postado em 19/04/2009 08:00
O pessimismo que tem levado o mercado, representantes de setores produtivos e o governo federal a rever a expectativa de crescimento da economia brasileira para 2009 também tomou conta do Distrito Federal. Em dezembro, a Companhia de Planejamento do DF (Codeplan) acreditava que a capital federal conseguiria se descolar da economia nacional e manter um ritmo de crescimento acelerado. A aposta era de um avanço de 3,5% no Produto Interno Bruto (PIB). O atual cenário econômico, no entanto, levou o órgão a reduzir as expectativas. Segundo análise dos técnicos da Codeplan, a economia brasiliense deve registrar um crescimento mais modesto este ano ; entre 1,5% e 2,9%.
;O sinal amarelo está aceso. Se tudo continuar como está, a economia brasiliense pode crescer 2,9%. Mas, qualquer alteração nas condições pode levar a um crescimento de apenas 1,5%, o que mostra que BrasÃlia não é uma ilha da fantasia;, afirma o presidente da Codeplan, Rogério Rosso. ;É um quadrilátero delimitado apenas no papel;, resume o gerente de análise do órgão, Carlos Alberto Reis, um dos responsáveis pelas estimativas.
A expectativa do GDF é que o volume de dinheiro em circulação na economia local deva cair, encolhendo o PIB da cidade. As causas principais, segundo Rosso, são a queda da arrecadação ; no primeiro trimestre a Secretaria de Fazenda do DF contabilizou uma frustração de 13% na receita com impostos em relação ao esperado (leia abaixo) ; e a redução dos repasses federais para o GDF em R$ 238 milhões. ;Com menos recursos, o governo tem que fazer escolhas sobre onde vai aplicar, tem que reduzir investimentos. Com isso, reduz o dinheiro em circulação e as contratações;, afirma Rosso.
A previsão mais otimista, de 2,9% se concretizará, de acordo com ele, na hipótese das economias nacional e internacional permanecerem exatamente como estão. Alterações podem levar ao cenário mais pessimista, que indica um crescimento de apenas 1,5%. Pela estimativa da Codeplan, as variáveis que podem influenciar são as seguintes: consumo total, nÃvel de emprego, massa salarial, volume de crédito, juros e taxa de câmbio. Um aumento do desemprego no DF e uma queda da massa salarial ajudariam a reduzir o incremento sobre 2008.
Apesar da revisão da expectativa, o Ãndice do Governo do Distrito Federal (GDF) é muito otimista, na opinião de economistas ouvidos pelo Correio. A impressão deles é que, assim como o corte no âmbito federal foi radical, por aqui a previsão também deveria ser mais pessimista. Desde o fim de dezembro, os analistas de mercado ouvidos semanalmente pelo Banco Central enxugaram a estimativa de acréscimo no PIB nacional de 2,44% para uma retração de -0,30%. ;2,9% é um percentual superestimado. Ainda que nossa situação não vá ser tão medÃocre quanto a nacional, teremos impacto da queda na produção nacional. Vamos ter menos transferência da União em função da queda da arrecadação e uma arrecadação menor de ICMS, não tem jeito;, analisa o professor de economia da Universidade de BrasÃlia, Roberto Piscitelli.
O conselheiro do Conselho Federal de Economia (Cofecon) Júlio Miragaia concorda. Na sua opinião, BrasÃlia não só sofrerá com a crise econômica, como demorará mais para se recuperar. De acordo com ele, há uma diferença de tempo entre o impacto no paÃs e no DF. ;BrasÃlia vem a reboque da economia nacional, mas com uma defasagem de dois, três meses. Acho que o quadro nacional já está se recuperando, mas, no DF, a melhora só virá a partir do segundo semestre;, afirma Miragaia.
Rosso, no entanto, destaca que BrasÃlia tem vantagens que vão ajudá-la a obter um resultado acima da média nacional neste ano. As obras de construção civil são os principais alicerces. Entre eles, os condomÃnios residenciais que estão sendo erguidos em Ãguas Claras, Guará e Samambaia, por exemplo. Além de outros projetos, como o habitacional do Mangueiral, o Catetinho a Cidade Digital e o Noroeste, cita Rosso.
