postado em 13/04/2009 11:08
O atual ciclo de redução dos juros deixou uma antiga conhecida dos investidores em evidência ainda maior: a taxa de administração. Responsável por engolir uma parcela dos ganhos brutos das aplicações, o peso da taxa de administração cresce a cada novo corte que o BC faz nos juros básicos.
No caso dos fundos DI, que seguem de perto a oscilação da taxa básica Selic, essa questão fica bem evidente. Em 2008, a categoria deu retorno médio de 12,1%. Para este ano, considerando a expectativa do mercado para a Selic, a aplicação deve pagar algo em torno de 10%. Ou seja, se a taxa de administração cobrada em um fundo se mantiver em 2% ao ano, por exemplo, seu impacto sobre o retorno da aplicação será bem maior do que era até pouco tempo.
"O peso da taxa de administração no retorno final das aplicações tem ficado mais visível aos clientes nesse momento de redução dos juros. Mas os bancos apenas vão mexer nas taxas quando houver reclamações do outro lado do balcão", diz Mauro Halfeld, professor da Universidade Federal do Paraná.
A taxa de administração média cobrada nos fundos DI é de 1,04% ao ano, segundo a Anbid. Mas há fundos com taxas muito maiores, especialmente nos mais populares, que exigem menores aplicações de seus clientes. Não é difícil encontrar fundos com taxa de administração de 4% ou mesmo ainda mais elevadas.
Nos fundos de ações livres, que exigem maior trabalho por parte dos gestores, a taxa média cobrada fica em 2,73%. A função da taxa de administração é a de remunerar os gestores por sua atividade.
Sempre que o cliente vai fazer uma aplicação deve ter acesso ao prospecto do fundo, que traz todas as suas características -taxas cobradas, riscos etc. Com o prospecto nas mãos, pode comparar os perfis de fundos da mesma categoria e avaliar qual o mais interessante para aplicar suas economias.
"Infelizmente a minoria olha para esses detalhes. Tem aumentado o número de investidores mais conscientes, mas ainda são poucos", diz Halfeld.
O número de fundos oferecidos é muito elevado. A indústria como um todo soma mais de 8.000 fundos. Desses, há mais de 400 fundos na categoria DI, e quase 1.000 na de renda fixa. Oferta não falta.
O aperto na rentabilidade líquida dos fundos voltou a ser tema após o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) iniciar, em janeiro, o atual ciclo de redução da taxa básica Selic -referência para os juros praticados no mercado. De 13,75% no começo do ano, a Selic está em 11,25%. O mercado projeta que a taxa básica alcance os 9,25% até o fim de 2009.
Como os fundos DI e de renda fixa são compostos por títulos públicos e privados que pagam juros e acompanham as oscilações da Selic, suas rentabilidades estão em rota de baixa. Nesse cenário, cresceu o temor de que os investidores migrem dos fundos para a poupança, que não cobra nem taxa de administração, nem IR.
"Com os juros em queda, não é pouco o que se paga em taxa de administração. Muitas vezes, é um serviço caro mesmo. Mas apenas se começar a faltar demanda para as aplicações com as taxas praticadas atualmente é que os preços vão baixar", afirma Mauro Calil, professor e educador financeiro.
Poupança
Calil avalia que se o governo tomar medidas para baixar o retorno da poupança, devido à ameaça que a conservadora aplicação representa para a indústria de fundos, as instituições ficarão ainda mais confortáveis para manterem suas taxas nos atuais níveis.
O Copom se reúne nos próximos dias 28 e 29. A expectativa é que a Selic seja reduzida em ao menos 1 ponto percentual, para 10,25%, o que significará mais um encolhida na rentabilidade dos fundos DI.
Segundo uma simulação feita pelo economista José Dutra Vieira Sobrinho, se a Selic descer a 10,25%, apenas os fundos DI e de renda fixa que cobrem uma taxa de administração de 1% conseguirão dar ganho líquido maior que o oferecido pela caderneta de poupança.