Economia

Desemprego marca 1º de Maio

Nível de desocupação é histórico em quase todos os países, o que motiva atos violentos e enfrentamento com a polícia. Especialistas e governo divergem sobre o futuro do emprego e os efeitos da crise no país

postado em 02/05/2009 08:27
Por causa da crise econômica, o feriado que marcou o Dia do Trabalho teve pouco o que ser comemorado. Com o aumento das demissões em quase todos os países, empregados e desempregados foram às ruas protestar e exigir dos governos ações capazes de criar vagas e preservar as já existentes. Atingido em cheio pela turbulência global, o mercado de trabalho encolhe tanto nas economias desenvolvidas, como nas emergentes. Nível de desocupação chega a patamares históricos em regiões da Europa, da Ásia e nos Estados Unidos. No Brasil, a taxa de desemprego medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) subiu 0,5 ponto percentual de fevereiro para março, passando para 9%. No resto do mundo, com destaque para os Estados Unidos e a Europa, a situação não é diferente. Na Espanha, por exemplo, país que possui a taxa de desemprego mais elevada do continente, o índice bateu em 17,36% no primeiro trimestre do ano ; percentual mais alto dos últimos 30 anos. O diretor-técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz, avalia que, apesar de ruim, o cenário brasileiro é confortável comparado ao que acontece no resto do planeta. ;No Brasil, a taxa de desemprego está subindo porque os empregos gerados estão sendo insuficientes para absorver toda a força de trabalho. Na Europa e Estados Unidos, a situação é outra. Lá está ocorrendo a queima de postos de trabalho;, explicou o especialista. Nos Estados Unidos, que sofre com a crise econômica há pelo menos um ano e meio, o desemprego está retornando aos índices verificados durante a crise do petróleo dos anos 1970. Em março último, bateu em 8,5%. Já na Alemanha, país que possui leis restritivas à demissão, o índice de desemprego se move mais devagar. Mesmo assim, chegou a 8,3% em abril deste ano. E a tendência é de aumento do número de desempregados em todo o mundo, pelo menos neste primeiro semestre de 2009. ;Sofremos uma aceleração grande do desemprego a partir do fim do ano passado, mas agora, apesar de continuar a tendência de alta, o crescimento (do desemprego) se dará num ritmo menor;, avaliou Ganz. De acordo com o pesquisador, uma possível reversão só se dará no segundo semestre do ano. Até lá, será possível observar dados positivos no mercado formal, mas eles serão em volume inferior às necessidades do mercado de trabalho. Para o professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) e economista José Márcio Camargo, o desemprego no Brasil deverá chegar a dois dígitos ainda neste semestre. O especialista avalia que a situação melhorou em relação ao início do ano, quando a queda da produção foi ;avassaladora;, mas mesmo assim a estabilização de momento ainda está se dando em um nível muito baixo. Apesar de importante, José Márcio Camargo avalia que a ajuda do governo a alguns dos setores mais prejudicados e que empregam mão de obra intensiva, como a construção civil e o setor automotivo, tem prazo de validade. Segundo ele, desonerações funcionam por um certo tempo, mas não são suficientes. ;A redução de IPI antecipa consumo futuro, o que significa que, no futuro, o consumo vai cair e, com ele, podemos ter um aumento do desemprego além do esperado;, explicou. Na comparação com os demais países, o economista da PUC afirma que o Brasil é muito mais parecido com a Europa do que com os Estados Unidos em termos de mercado de trabalho. Embora não na mesma magnitude, o professor explica que o Brasil tem um sistema de proteção social (seguro-desemprego) que garante renda ao trabalhador pouco qualificado, assim como um sistema de previdência generoso. Protestos no mundo Centenas de milhares de pessoas foram às ruas ontem em todo o mundo para protestar contra o aumento das demissões nos últimos meses e o imobilismo de alguns governos frente aos efeitos da crise econômica mundial. Em várias cidades, manifestantes chegaram a enfrentar a polícia, que usou a força para inibir a violência e os atos de vandalismo. Na Alemanha, cerca de 500 mil tomaram as avenidas mais movimentadas de Berlim. Militantes de extrema-direita e de extrema-esquerda foram detidos depois de se enfrentarem. O Dia do Trabalho é marcado há décadas por manifestações violentas em cidades alemãs. ;Isso não pode continuar;, afirmou o líder sindicalista Detlef Wetzel durante uma manifestação organizada na ex-República Democrática da Alemanha (RDA). Na Turquia, cerca de 50 pessoas, entre elas 36 policiais, ficaram feridas. As batalhas urbanas duraram várias horas em Istambul, onde manifestantes atacaram a polícia a pedradas e com coquetéis molotov, e promoveram um gigantesco quebra-quebra no centro da cidade. Incidentes isolados foram registrados na Grécia, sobretudo em Atenas. Já na França, 465 mil pessoas, segundo órgãos oficiais, e 1,2 milhão, de acordo com a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), foram às ruas. Pela primeira vez, todos os sindicatos franceses apareceram unidos nas passeatas do Dia do Trabalho, criticando a política do presidente Nicolas Sarkozy. Os italianos também reclamaram do governo de seu país. Em Cuba, 500 mil trabalhadores se reuniram na Praça da Revolução, em Havana. Na Bolívia, o presidente Evo Morales liderou em La Paz uma manifestação de operários e camponeses para celebrar o dia 1; de Maio. Em Santiago no Chile, cerca de 20 pessoas foram detidas na capital, Santiago. Na Venezuela, um protesto organizado em Caracas foi repelido com truculência pela polícia, que utilizou bombas de gás lacrimogêneo, jatos d;água e até balas de borracha. Esperança no Brasil O ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, disse ontem confiar que o Brasil vai encerrar 2009 com saldo positivo na criação de vagas formais de emprego. Em entrevista durante a comemoração do Dia do Trabalho, em São Paulo, Lupi afirmou que os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de abril irão superar a criação de empregos registrada em março, quando houve geração de 34,8 mil vagas. O ministro atribuiu a crença no crescimento dos postos de trabalho à recuperação da economia, principalmente nos setores de construção civil, comércio e serviços. ;O mercado interno é forte. Em abril, vai haver crescimento de emprego ainda maior que em março;, disse. ;2009 vai acabar com saldo positivo;, afirmou. O ministro voltou a criticar o ;oportunismo; de empresários que usam o momento de crise econômica para demitir. Ele citou como exemplo de ;precipitação; a indústria automobilística e a Embraer, mas ponderou que existe essa distorção em vários outros setores da economia. ;Não adianta alguns quererem se aproveitar da crise para ganhar dinheiro;, criticou. ;O Brasil está cansado de espertos.; Seguro Sobre novas medidas no sentido de ampliar o número de parcelas do seguro-desemprego para mais setores além dos que foram contemplados em março, Lupi afirmou que terá respostas sobre esse pedido das centrais sindicais na segunda quinzena de maio. Ele também opinou sobre possíveis mudanças no cálculo do rendimento da caderneta de poupança, medida que está sendo estudada em Brasília. ;Jamais o governo vai prejudicar o pequeno e o médio poupador;, declarou. O Dia do Trabalho reuniu aproximadamente 1 milhão de pessoas na Zona Norte de São Paulo, em um evento esvaziado da presença de políticos.

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