postado em 29/03/2009 16:30
Os ministros do Trabalho do G-8 e de economias emergentes, entre elas Brasil e México, analisam em Roma, a partir deste domingo (29/03), "as consequências humanas" da atual crise econômica mundial, em meio a perspectivas sombrias: a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico, OCDE, teme que a taxa de desemprego nos 30 países abrangidos por sua esfera de atuação chegue a dois dígitos até o final de 2010.
"Até o final de 2010, o desemprego poderá se aproximar de uma taxa de dois dígitos em todos os países do G-8, com exceção do Japão, assim como em toda a zona OCDE", segundo um documento da organização distribuído à imprensa na abertura do encontro, em Roma.
De acordo com os cálculos da OCDE, a taxa de desemprego chegou a 6,9% em janeiro de 2009, "o que representa um aumento de cerca de um ponto em relação a igual período do ano anterior". Em um ano, "7,2 milhões de pessoas somaram-se às filas dos desempregados na zona" OCDE.
"É preciso prudência com as previsões" porque "as instituições que as produzem são, com frequência, obrigadas a corrigi-las", interrompeu o ministro italiano do Trabalho Maurizio Sacconi, durante uma entrevista à imprensa na abertura da reunião social de três dias.
"Estamos aqui para enfrentar, juntos, a dimensão humana da crise, contra a qual é preciso tomar medidas com objetivos claros, mesmo temporárias, para proteger as pessoas atingidas", destacou.
"Até agora, os governantes se ocuparam dos bancos, dos mercados e dos intermediários financeiros, porque era preciso levar estabilidade ao mundo das finanças", afirmou Sacconi, que propõe, na cúpula, a adoção de um "pacto global de proteção social".
"Quando as pessoas veem que bilhões de dólares são gastos para tentar resgatar o sistema bancário, que perdem seu trabalho e que o governo diz que não pode intervir, passamos a viver um socialismo para os ricos e o neoliberalismo para os pobres", denunciou durante a entrevista à imprensa John Evans, do Comitê sindical consultativo (Tuac) que atua junto à OCDE.
"Mais de 200 milhões de trabalhadores poderão cair na extrema pobreza, principalmente nos países em desenvolvimento onde não há rede de segurança", estimou o Tuac em documento distribuído à imprensa.
Com o lema "People first - Enfrentar juntos a dimensão humana da crise" na cúpula, também estarão representantes da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Os ministros do G-8 (Itália, EUA, França, Grã-Bretanha, Japão, Canadá, Alemanha, Rússia) ampliaram suas sessões aos ministros do Trabalho de China, Índia, Brasil, México, África do Sul e Egito.
O ministro brasileiro do Trabalho, Carlos Lupi, também participa da reunião, que termina nesta terça.
"Estamos diante de uma crise financeira, econômica e social, motivo pelo qual os dirigentes do mundo devem se preparar para enfrentar as três crises ao mesmo tempo", disse à AFP o diretor-adjunto da OIT, Philippe Egger.
Ainda de acordo com as previsões anuais da organização, publicadas em janeiro, a crise vai arrastar mais 51 milhões de pessoas para o desemprego entre 2008 e 2009. As estimativas terão, no entanto, de ser modificadas, devido à recessão (-0,5% a -1%) econômica anunciada pelo FMI.
"O retrocesso da economia modifica, de forma notável, as estimativas sobre o desemprego em inúmeros países", advertiu o diretor-geral do FMI, Dominique Strauss-Kahn, na segunda-feira.
Os especialistas do FMI temem ainda um aumento considerável no número de pessoas na miséria, devido à crise: "milhões de pessoas poderão entrar no limiar da pobreza extrema".
Para Strauss-Kahn, a grave situação econômica poderá deflagrar conflitos sociais, alimentar guerras, "ameaçar, inclusive, a democracia e até levar, em alguns casos, à guerra".
O FMI vai propor que se estabeleça uma série de "condições sociais" para obter empréstimos, e que uma parte deles seja usada "para proteger os mais vulneráveis".