postado em 12/03/2009 17:27
O novo lar do fraudador Bernard Madoff tem pouco mais de cinco metros quadrados, com parede de blocos, piso de linóleo e uma cama de alvenaria. O café da manhã será servido antes do nascer do sol, e o financista poderá esticar as pernas no lado de fora, mas apenas uma vez por dia.
O Metropolitan Correctional Center, em Manhattan (centro de Nova York), que já acolheu acusados de terrorismo e membros de quadrilhas, recebeu nesta quinta-feira (13/02) Madoff, 70, após ele se declarar culpado por uma das maiores fraudes financeiras da história de Wall Street, que pode chegar a US$ 65 bilhões.
A prisão federal em Manhattan fica entre um tribunal e uma igreja e abriga suspeitos aguardando a ida para outras penitenciárias ou que cumprem pequenas sentenças. Atualmente, cerca de 750 pessoas, homens e mulheres, estão presas lá.
Desde que foi preso em dezembro do ano passado, Madoff estava em prisão domiciliar em sua cobertura no mesmo bairro, que vale cerca de US$ 7 milhões.
Quando chegam pela primeira vez ao local, os detentos passam por exames físicos e psicológicos e instruídos sobre as regras. Se forem habilitados, recebem um uniforme bege e vão para as suas celas de pouco mais de cinco metros quadrados (2,4m x 2,2m), equipados com um pequeno banheiro.
Muitos detentos precisam dividir a cela com outro prisioneiro, mas não está claro se Madoff terá um companheiro de cela já nesta quinta-feira.
A prisão tem uma agenda rigorosa: as luzes são ligadas às 6h, café às 6h30, almoço às 11h, jantar às 17h e luzes desligadas às 23h. Ao longo do dia, os detentos podem assistir televisão, jogar ping-pong, trabalhar em seus casos em uma biblioteca judicial ou como voluntários.
Os detentos têm direito a uma visita de 3 horas por semana de familiares e advogados. Eles podem ainda gastar até 300 minutos por mês em ligações telefônicas, que podem ser monitoradas.
Fraude
Madoff, que é ex-presidente da Bolsa eletrônica Nasdaq, se declarou culpado nesta quinta-feira de 11 acusações, entre elas lavagem de dinheiro, perjúrio e fraude, no caso da pirâmide financeira que gerou perdas estimadas em mais de US$ 65 bilhões. Ele disse ainda ter consciência de que pode receber pena de até 150 anos de prisão.
A data marcada para o pronunciamento da sentença de Madoff é 16 de junho --até lá, o investidor aguardará encarcerado no Metropolitan Correctional Center.
Ele admitiu ter dado início à fraude, mas que achou que o esquema duraria pouco e que conseguiria desfazê-lo. Vítimas do esquema de Madoff já estavam no tribunal às 8h (9h em Brasília), duas horas antes do início da audiência. Ele chegou protegido por um forte esquema policial.
Madoff disse que "não pode expressar adequadamente" o quanto lamenta pelo esquema de fraude. "Estou grato por essa oportunidade de comentar meus crimes publicamente, pelos quais estou profundamente sentido e envergonhado", disse Madoff, em um tribunal em Nova York. "Com o passar dos anos, eu compreendi o risco, e esse dia inevitavelmente chegaria", afirmou.
Ele disse que o esquema Ponzi (sistema de fraude piramidal pelo qual um fundo usa o dinheiro dos investidores para pagar a eles os juros, sem de fato obter os rendimentos prometidos) que ele criou no início dos anos 90 foi uma forma de proteção contra a recessão ocorrida no período.
Madoff foi preso em dezembro do ano passado, quando o esquema de pirâmide entrou em colapso. A estimativa inicial para as perdas com a fraude era de US$ 50 bilhões, mas documentos apresentados pelos procuradores mostraram que o valor pode chegar a US$ 64,8 bilhões.
Bancos europeus e americanos, empresários, atletas e celebridades estão na lista de 162 páginas com os nomes de potenciais vítimas da fraude.
Aparecem na relação várias sociedades financeiras, principalmente europeias e americanas, grandes e pequenas, que asseguram ter investido na estrutura piramidal organizada por Madoff. Entre elas há fundos através dos quais investiram bancos como o BBVA, Bank of America, UBS, BNP Paribas, Bank of New York Mellon e Credit Suisse.
Já entre as pessoas há famosos como o apresentador de televisão Larry King, os atores John Malkovich e Kevin Bacon ou o empresário imobiliário Larry Silverstein, e até pessoas ligadas ao financista, como seus filhos Mark e Andrew e seu irmão, Peter. Entre os nomes na lista também estão o do jogador de beisebol Sandy Koufax, o do senador democrata Frank Lautenberg e o do multimilionário Fred Wilpon, dono do time de beisebol New York Mets.