Jornal Correio Braziliense

Economia

Crise afasta risco de apagão no país

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A turbulência global, que abalou o mundo, provocando redução na produção e desemprego, teve pelo menos um aspecto positivo no Brasil. A operação do Sistema Interligado Nacional, que estava próxima dos seus limites entre o fim de 2007 e o início de 2008, ganhou um alívio ; e mais tempo para o planejamento ; com a retração da economia. O encolhimento da demanda afastou o fantasma do racionamento, que tinha voltado a rondar o país, jogando o preço da energia comercializada no mercado spot (sem contrato) nas alturas no início de 2008. O diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), órgão responsável pela coordenação e controle da operação da geração e transmissão de energia elétrica do sistema nacional, Hermes Chipp, reconhece que a retração é favorável do ponto de vista da segurança do sistema, mas assegura que mesmo sem crise não haveria risco de apagão este ano ou no ano que vem. Ele diz que o reflexo da crise a médio e longo prazos dependerá da recuperação brasileira. ;Em médio e no longo prazos, a demanda de energia no Brasil vai depender de vários fatores da economia e das medidas que estão sendo tomadas em conjunto, em nível internacional, bem como aquelas que vêm sendo adotadas pelo governo brasileiro. Até agora, essas iniciativas se mostraram adequadas;, avalia. Consumo O diretor-geral do ONS lembra que em maio de 2008, a estimativa de avanço do consumo de energia era de 5,9%. Em setembro, esse número foi revisado para 5,4%. ;A partir daí, identificamos sinais da crise. Apuramos redução de consumo no terceiro trimestre, com queda mês a mês. Em novembro de 2008, a carga atingiu o mesmo patamar de novembro de 2007. E veio caindo até janeiro.; Hermes Chipp informa que em fevereiro foi constatada recuperação e que a carga no primeiro trimestre de 2009 se manteve no mesmo nível do primeiro trimestre de 2008. De acordo com ele, isso pode ser entendido como um sinal das medidas de incentivo à indústria automobilística e de esvaziamento dos pátios das montadoras. No fim de março, o ONS fez, em conjunto com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), uma a revisão das projeções da demanda e verificou que a carga em 2009 aumentará 2,1% em relação a 2008. Embora a crise afete a expansão do país, a redução da carga é, na avaliação de Hermes Chipp, favorável. ;Com a retração econômica, os requisitos de consumo são menores, o que é favorável do ponto de vista da segurança do sistema. Mas, independente disso, não haveria nenhum problema em 2009 e 2010;, salienta o diretor-geral. Térmicas O diretor-geral diz que, considerando as condições dos reservatórios e o recente aumento das afluências, as térmicas praticamente não estão sendo despachadas. Entretanto, a partir de maio, com o início do período de seca, algumas térmicas poderão ser acionadas até o fim de novembro com a finalidade de atingir as metas de armazenamento. Estas medidas garantem o atendimento ao mercado consumidor em 2009/2010, mesmo considerando-se a pior escassez de chuvas do histórico. Hermes Chipp defende que o custo da estratégia para garantir o atendimento é menor do que o custo do racionamento. Ele frisa que quem quiser segurança terá que pagar. ;O despacho das térmicas complementares evita o racionamento. Não podemos arriscar. O impacto de um apagão energético é muito doloroso para país como o nosso, que está querendo crescer de forma de acelerada;, diz. Ele também salienta que a diminuição da demanda em curto prazo se refletirá em médio prazo. A previsão original era de enfraquecimento da carga de demanda em 2008. Em maio do ano passado, na primeira previsão feita pelos dois órgãos, a expectativa era de que o volume da carga crescesse 4,9% em comparação com 2007. Na segunda revisão, realizada em setembro de 2008, antes de uma identificação mais clara da crise, a previsão da carga baixou para 3,4% e acabou fechando o ano menor ainda, em 2,8%. Essa foi a expansão da demanda de energia no país no ano passado.