Economia

Corte do IPI impulsiona venda de carros novos, mas prejudica negócio de usados

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postado em 11/04/2009 08:14
A redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) delineou cenários completamente opostos para o mercado de veículos novos e o de usados. Para o primeiro, os benefícios são indiscutíveis: turbinou as vendas de carro zero em todo o país, blindando os efeitos da crise mundial. Mas para as revendas de seminovos, a história é bem diferente. A medida acabou tendo um efeito perverso para o setor, que não recebeu os mesmos benefícios. Resultado: as agências estão lotadas de automóveis usados. Muitas recusam novas compras de pronto, pois não têm mais espaço para estoque. Ou devolvem carros que estavam à venda pelo sistema de consignação, para seus donos. O bancário Adamastor Amorim está vivendo essa odisséia. Ele comprou um carro zero no fim do ano passado e tenta há cerca de cinco meses vender um Fiesta 2003. ;A concessionária onde comprei meu carro novo depreciou muito o meu usado. Preferi não vender. O carro ficou três meses na Cidade do Automóvel, sem nenhuma oferta, até que me ligaram para ir buscar o veículo;, conta. Há quase dois meses, ele tenta negociar o veículo por conta própria. ;Depois da redução do IPI, piorou bastante. Tive que pagar o IPVA e o carro está parado, na garagem da casa da minha sogra;, diz. Segundo Amorim, o preço de tabela do Fiesta é R$ 21 mil. A agência queria pagar R$ 12 mil e ele está tentando vender por R$ 17 mil. ;Se não tiver oferta, vou ter que baixar mais o preço;, confessa. Lúcio Vasconcelos, proprietário da Suprema Veículos, observa que essa situação é muito comum. ;O cliente vem com uma expectativa de preço mais alta, mas os valores caíram muito. Um Celta 2004 quatro portas, por exemplo, que valia R$ 20,9 mil antes da crise, hoje é contrado entre R$ 15,9 mil a R$ 16,5 mil, no máximo. Se não baixar o preço, não vende. Por isso, orientamos o cliente a negociar;, enfatiza. Segundo o empresário, a margem de lucro dos lojistas, que era de 10% antes da crise, decresceu para 5% a 6%. Oportunidade Com tanta oferta, os preços despencaram. Em Brasília, como a venda é mais acelerada que a média nacional, a pechincha de usados é bem maior, o que acaba sendo um chamariz para compradores de outros estados. Para alguns modelos, a diferença de preço em relação a outras capitais chega a 10%, segundo Lúcio Vasconcelos, que também tem loja em Vitória (ES). ;Num raio de 600 quilômetros, é comum vir consumidores comprar carro aqui, principalmente do interior do Goiás e Triângulo Mineiro;, afirma Maurício Mustefaga, vice-presidente da Associação das Agências de Automóveis do Distrito Federal (Agenciauto-DF). Além do preço, o cliente tem mais opções de veículos usados do DF, que têm um desgaste menor, devido à geografia da cidade. ;Outro dia, vi um vendedor de Maceió enchendo o caminhão de carro das nossas lojas para vender lá. Antigamente, era o contrário: o pessoal saía daqui para comprar carro no Nordeste;, lembra. A servidora pública Quélia Regina veio de Barro Alto (GO) para comprar em Brasília um Spacefox 2007, completo. Pagou R$ 28 mil de entrada e financiou R$ 7 mil. ;Em Goiânia, estava R$ 2 mil a R$ 3 mil mais caro;, diz. O encarregado de obras Edmilson Lopes, de Morada Nova de Minas (MG), comprou um Gol 2001 por R$ 13 mil. ;Os carros em Brasília são muito bons. Na minha cidade, tem menos opção e eu ia pagar R$ 15 mil a R$ 17 mil;, revela. Para o consumidor que sonha adquirir um carro de determinado modelo e não faz questão que seja novo, é uma boa oportunidade. Nas agências do DF, é possível adquirir um Ecosport XLT 4x4 2004 completo por R$ 33,9 mil, enquanto o 2009 custa R$ 62.170. A diferença de R$ 28.270 é suficiente para comprar um carro Uno Mille básico, cotado a R$ 21,7 mil, e ainda sobrariam R$ 6.570. Para veículos com apenas um ano de uso, a queda de preço também assusta. A desvalorização de um Vectra Elite 2.0 foi de 23,7% e de um Punto Sporting 14,8%. Leia mais na edição impressa do Correio Braziliense

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