciano de Paula Peixoto, 35 anos, 11 de empresa, diz que foi pego de surpresa. ;A gente sempre acha que está seguro, pois sou um bom profissional e me sentia valorizado na empresa;, conta. Ele estava em férias quando houve a demissão em massa. Luciano, que exibe na sala de casa todas as maquetes dos aviões que ajudou a construir, fica com os olhos marejados quando conta como tudo ocorreu. ;Os empregados chegavam para trabalhar e o chefe direto reunia todos no pátio. No meu setor, eram mais de 150. Ele pediu calma e começou a ler uma lista. Quem estava nela, ia para uma lanchonete pegar a carta de demissão. A cada nome lido era um choro. Foi a situação mais apreensiva que passei na vida;, relata.
Leia mais na edição impressa do Correio Braziliense