postado em 17/03/2009 15:49
O senador republicano pelo Estado de Iowa (centro-norte dos Estados Unidos) Charles Grassley sugeriu que executivos de empresas americanas deveriam adotar comportamentos de sociedades como a do Japão e cometer suicídio ou se desculpar em público quando envolvidos em casos como o da seguradora American International Group (AIG), que vai pagar US$ 165 milhões em bônus a sua cúpula.
"Sugiro, obviamente, que eles deveriam ser tirados dos cargos, mas digo que a primeira coisa que me faria sentir um pouco melhor a respeito deles seria se eles seguissem o exemplo japonês e se apresentassem ao povo americano, se curvassem, pedissem desculpas e fizessem uma de duas coisas: renunciassem ou cometessem suicídio", disse Grassley ontem, em uma entrevista a um programa da rádio WMT, no Estado pelo qual é senador.
A seguradora já havia recebido US$ 150 bilhões do governo quando foi anunciado um novo pacote de ajuda, no valor de US$ 30 bilhões, no último dia 2 - mesmo dia em que a seguradora apresentou um prejuízo de US$ 61,7 bilhões no quarto trimestre, o maior já registrado por uma empresa americana. No ano passado como um todo, a AIG anunciou uma perda, também recorde, de US$ 99,289 bilhões.
A AIG diz que os bônus fazem parte dos contratos dos executivos - incluindo daqueles responsáveis pelas divisões da empresa que estão mais envolvidas na crise em que a empresa se encontra. Como são cláusulas contratuais, a AIG não pode simplesmente suspender o pagamento dos bônus.
O procurador-geral do Estado de Nova York, Andrew Cuomo, disse hoje que a empresa pagou bônus de US$ 1 milhão ou mais a 73 pessoas na AIG Financial Products - subsidiária da seguradora -, incluindo 11 pessoas que não trabalham mais na companhia.
Harikari
Hoje, o senador tentou atenuar seus comentários, mas ainda fez referência ao ritual do harakiri. Em uma teleconferência, ele afirmou que não quer que as pessoas cometam suicídio, "não é essa a minha ideia". "Eu só lamento muito que não tenhamos visto declarações de desculpas, de remorsos, de arrependimento, por parte dos executivos-chefe, de manufaturas, de bancos ou empresas de seguro ou serviços financeiros que estão pedindo ajuda."
"Eu disse que outras sociedades aceitam isso, e vi escritos sobre o que os japoneses fazem. E alguns executivos-chefe japoneses cometem suicídio. Provavelmente, na maioria dos casos, não fazem isso, mas quando não fazem eles vêm a público e expressam arrependimento; e podem ficar ou sair, mas o ponto é que eles aceitam toda a responsabilidade e a sociedade como um todo sabe que eles aceitam toda a responsabilidade", disse.
O harakiri é o suicídio ritual, praticado por samurais com a própria espada, pela qual se faz o resgate da própria honra. Auxiliares do senador disseram, segundo o jornal americano The New York Times que Grassley já fez referência ao ritual em outras críticas.
Em outubro do ano passado, quando o Congresso ainda estudava o pacote de US$ 700 bilhões em ajuda ao setor financeiro, ele disse que "não seria ruim se a liderança dessas instituições (financeiras) abordassem a questão ao estilo japonês --mas não cometendo suicídio, como alguns japoneses fazem nessas circunstâncias, mas em cenas que vi na TV nas quais os executivos-chefe vão à diretoria, a público e pedem profundas desculpas".
Ontem, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que pedirá ao Departamento do Tesouro para tentar impedir, "por todo meio legal", a AIG de pagar US$ 165 milhões em bonificações a executivos.