Economia

Bancos cobram mais no Brasil

Levantamento feito pelo Ipea sobre o setor bancário mostra que a taxa de juro real paga pelos brasileiros é até 10 vezes maior que a praticada pelas mesmas instituições financeiras em outros países

postado em 08/04/2009 08:00
A taxa de juro real anual cobrada por um banco no Brasil pode ser até 10 vezes maior do que a praticada pela mesma instituição no exterior, de acordo com levantamento ;Transformações na indústria bancária no Brasil e suas implicações no cenário da crise atual;, realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O juro cobrado na primeira semana de abril de 2009 pelo HSBC no Brasil, por exemplo, era de 63,42% ao ano, enquanto o mesmo banco, no Reino Unido, sede da instituição, trabalhava com variação de 6,60% a.a. No caso do Santander, os porcentuais para o mesmo período eram de 55,74% no Brasil e de 10,81%, na Espanha. O Ipea apresentou ainda a diferença na atuação do Citibank, de 7,28% nos Estados Unidos contra 60,84% no Brasil. A taxa básica de juros brasileira, a Selic, atualmente está em 11,25% ao ano. De acordo com o levantamento, para empréstimos à pessoa física, o diferencial chega a ser quase 10 vezes mais elevado no Brasil em relação ao crédito equivalente no exterior. ;Para empréstimos à pessoa jurídica, a diferença de custo é menor, mas mesmo assim quatro vezes mais alta para o brasileiro;, ressalta o levantamento. Segundo técnicos do Ipea, os efeitos da crise financeira internacional no Brasil são uma prova da qualidade do sistema bancário brasileiro e de seus mecanismos de regulação. ;De fato, quando são comparados os resultados obtidos no Brasil com os países da América do Norte, Europa Ocidental e Japão, no momento atual, essa constatação é de difícil refutação. No entanto, ao considerar dados sobre a disponibilidade de crédito barato e de atendimento da população, o cenário se torna significativamente diferente. O crédito é caro e o atendimento é precário em vastas regiões do Brasil;, observam os técnicos. A avaliação do documento é a de que, quando os efeitos mais graves da crise forem superados, o problema de acesso ao crédito será recolocado e representará, novamente, um obstáculo para atingir um padrão de crescimento econômico mais elevado. Agências De acordo com o estudo do Ipea, o número de agências bancárias no país andou na contramão da expansão do sistema financeiro nacional. Em 17 anos, de 1990 a 2007, a quantidade de agências caiu 8,4% ; de 19.996 para 18.308. Até 2006, havia ainda 505 cidades sem qualquer posto de atendimento bancário. Outro dado da pesquisa, que mostra o fechamento de bancos no período, ajuda a explicar a menor quantidade de agências. Os pesquisadores usaram como base para a análise informações do Banco Central (BC). De 1996 a 2007, o número de instituições financeiras diminuiu de 230 para 156. Houve redução na quantidade de instituições públicas ; de 32 para 13 ; e privadas ; de 98 para 143. O único segmento que ganhou participantes foi o das empresas bancárias estrangeiras, que passou de 41 para 56 companhias. O encolhimento da soma de sucursais bancárias elevou a relação de habitantes por estabelecimento. Em 1985, havia uma agência para cada 7.432 brasileiros. Em 2007, o número de habitantes por agência pulou para 10.145. Um comparativo do Ipea com informações do Banco Mundial (Bird) sobre outros países demonstra que a proporção é de 1 para 3.372 nos Estados Unidos e chega a 1 para 1.089 na Espanha. Estados O fenômeno brasileiro replica-se aos estados, acirrando a desigualdade regional. Segundo dados de 2006, enquanto em São Paulo há um posto de atendimento para cada 6.812 moradores, no Maranhão, a proporção é de 1 para cada 26.917 habitantes. Há desequilíbrio também na distribuição das agências pelo país. Apesar de a distância média nacional entre agências ser de 473 quilômetros quadrados, no Distrito Federal, existe uma a cada 18 quilômetros quadrados e, em Roraima, há uma a cada 11,8 mil km. O estudo mostra que, apesar de representar uma fatia menor dos bancos em operação (8,3%), as instituições públicas são responsáveis por 43,1% das agências. O setor privado, que detém 91,7% dos bancos, tem 56,9% das agências.

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