postado em 23/03/2009 12:23
O secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, reconheceu nesta segunda-feira (23/03) que o Estado está assumindo riscos com seu plano de aquisição de ativos tóxicos dos bancos, mas afirmou que não se pode "resolver uma crise financeira sem que o Estado assuma riscos". "Não há dúvidas de que o Estado está assumindo riscos", afirmou Geithner à imprensa.
O Tesouro americano revelou hoje duas modalidades de seu plano de recompra dos ativos tóxicos dos bancos, que prevê a criação de dois mecanismos associando investidores privados, um para os empréstimos e outro para títulos atrelados a ativos imobiliários.
Como já havia anunciado em fevereiro, o Tesouro espera dedicar num primeiro momento de US$ 75 a US$ 100 bilhões de fundos públicos para mobilizar com o setor privado até US$ 500 bilhões de "poder de compra" para adquirir os ativos herdados da última bolha imobiliária.
A Comissão Federal de Garantia dos Depósitos Bancários (FDIC), reguladora do sistema bancário, aconselhará os bancos que desejarem se desfazer de seus créditos de risco e dará sua garantia, assim como uma ajuda ao financiamento aos investidores que quiserem comprá-los. Os empréstimos em questão serão em seguida vendidos em um sistema de leilões para quem declarar o maior lance.
Para os títulos endossados a ativos imobiliários, os investidores interessados poderão se beneficiar da facilidade da ajuda ao crédito ao consumo (TALF) recentemente lançada pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano) para obter uma boa parte do financiamento necessário para estas aquisições.
Somente os títulos que tiveram na origem da melhor nota possível das agências de classificação financeira poderão se beneficiar deste mecanismo.
Para a recompra e a gestão a longo prazo destes títulos, o Tesouro vai se associar a estabelecimentos de gestão de fundos privados (até cinco no total) e fornecer no momento desta parceria um financiamento suplementar.
Os fundos interessados têm até 10 de abril para se apresentar. O Tesouro pretende fazer uma primeira escolha até 1º de maio.
O Tesouro se manteve fiel à sua ideia de base, segundo a qual os títulos imobiliários invendáveis acumulados pelos bancos na última bolha imobiliária ainda têm um valor intrínseco forte, e que é sobretudo a falta de financiamento decorrente da crise que impede o funcionamento de um mercado normal de compra e venda destes títulos.
Geithner, fragilizado pelo escândalo dos bônus pagos aos executivos de grandes empresas ajudadas pelo governo, em uma entrevista ao Wall Street Journal, justificou o plano para que os bancos se livrem de seus ativos desvalorizados, incluindo carteiras de empréstimos devastadas pela explosão da bolha imobiliária em 2007.
"Em nossa opinião, a melhor maneira de sair disso é trabalhar junto com os mercados", declarou Geithner.
O plano de Geithner foi criticado pelo setor privado, já irritado pela decisão do Congresso de anular retroativamente de fato os elevados prêmios pagos aos executivos de empresas socorridas pelo Estado.
Austan Goolsbee, assessor econômico da Casa Branca, e sua colega Christina Romer passaram no domingo por vários canais de televisão para assegurar que os investidores privados não têm nada a temer, na medida em que forem convocados a prestar um serviço".
Ken Lewis, presidente do Bank of America, que recebeu US$ 45 bilhões de fundos públicos, e que deve explicar porque o antigo banco de negócios Merrill Lynch pagou US$ 3,6 bilhões em bônus, advertiu na sexta-feira que a aprovação pela Câmara dos Representantes de taxar os prêmios seria contraproducente.
David Kotok, presidente da empresa de investimentos Cumberland Advisors, indicou também que recomenda a seus clientes desconfiar de qualquer parceria com os poderes públicos.
Também crítico, mas por azões diferentes, o prêmio Nobel de Economia Paul Krugman considerou que o plano permite aos fundos de investimentos jogar "cara ou coroa".
Peter Morici, professor da Universidade de Maryland, disse assim como Krugman, que os investidores privados que se associarem ao governo serão incitados a "pagar caro demais" pelos ativos tóxicos. "Resultado: trata-se de uma subvenção a mais ao sistema bancário", afirmou.
A Bolsa de Nova York abriu esta segunda-feira em forte alta, após duas sessões de queda, pela revelação dos detalhes do plano: o Dow Jones ganhava 2,06% e o Nasdaq, 2,20%.