postado em 19/05/2009 07:55
Depois de quatro meses procurando emprego, Márcia Pereira de Almeida conseguiu a tão aguardada vaga: foi contratada como atendente no quiosque do BrasÃlia Shopping. O novo emprego é tudo o que a estudante do nÃvel médio quer no momento porque dá para conciliar o trabalho com os estudos. ;De manhã, vou para a escola, depois volto para casa e, antes de ir trabalhar, ainda dá tempo de fazer os deveres e estudar um pouco;, conta, satisfeita, a garota que praticamente acaba de sair da adolescência. O emprego no quiosque é o segundo de Márcia, que antes foi menor aprendiz por quase um ano.
A colocação que Márcia conseguiu mostra que a situação já está melhorando no mercado de trabalho do Brasil. Os números divulgados ontem pelo ministro do Trabalho, Carlos Lupi, demonstram isso. Pela primeira vez no ano, a quantidade de empregos gerados em abril foi capaz de reverter, com sobra, as perdas que vinham se acumulando desde o inÃcio de 2009. No mês passado, o saldo lÃquido do emprego foi positivo: 106.205 novas vagas. Somado com os resultados de fevereiro e março, de mais 43.997 vagas, e descontadas as perdas de janeiro, que foram da ordem de 101.748 postos, o primeiro quadrimestre do ano fechou com saldo lÃquido do emprego positivo em 48.454 vagas.
Pode parecer pouca coisa na comparação com anos anteriores. Nesse perÃodo em 2008, por exemplo, o mercado de trabalho acumulava 848.962 vagas. Desde 2004, o número de novos empregos com carteira assinada criados nos primeiros quatro meses de cada ano sempre superou os 500 mil. Acontece que nos anos anteriores não havia a crise econômica que varreu empregos por todo o mundo e atingiu o Brasil a partir de novembro de 2008. Mesmo depois de três meses consecutivos de aumento do emprego formal, o número de empregos que a economia brasileira foi capaz de gerar ainda está longe de cobrir a perda de novembro e dezembro, quando foram queimados 695.767 postos de trabalho.
A virada foi comemorada pelo ministro do Trabalho. Carlos Lupi estava exultante com o que classificou de reação de todas as cadeiras produtivas, inclusive a indústria de transformação, que foi positiva em apenas 183 postos de trabalho. O ministro fez questão de dizer que o Brasil é o primeiro paÃs do G-20 a criar empregos. Em abril, segundo Lupi, enquanto o Brasil gerava mais de 100 mil postos de trabalho, os Estados Unidos amargava a queima de 500 mil empregos. No ano, os Estados Unidos já contabilizam mais de cinco milhões de postos de trabalho destruÃdos pela crise.
;Eu torço e trabalho para o Brasil dar certo. Tem gente que torce e trabalha para o Brasil dar errado;, disse Lupi que aproveitou para criticar as pesquisas de emprego que só abrangem as grandes regiões metropolitanas. O emprego vem crescendo mais no interior e isso só o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) é capaz de registrar;, observou. Em abril, os dados do Caged dão razão ao ministro. Dos 106.205 empregos criados, apenas 20 mil foram gerados nas regiões metropolitanas.
O setor que está alavancando o emprego continua sendo o de serviços (59.279 vagas). A seguir vêm agricultura (22.684 vagas); construção civil (13.338 vagas); comércio (5.647) e administração pública (5.032). A indústria de transformação interrompeu a queda acentuada dos últimos cinco meses. Mesmo assim, alguns dos seus subsetores, como a indústria metalúrgica e mecânica, desempregaram.
Distrito Federal
Para o ministro Carlos Lupi, a curva do emprego vai se inverter. ;Começamos devagar, mas vamos crescer.; Otimista, Lupi se atreveu a fazer a primeira previsão para o ano. ;Vamos gerar mais de um milhão de empregos e crescer entre 2% e 2,5% do PIB (Produto Interno Bruto);, assegurou.
Em termos regionais, o Distrito Federal está entre as seis unidades da Federação que mais criaram vagas. Em BrasÃlia, foram 4.980 postos de trabalho no mês. Devido a problemas sazonais, com entressafra do setor sucroalcooleiro, Alagoas foi o estado que mais desempregou (menos 16.680 empregos).
Previsão de mais vagas Caso a velocidade de criação de postos de trabalho de abril seja mantida nos próximos dois meses, em julho o Brasil deverá voltar ao nÃvel médio de geração mensal de 200 mil postos de trabalho como ocorreu no segundo semestre de 2008, afirmou o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann. Segundo ele, o número de 106.205 novas vagas em abril foi uma surpresa positiva. ;A reação favorável apontada pelos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) foi causada pela melhora da economia, motivada, sobretudo, pela polÃtica anticÃclica adotada pelo governo, que incluiu a redução de impostos;, comentou. Em sua avaliação, o saldo positivo de empregos deve ficar próximo a 600 mil vagas neste ano, número inferior aos 1,4 milhão de empregos em 2008. Para maio, ele acredita que é possÃvel uma elevação do número de empregos gerados em relação a abril. Pochmann destacou como positiva a maior oferta de trabalho em São Paulo, que tradicionalmente puxa a arrancada na oferta de oportunidades. Para ele, a manutenção da retomada da geração de empregos deve ser reforçada pela continuidade do corte de juros pelo Banco Central, a fim de fortalecer o consumo, elevar a demanda agregada e retomar o vigor dos investimentos.