postado em 07/04/2009 16:10
A queda dos preços de bens duráveis como automóveis e eletroeletrônicos no atacado é uma resposta do mercado ao desaquecimento das vendas ocorrida no final do ano passado, com o agravamento da crise, segundo o coordenador de análises econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros.
A instituição divulgou nesta terça-feira queda de 0,84% no Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) de março. Foi a segunda maior retração do índice desde que o real passou a ser a moeda nacional - o recorde foi verificado em setembro de 1995, quando houve deflação de 1,08%.
Para Quadros, o resultado de março não surpreende e reflete o quadro de desaceleração econômica no mundo, com redução no preço das commodities. Ele destacou a desaceleração nos preços dos bens duráveis no atacado, que poderão se refletir no varejo, para o consumidor. Foi o caso de automóveis, com recuo de 2,80%, televisores (-2,46%) e refrigeradores e congeladores (-1,29%).
"Essa queda dos automóveis não reflete a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). É resultado da situação do mercado. Houve uma melhora no primeiro trimestre, e o setor sinaliza que pretende manter isso, inclusive reduzindo preços", explicou.
O economista comentou que a deflação de 1,46% no atacado, menor nível desde maio de 2003, ocorreu de forma generalizada, atingindo com mais força as matérias-primas brutas, que registraram -2,69%, ante -0,55% em fevereiro. Ele citou a influência de commodities agrícolas como a soja (-5,35%), maior influência negativa no Índice de Preços no Atacado (IPA) e do milho (-7,24%), e acrescentou a forte desaceleração no preço do trigo no atacado (0,36% em março, ante 8,64% em fevereiro).
"Mesmo assim, a soja tem alta de 2,80% no acumulado do ano. Isso ilustra bem a situação das commodities. Não há uma queda ininterrupta, há muitas oscilações", observou.
Para os próximos meses, Salomão Quadros disse que nível tão significativo de deflação não deverá se repetir, mas que novas taxas negativas são possíveis. Diante de taxas elevadas registradas nos meses correspondentes no ano passado, a tendência é que o índice acumulado em 12 meses despenque ainda mais. Atualmente, está em 5,86%, depois de chegar a 12,29% em outubro de 2008, quando começou a recuar.
Quanto à situação no varejo, Quadros avaliou que as pressões entre os alimentos irão mudar. Em março, exerceram bastante influência produtos derivados de commodities como trigo e soja, e os alimentos "in natura". O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) teve alta de 0,61% em março, determinada pelos alimentos, que subiram 1,25%, depois de deflação de 0,12% em fevereiro.
"Haverá uma renovação da pressão entre os alimentos processados. A carne bovina, que vem caindo, deverá influenciar mais. Já os produtos "in natura´ dependem bastante das condições climáticas, é difícil prever", ressaltou.