De acordo com levantamento da Codeplan, comparando números próprios com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e EstatÃstica (IBGE), o DF teve um avanço do PIB acima do verificado na média nacional em três dos últimos seis anos.
Cortes de reajustes e adiamento de obras O fechamento da arrecadação do primeiro trimestre evidenciou o que o Governo do Distrito Federal (GDF) temia. A receita com impostos nos três primeiros meses do ano ficaram bem aquém do esperado e, com isso, o balanço entre despesas e receita não vai fechar, de acordo com o secretário de Fazenda do DF, Valdivino Oliveira. ;A arrecadação foi 13% inferior à expectativa. O orçamento foi feito de maio a julho do ano passado, antes da crise. Quando a crise veio, ele já estava na Câmara Legislativa. Agora temos que cortar gastos;, afirma o secretário. ;Estamos administrando a crise com revisão de gastos. Em janeiro anunciamos um corte de 30% em custeio, e não vamos lançar novas obras, só as que já estão em andamento. Além disso, não daremos reajustes salariais. Precisamos ajustar as despesas à s receitas;, completa. Apesar de ter ficado abaixo da expectativa, a arrecadação de janeiro a março foi 6,1% superior à registrada no primeiro trimestre do ano passado. O incremento na receita originária do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) foi menor, de 4,8%. Os setores que mais perderam, segundo o secretário, foram os de revenda de veÃculos (-10%), combustÃveis (-5%), energia (-4%) e de telecomunicações (0%).
Renda é a garantia O setor produtivo do Distrito Federal está otimista quanto ao resultado dos negócios em 2009. A manutenção da massa de rendimentos deve ser o sustentáculo da economia local, na opinião dos representantes dos três segmentos. Segundo números do Departamento Intersindical de EstatÃstica e Estudos Socioeconômicos (Dieese) a massa salarial do DF aumentou 12,5% em relação ao inÃcio de 2008. Os setores de serviços e comércio, maiores empregadores da cidade, acreditam que a renda elevada vai segurar as vendas. A indústria aposta em incremento puxado, principalmente, pela construção civil. A agropecuária, na regularização das terras, o que facilita a obtenção de crédito. Setor que mais tem sofrido nos estados brasileiros, a indústria deve ter um alÃvio no DF. A explicação está na vocação mais voltada para os serviços e para o mercado interno, de acordo com presidente da Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra), Antônio Rocha. Além disso, projetos especÃficos da construção civil, como o Noroeste, devem ajudar a impulsionar o setor. ;O crescimento este ano não deve ser como o de 2008, o setor passa por uma crise, mas passa de forma até confortável;, afirma. A previsão é vender 3% mais neste ano, Ãndice que, de acordo com Rocha, ajudaria a segurar o nÃvel de emprego nas indústrias brasilienses, que ainda não demitiram. Comércio Com um crescimento acumulado nos últimos 12 meses de 2,6%, o comércio brasiliense apresentou recuo este ano de 1,3%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e EstatÃstica (IBGE). Mas, até o fim de 2009, a previsão da Federação do Comércio do DF (Fecomércio) é recuperar as vendas e igualar o resultado ao do ano passado. ;A expectativa é igualar ou vender no máximo 1% a mais que em 2008;, afirma o presidente da federação, senador Adelmir Santana. A regularização das terras que vem sendo autorizada pelo Governo do DF nos últimos meses é o que deve ajudar o setor agropecuário, de acordo com o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do DF (FAPE-DF), Renato SimplÃcio. Com o terreno regularizado, os produtores têm mais facilidades para ter acesso ao crédito. ;Assim vamos conseguir aumentar a produção em 2009;, torce SimplÃcio. (MF) » Ãudio: ouça entrevista com o Presidente da Codeplan, Rogério Rosso