Economia

Demitidos em razão da crise, corretores de Wall Street dão aula nos EUA

;

postado em 22/05/2009 16:18
Quando o corretor Scott Brooks foi demitido da operadora de cartões de crédito American Express em fevereiro, ele decidiu dar as costas ao mercado financeiro e reviver um sonho do qual abrira mão anos antes: ser professor de matemática. Ele é morador do Estado de Nova Jersey (Estados Unidos), que faz fronteira com Nova York e serve como moradia para centenas de trabalhadores do mercado financeiro da maior cidade americana. O sistema educacional do Estado é um dos que mais sofre com a escassez de professores de matemática. Na semana passada, ele ouviu falar do programa "Traders to Teachers" ("De corretores a professores", em tradução live). A medida foi criada pela Universidade Montclair State para recolocar funcionários demitidos da indústria financeira de volta no mercado de trabalho, em meio às milhares de demissões provocadas pela pior recessão nos EUA desde os anos 30. "Você acaba ficando acomodado com a sua carreira, e eu estava ganhando milhares de dólares, e era ótimo", afirmou Brooks após uma entrevista de emprego na universidade. "Às vezes as coisas têm que pegar fogo pra você sair do conforto e seguir o próprio caminho. E Wall Street inteira está em chamas", brincou o corretor. Brooks, 39, tem dois filhos --de oito e dez anos-- e já realiza trabalhos em escolas, ensinando beisebol e futebol a crianças da idade das suas. Segundo ele, essa experiência é a que atiçou seu interesse em retornar aos estudos de matemática e pedagogia para dar aulas. Programa pioneiro Na primeira etapa do programa, a universidade deve abrir 146 vagas para um curso de 25 aulas, distribuídas durante três meses começando em setembro. A partir de janeiro, os ex-corretores e aplicadores do mercado financeiro devem realizar um estágio em colégios da cidade. Entre os requisitos do programa, os candidatos precisam ter sido demitidos de empresas do mercado financeiro e possuir diploma universitário, não necessariamente em matemática. Após dois anos atuando como docentes, eles serão reconhecidos como professores de matemática e estarão prontos para atuar completamente na área. "É uma leva completa de novos profissionais", afirmou Ada Beth Cutler, diretora do College of Education, ressaltando que a maior parte das pessoas que procuraram o programa estão na faixa dos 40 anos. "A maioria deles não se graduou em matemática, mas em finanças ou contabilidade. Todos possuem grande currículo na área matemática, e é isso que eles vão usar no dia a dia a partir de agora." Cada um poderá receber bolsas de estudos de até US$ 4.000 do governo federal enquanto estiverem no programa. 'Volta por cima' Tony Malanga, 46, ex-administrador de fundos demitido do banco Natixis Capital em fevereiro, afirma que a reputação dos banqueiros foi duramente afetada pela opinião pública após a crise, mas muitos em Wall Street tinham o desejo de "dar a volta por cima". "Eu mesmo nunca me vi como um demônio magnata de Wall Street", disse Malanga. "Não faço parte de um clubinho de elite. Eu tenho uma camionete e vou à igreja aos domingos." Com seis filhos, Malanga diz que a família terá que se acostumar com o salário de professor e aprender a fazer economias. "Vivíamos em uma situação em que eu poderia realizar as vontades de todos na família", contou. "Agora viveremos em uma situação em que as vontades serão outras e qualidade de vida e satisfação profissional ajudarão nisso." Cutler afirmou que as escolas que podem contratar esses profissionais deverão conceder benefícios pela experiência profissional extraclasse --pelo tempo de atuação no mercado financeiro. "O salário inicial deles pode ir de US$ 45 mil (por ano) a US$ 60 mil", disse. Scott Brooks, o ex-corretor do American Express, por exemplo, ganhava em torno dos US$ 100 mil por ano. Ensino A medida ainda deve ajudar a melhorar o ensino. Os EUA têm uma das maiores taxas de abandono escolar entre os países desenvolvidos, além de ficarem abaixo de outras potências nas notas de matemática e leitura de seus estudantes. "Se o programa for bem-sucedido, nós poderemos realizar uma mudança bastante necessária na qualidade do ensino básico em Nova Jersey", afirmou Susan Cole, a presidente da Universidade Montclair State, criadora do programa pioneiro.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação