postado em 12/03/2009 08:12
A decisão do Banco Central (BC) de reduzir para 11,25% a taxa básica de juros (Selic) dividiu o setor produtivo brasileiro, antes coeso nas críticas aos efeitos recessivos da política monetária. Ontem, o BC recebeu alguns elogios entre os representantes dos empresários, embora outros tenham considerado o corte de 1,5 ponto percentual insuficiente para evitar que o país entre em recessão já neste trimestre. As principais centrais sindicais reclamaram da manutenção dos juros num nível ainda alto, num momento em que é preciso preservar a produção e o emprego.
Em nota, o presidente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), Eduardo Eugênio Gouveia Vieira, aprovou o tamanho da redução, mas pediu que o governo avance nas reformas estruturais para aumentar a competitividade dos produtos nacionais.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Rodrigo da Rocha Loures, apoiou a decisão do BC, que qualificou de ;mea culpa;. ;Embora tardiamente, caiu a ficha no Banco Central;, disse. Para o empresário, a redução dos juros deveria ter começado no final do ano passado. ;Agora que o Banco Central parece ter despertado do seu sono, esperamos que haja uma firme decisão de rever esta política monetária que se transformou num verdadeiro problema estrutural para o Brasil.;
Na avaliação do presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf), Alfried Plöger, a redução da Selic em 1,5 ponto é ;muito bem-vinda;, mas contrasta com medidas anunciadas pelo governo, como a criação de novos ministérios. ;O governo continua tratando o tsunami como se fosse uma pequena onda;, afirmou. Para ele, a elevação dos gastos públicos é ;inoportuna e contraditória;. O presidente do Instituto Brasileiro de Executivo de Finanças (Ibef), Walter Machado de Barros, considerou a decisão ;um corte providencial, na medida certa;.
Alguns dos principais representantes empresariais do país foram mais duros. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), deputado Armando Monteiro Neto (PTB-PE), qualificou de ;frustrante; o corte de apenas 1,5 ponto na Selic. ;A decisão frustra a sociedade, os agentes produtivos e a indústria brasileira. Esse movimento de aceleração no corte dos juros, ainda que na direção correta, não tem a intensidade necessária ao momento;, disse. O deputado pediu uma ação ;mais agressiva; com redução da taxa para um dígito.
Crítico contumaz do governo, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, defendeu uma nova redução em no máximo 15 dias. ;Os responsáveis pela política econômica serão também os responsáveis pelo desemprego no Brasil se, a curto prazo, não acontecerem novos cortes na Selic;, disse. Segundo ele, a manutenção dos juros num nível alto vai contribuir para que o país entre em recessão neste ano.
Timidez
O presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Alencar Burti, considerou tímida a decisão. Ele criticou os diretores do BC. ;Esperávamos que a coragem revelada pelas autoridades monetárias em elevar as taxas de juros quando julgaram necessário, e de mantê-las quando consideraram conveniente fosse demonstrada agora com uma redução mais ousada da Selic;, disse.
Antes do anúncio, membros da Força Sindical queimaram um boneco com a imagem do presidente do BC, Henrique Meirelles. À noite, o presidente da central, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), qualificou a decisão de ;nefasta;. ;Os insensíveis tecnocratas do BC perderam uma ótima oportunidade de afrouxar um pouco a corda que está estrangulando o setor produtivo, que gera emprego e renda. Infelizmente, mais uma vez, o governo se curva diante dos especuladores;, disse.
A Central Única dos Trabalhadores (CUT) afirmou que a diminuição deveria ter sido maior. ;O Brasil ainda tem chances de registrar crescimento em 2009, e devemos ser ousados para não perder a oportunidade;, disse Artur Henrique, presidente da CUT.