postado em 13/05/2009 07:55
Os primeiros sinais de recuperação na produção industrial sentidos em março não beneficiaram o mercado de trabalho. As demissões no segmento continuam. Pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e EstatÃstica (IBGE) referente ao mês de março mostra que o recuo no número de empregados no acumulado dos últimos 12 meses é o maior da série histórica, iniciada em 2001. Em março havia 5% menos funcionários que no mesmo mês de 2008. No acumulado do primeiro trimestre do ano, a retração é de 4% e, desde outubro de 2008, quando os primeiros sintomas da crise econômica começaram a aparecer no paÃs, a indústria já reduziu em 5,8% o quadro de pessoal.
A explicação para a continuidade das demissões, mesmo com um alÃvio na atividade industrial ; a produção em março aumentou em oito das 14 regiões pesquisadas ; se deve ao atraso com que os efeitos da retração econômica chegam ao emprego. A retomada também leva mais tempo. Em março, a queda perdeu ritmo: em relação a fevereiro, o recuo foi de 0,6%, comparando números dessazonalizados, menor que nos meses anteriores (veja quadro). Mas não é sinal de recuperação, na opinião de especialistas. ;Isso representa um arrefecimento da queda, a tendência de diminuição do emprego perdeu o ritmo, mas não significa que no curto prazo os problemas estejam resolvidos. Mas, agora, o desemprego se dará de forma menos intensa;, afirma o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rogério de Souza.
A desaceleração da queda continuará em abril, segundo o diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Francini. A pesquisa que a entidade divulga amanhã referente ao estado de São Paulo mostra que a produção começa a reagir, aliviando as demissões. ;Estamos assistindo a um retorno dos investimentos e há sinais de uma clara diminuição da intensidade das demissões;, afirma. Apesar disso, a expectativa é de que mesmo que o ritmo de produção se acelere, o mercado de trabalho não consiga recuperar as perdas. O ano será negativo para o emprego industrial. ;Em março, há uma melhora, temos taxas menos negativas, mas há predominância de queda, não configura nenhum tipo de inversão do cenário, embora a produção mostre uma ligeira recuperação, mas é algo muito suave;, afirma o economista do IBGE André Macedo.
PerÃodo negativo
Os três primeiros meses do ano foram de retração para 14 dos 19 setores pesquisados. Na média nacional, a indústria reduziu 4% no perÃodo em relação aos mesmos meses de 2008. Os setores que mais sentiram os efeitos da turbulência econômica foram os de madeira e calçados e couro, onde a queda passou de dois dÃgitos.
Renda está menor A diminuição da massa salarial se acentuou em março e terá importância significativa para estender os efeitos da crise sobre o emprego industrial por um perÃodo maior. O volume gasto pelas indústrias com a folha de pagamento reduziu 2,5% em relação a fevereiro, quando o resultado havia sido positivo em 1,9%. No acumulado do 1º trimestre, o IBGE encontrou estabilidade no volume. Mas, se o impacto no nÃvel de emprego leva um tempo para ser verificado após o inÃcio de uma turbulência, os efeitos sobre a renda são ainda mais tardios, diz o economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato da Fonseca. Os reajustes salariais elevados concedidos nos últimos anos e a geração de emprego seguraram a renda nos últimos meses, apesar da crise econômica. Mas, a partir de março, os rendimentos começaram a ser impactados. E, com menos renda, a população passou a consumir menos, retardando a melhora no número de ocupados no setor. ;A produção na indústria está voltando a crescer, mas o emprego demora mais a responder e há dúvida se conseguiremosreativar o consumo doméstico como estava ocorrendo até 2008. Depende de como será o impacto da crise sobre a renda;, afirma. (MF)