Economia

Visanet lança primeiro IPO de 2009

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postado em 03/05/2009 18:48
São Paulo - Engavetado desde o agravamento da crise, no ano passado, o plano da empresa de cartões Visanet de lançar ações na Bolsa está sendo retomado. Segundo fontes do mercado, a oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) deve ocorrer nas próximas semanas. Se concretizado, o IPO da processadora de cartões será o primeiro na Bovespa desde junho do ano passado, quando a petrolífera OGX conseguiu levantar R$ 6,7 bilhões. A captação da empresa de Eike Batista foi a maior da história da Bolsa e encerrou um ciclo inédito de vigor do mercado de capitais brasileiro. Mas a emissão de ações da Visanet também será responsável por marcar uma nova fase na Bolsa. Segundo o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Ernesto Lozardo, o movimento da empresa pode significar o início da retomada dos processos de IPO no País. "Se a emissão de ações da Visanet se concretizar, vai dar um alento a quem ficou na fila do IPO", comenta. Segundo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), 32 empresas que se preparavam para abrir o capital desistiram oficialmente do IPO desde de janeiro de 2008 até hoje. Porém, o alento não servirá para todas essas companhias. Segundo Lozardo, apenas empresas realmente atrativas devem se arriscar na Bolsa. Empresas médias também não terão espaço no mercado de capitais nos próximos anos. "O mais grave já passou. Agora, temos a construção de um novo mercado. Enquanto isso ocorre, ele vai olhar as grandes companhias", afirma Lozardo. Estima-se que a venda de ações da Visanet levante cerca de R$ 5 bilhões. A concorrente Redecard, única empresa que emitiu ações este ano na Bovespa, em uma oferta secundária, também fez uma captação bilionária, de R$ 2,213 bilhões. "O mercado para empresas maduras continua. Talvez no segundo semestre tenhamos duas ou três operações, mas com preços mais ajustados e empresas mais seletivas", afirmou o vice-presidente executivo do Itaú BBA, Jean-Marc Etlin, em um evento para executivos de fundos em São Paulo, há um mês. A consequência disso é que, por enquanto, as empresas que suspenderam o IPO - muitas médias e até pequenas, que inflaram suas operações para ter porte para fazê-lo - terão de achar outras alternativas de capitalização. Para empresas que se endividaram na preparação para a oferta, esse desafio é ainda mais urgente.Algumas já encontraram saídas. A Locaweb, de internet, trocou o IPO - onde pretendia levantar R$ 200 milhões, no fim do ano passado - por um empréstimo bancário bem mais modesto, de R$ 27 milhões, para tocar os planos de expansão. O diretor de relações institucionais Celso Nunes, acredita que a Bolsa não deve ser uma opção nos próximos dois ou três anos. "Empresas maiores terão mais facilidade agora. Um IPO de empresa do nosso porte requer mais apetite de risco, então, a história é bem diferente." A Droga Raia, fundada pela família Pipponzi há quase cem anos, também se preparou para o IPO, mas teve de abortar o plano com a chegada da crise. Segundo o vice-presidente comercial Eugênio De Zagottis, a empresa gastou "uma quantia considerável, em um processo que não chegou ao fim". Seus executivos chegaram a fazer road-show nos Estados Unidos e os bancos Credit Suisse e Unibanco foram contratados para coordenar a oferta. Mas o esforço não foi em vão, afirma De Zagottis. Seis meses depois da desistência, a rede de farmácias vendeu 30% de seu capital para os fundos de investimento Gávea e Pragma Patrimônio. Cada fundo ficou com uma fatia de 15% da empresa. "A conclusão do negócio foi rápida porque já havíamos feito a lição de casa." A empresa de construção civil Direcional, de Belo Horizonte, seguiu pelo mesmo caminho. Após a crise interromper os planos de captar dinheiro na Bolsa, processo onde chegou a investir R$ 3,2 milhões, vendeu 25% do capital para o fundo de investimentos Tarpon. O negócio concluído em março de 2008 rendeu R$ 250 milhões para a empresa. "Diante do cenário de contração de liquidez, que começou no fim de 2007, a opção de receber aporte de um fundo de private equity parecia muito mais viável", diz o diretor financeiro Daniel Amaral. Dívidas - Outra desistente, a construtora pernambucana Moura Dubeux pediu o registro de abertura de capital na CVM em agosto de 2007. Neste mesmo ano, pegou um empréstimo de R$ 25 milhões com o Banco Credit Suisse, um dos coordenadores da oferta de ações. Segundo prospecto preliminar enviado à CVM, a empresa pretendia usar 10% do dinheiro captado no IPO para pagar suas dívidas. Com a reviravolta do mercado, teve de desistir da abertura de capital. Agora, sua alternativa tem sido fazer parcerias em projetos específicos. "O IPO representava uma entre várias alternativas de captação de recursos", informou a empresa, por meio de sua assessoria de imprensa.

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