postado em 19/04/2009 09:17
Durante oito meses, Fabiana Braga da Silva, de 20 anos, trabalhou como secretária em uma escola particular. Mesmo sendo curto, esse período foi suficiente para que a brasiliense ficasse desempregada. Já faz sete meses que ela perdeu o emprego e, antes dessa ocupação, o tempo máximo de permanência no posto foi de um ano e seis meses. ;Os patrões não querem manter o funcionário e sempre vêm com a desculpa de que precisam cortar pessoal;, acredita a moradora da Asa Norte. Fabiana é um entre os milhões de exemplos de um fato: a maioria do emprego assalariado no setor privado dura menos que dois anos no Distrito Federal e em São Paulo. Foi o que constatou uma tese de mestrado defendida na Universidade de Brasília (UnB), semana passada , pelo sociólogo Roberto Gonzalez. A pesquisa deixou de fora autônomos e trabalhadores domésticos.
O estudo mostra que pelo menos 50% dos empregos são efêmeros. Com base em dados divulgados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o pesquisador analisou indicadores de 1992 a 2006, referentes ao Distrito Federal e à região metropolitana de São Paulo. Outros 25% dos postos de trabalho têm duração menor que oito anos, enquanto os 25% restantes superam cinco anos.
De acordo com a pesquisa, intitulada Flexibilidade e Permanência ; A Duração dos Empregos no Brasil, ficar desempregado é um fator intimamente ligado a tempos de serviço reduzidos. O sociólogo afirma que a duração média do emprego é muito baixa e se modificou pouco ao longo do período considerado na pesquisa. Para ele, a elevada rotatividade de postos de trabalho aumenta em estações de maior crescimento econômico e se deve a demissões efetuadas para ajustar o quadro de funcionários. ;Essa baixa duração enfraquece a capacidade dos trabalhadores de se organizar e ajudar as empresas a preferirem empregados específicos;, pondera.
Em seus estudos, Gonzalez também chega à conclusão de que permanecer no mesmo emprego por mais tempo pode ser sinônimo de maiores salários e o alcance de cargos mais elevados dentro da mesma empresa. O estudioso identificou que funcionários com no mínimo 10 anos de cargo ganham, em média, salários até três vezes maiores que as pessoas que ficam menos de um ano no emprego. ;Se o trabalhador fica preso a empregos de baixa remuneração, ele limita suas chances de alcançar melhores cargos;, pondera.
Outro olhar
A dissertação de mestrado concluiu, entretanto, que o tempo de permanência dos empregos aumentou. No DF, cresceu 26% ao longo dos 14 anos consultados. Já em São Paulo houve incremento de apenas 6%. Os empregos com maior estabilidade estão na indústria de transformação, em cujos cargos os paulistas permanecem 61 meses em média, contra 49 meses da população do DF.
;Se a gente tiver uma expectativa de salário melhor, dá para ficar bastante tempo. Só que os salários comerciais são menores;, afirma Luis Ribeiro Alves, morador do Guará II. Desde o início do ano ele está desempregado, mas já ficou quase três anos em um mesmo emprego. Luis afirma ter encontrado dificuldades para conseguir estabilidade com carteira assinada. E já pensa em cursar uma graduação para aumentar a probabilidade de durar mais nos empregos privados. ;Sempre ganhei no máximo R$ 500. Com nível superior, poderia ganhar um salário inicial de R$ 3 mil;, diz.