postado em 11/04/2009 08:32
Por trás da desastrosa demissão de Antonio Francisco de Lima Neto da presidência do Banco do Brasil está o desespero do governo. Dados preliminares do Banco Central indicam que as concessões de crédito fecharam o primeiro trimestre do ano com queda próxima de 20%, praticamente selando a recessão econômica do país ; dois trimestres consecutivos de contração do Produto Interno Bruto (PIB). Crédito em baixa significa menos consumo e menos investimentos produtivos. O governo contava que uma ação mais forte dos bancos públicos no início do ano, liberando empréstimos e cortando juros, fosse suficiente para suprir as deficiências do mercado provocadas pela crise mundial. Mas não foi. E Lima Neto pagou o preço da frustração, acusado de não aderir ao projeto governamental.
;Não tem jeito. Não foi apenas no primeiro trimestre que o crédito encolheu. Os quatro primeiros meses do ano podem ser dados como perdidos;, disse o presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimentos (Acrefi), Adalberto Savioli. Segundo ele, a retração foi geral, mas o impacto maior se deu nos financiamentos ao setor produtivo. Houve queda em todas as linhas voltadas a empresas, algumas, em mais de 30%. ;A expectativa é de que, com a economia recuperando o fôlego no segundo semestre e a inadimplência se estabilizando, as concessões de crédito comecem a voltar; afirmou.
A retomada do fôlego não será, porém, suficiente para que o mercado cresça os 14% projetados pelo BC. ;Nas nossas contas, a expansão sobre 2008 ficará entre 8% e 9%;, frisou Savioli. É que, além de participantes importantes do mercado ; os bancos de médio e pequeno portes ; só agora estarem voltando a emprestar, há um problema de demanda. ;Os empresários suspenderam os investimentos porque temem ampliar a produção e não ter para quem vender. Então, não precisam de financiamentos;, explicou a economista Luíza Rodrigues, do Banco Santander. Já os consumidores evitam o endividamento porque há o risco de alguém da família perder o emprego, reduzindo a renda disponível para arcar com as prestações.
O grande vilão
Sendo assim, assinalou o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu, não há como o governo esperar mudanças significativas no crédito ao longo deste ano, forçando o BB a emprestar mais barato. ;Há dinheiro de sobra no mercado. O que falta é confiança na economia. Enquanto a confiança não voltar, as concessões de crédito continuarão caindo;, frisou. ;O crédito se tornou o grande vilão. E sua correlação com o PIB é enorme. Quando o crédito cresce, o PIB vai junto. Vimos isso a partir de 2004.;
No entender do vice-presidente de Finanças da Caixa, Márcio Percival, o pior momento para o mercado de crédito já passou. ;Estamos vendo uma demanda bem aquecida por parte das empresas e dos consumidores;, disse. ;Só em operações estruturadas (por meio da emissão de notas promissórias e debêntures) para grandes empresas, estamos analisando pedidos de mais de R$ 1 bilhão. Também estamos atendendo pedidos de pequenas e médias empresas fornecedoras de companhias exportadoras, que ficaram com escassez de capital de giro;, contou. Por isso, a Caixa está apostando que sua carteira de crédito crescerá 36% neste ano, mais do que o dobro da estimativa mais otimista de incremento para todo o mercado, de 16%.
Percival reconheceu, porém, que parte do aumento do crédito concedido pela Caixa decorreu da migração de empresas, especialmente as pequenas e médias, que eram atendidas pelos bancos de menor porte, cujas carteiras encolheram até 50%. ;O crédito voltará, evitando que a economia entre em recessão;, afirmou.