Economia

Alterações na poupança geram dúvidas e causam polêmica

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postado em 03/05/2009 09:04
As mudanças na poupança preocupam investidores e causam polêmica. O governo busca uma solução que possibilite manter um rendimento que ;proteja; o pequeno poupador, mas que, por outro lado, não incentive a saída de aplicadores de fundos de investimentos e Certificados de Depósito Bancário (CDBs, título de renda fixa emitido por bancos comerciais). Com a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), que, na semana passada, reduziu a taxa básica de juros (Selic), de 11,25% para 10,25% ao ano, a caderneta se torna mais atraente. ;Como o BC tem atuado no sentido de diminuir os juros, os fundos de aplicação se tornam menos atrativos do que a poupança. Logo, há uma tendência de migração dos recursos de um para o outro;, explica o coordenador do Núcleo de Estudos de Política Monetária do Ibmec, Claudio Shikida. ;A migração provocaria um desequilíbrio no mercado financeiro, posto que os recursos alocados nessas aplicações são destinados ao crédito para consumo. Assim, as mudanças são necessárias caso a taxa básica de juros continue em declínio;, afirma o professor da Fundação Dom Cabral (FDC) Haroldo Mota. Alternativas A diarista Dina da Silva Rocha Coelho, casada com Marcelo e mãe de José Augusto, de 2 anos, faz toda a economia possível para no fim do mês depositar a metade do seu salário na poupança. ;Fiz isso para pagar meu casamento. Há três anos, junto para comprar minha casa própria. Sei que vai demorar, mas também sei que esse é o caminho;, conta. Ela diz que as notícias sobre possíveis modificações na poupança trouxeram preocupação. ;As mudanças podem atrapalhar meu sonho. É com muito sacrifício e luta que junto meu dinheiro;, pondera. Tentando tranquilizar o investidor comum, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que ;jamais tomaria qualquer medida que prejudicasse as pessoas que investem na poupança;. A primeira alternativa discutida, e que conta com apoio na área política do governo, é punir grandes aplicadores cobrando Imposto de Renda (IR) a partir de um determinado valor. Chegou-se a falar em R$ 100 mil. O imposto, porém, só poderia incidir a partir de 2010 e não resolveria o problema da migração de dinheiro dos fundos para a poupança. Também foi levantada a possibilidade de criar uma contribuição, que entraria em vigor em 90 dias. Já a equipe econômica defende o fim da Taxa Referencial (TR) e a criação de um percentual da Selic como rendimento da poupança, no formato em que os bancos fazem com os CDBs. A ideia seria instituir um percentual como 55% da Selic, que daria um rendimento líquido, por exemplo, de 5,6% ao ano, sendo que hoje o rendimento fica em torno de 6,17%. O problema, apontado pela área política, é que a definição do percentual impactaria dois pontos sensíveis. O primeiro é o financiamento imobiliário, já que 65% dos recursos vão para o setor. O outro é a correção do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), fonte de recursos para obras de infraestrutura e de saneamento. Outra possibilidade seria criar diferentes faixas de rendimento. A proposta que ganha força, no entanto, é a que limita a entrada de grandes depósitos na poupança. A instituição de um teto seguiria os moldes do Tesouro Direto, títulos do governo, em operações limitadas a R$ 400 mil. Para Shikida, existem duas explicações que tentam ;adivinhar; as motivações do governo. ;Uma delas é a preocupação com o pequeno poupador, a outra, que o governo não quer perder recursos para continuar se endividando. Historicamente, a poupança tem rendido menos do que os fundos. Historicamente, também, o governo não tem seguido uma trajetória consistente de tentar diminuir seu gasto público;, pondera. Se a intenção é favorecer o pequeno poupador, o adequado, na opinião dele, seria forçar a redução das taxas que os administradores de fundos cobram. Raio-X A facilidade em investir na poupança torna-a instrumento ideal de aplicação para o pequeno ou investidor conservador. Ao contrário de outras aplicações, não é cobrada taxa de administração nem impostos. Levado em consideração somente o rendimento, contudo, a poupança ainda não compensa. O economista-chefe da Ativa Corretora, Arthur Carvalho, dá a dica. Para a operação ser vantajosa basta fazer a conta: poupança mais taxa referencial tem que ser maior do que a rentabilidade do fundo menos o Imposto de Renda e taxa de administração. A vida do pequeno investidor que aplica em fundos, contudo, deve ficar mais difícil. Para esse público, as taxas de administração passam de 4% ao ano e corroem boa parte da rentabilidade. Assim, para ganhar da poupança, será preciso, agora, investir em fundos com taxa de administração igual a 1% ao ano, ou menos que isso. O problema é que esses fundos só estão disponíveis para investidores com aplicação média de R$ 85 mil.

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