postado em 26/05/2009 10:27
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, afirmou, nesta segunda-feira, que contará com a assessoria da Caixa Econômica Federal para a construção de uma rede bancária pública e na criação de um sistema de financiamento de casas populares na Venezuela.
O acordo deve ser assinado nesta terça-feira (26/5), em Salvador, na Bahia, onde Chávez se reunirá com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tratar da agenda comercial bilateral e de temas de integração regional.
"O projeto da Caixa Federal é muito importante. Eles querem nos ajudar com sua experiência (no financiamento para) a construção de moradias e em um sistema de poupança popular", afirmou o presidente venezuelano durante reunião dos chanceleres da Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas) transmitida pelo canal estatal. "Amanhã vamos assinar este documento para estabelecer na Venezuela uma rede bancária pública e programas de moradia", acrescentou.
O déficit habitacional na Venezuela é de cerca de 2 milhões de casas. A rede bancária que pode ser utilizada para a implementação desse sistema é a do Banco da Venezuela, filial do grupo Santander, cuja reestatização foi acertada na semana passada.
Desde o ano passado, Chávez vinha afirmando que pretendia transformar o Banco da Venezuela em uma versão venezuelana da Caixa Econômica Federal.
BNDES
Chávez também indicou que, durante seu sexto encontro com Lula, poderá ser criado um fundo binacional com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) "para incrementar os investimentos e a força de ambos os países". "Ao Lula faltam dois anos (de mandato), para nós, faltam quatro anos, (razão pela qual) decidimos acelerar esses convênios de cooperação", afirmou.
Na prática, de acordo com fontes do Itamaraty, a Venezuela decidiu recorrer aos fundos do BNDES para financiar os grandes projetos de infraestrutura no país que estarão a cargo das grandes empreiteiras brasileiras. Na semana passada, o BNDES anunciou que o total do empréstimo à Venezuela poderia ser de US$ 4,3 bilhões.
Uma fonte de chancelaria venezuelana, no entanto, afirmou à BBC Brasil que o valor da linha de crédito poderia girar entre US$ 5 a US$ 10 bilhões. "É um acordo que interessa a ambos", disse a fonte. "Para as empresas brasileiras, é a possibilidade de ter acesso a um mercado garantido e, para a Venezuela, a oportunidade de dar continuidade aos projetos de desenvolvimento e utilizar nossos recursos petroleiros em outros projetos nacionais", acrescentou.
Outro fator a ser considerado é a crise financeira internacional, que derrubou os preços do petróleo, motor da economia venezuelana. "Obviamente, se o barril estivesse a US$ 150, o governo não teria porque aceitar o financiamento do BNDES", afirmou a fonte venezuelana. De acordo com o Ministério de Finanças, a receita petrolífera caiu pela metade neste ano, em comparação com 2008.
A queda no preço do barril de petróleo, cotado a US$ 53 na semana passada, também afetou o desempenho do PIB no primeiro trimestre deste ano, que registrou crescimento de apenas 0,3% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo o Banco Central da Venezuela.
Avião cubano
De acordo com Chávez, também deverá ser firmado um acordo para a instalação de uma indústria binacional petroquímica na Bahia, em parceria com a brasileira Braskem e a venezuelana Pequiven.
Chávez viajou a Salvador na noite desta segunda-feira em um avião da companhia Cubana de Aviação, devido à falhas apresentadas no avião presidencial depois da visita ao Equador, neste fim de semana.
"Nós vamos hoje no avião de Fidel, de Raúl (Castro), do povo cubano", disse Chávez. "O nosso (avião) aspirou um pássaro", disse o presidente venezuelano.