Economia

Greve dos vigilantes transtorna vida da cidade

O primeiro dia de paralisação de 15 mil vigilantes fechou bancos e mudou a rotina de hospitais e órgãos públicos no Distrito Federal. Sem acordo, trabalhadores decidiram manter o protesto hoje

postado em 27/05/2009 08:33
Iniciada ontem, a greve dos 15 mil vigilantes do Distrito Federal causou transtornos à população e prejudicou o funcionamento de atividades essenciais. Muitas agências bancárias fecharam, hospitais públicos tiveram de deslocar funcionários de áreas administrativas para a linha de frente, a Biblioteca Nacional não atendeu o público, a Terracap cancelou a licitação de lotes referente ao mês de maio e o Detran interrompeu a visitação ao depósito de veículos apreendidos, que serão leiloados no próximo dia 6. A paralisação continua hoje e a expectativa é que os problemas se agravem. Em assembleia realizada no fim da tarde de ontem, os trabalhadores resolveram manter o protesto por tempo indeterminado. A categoria reivindica reajuste salarial de 15%. A proposta dos patrões prevê aumento de 5,83% ; inflação acumulada em 12 meses até a data-base, em 1º de maio. No ano passado, os vigilantes obtiveram um ganho de 6,8%, o que elevou o piso salarial para R$ 1.080. ;Queremos o mesmo percentual que o salário mínimo teve, além de mais 3% por reposição salarial de perdas passadas;, explicou Chico Vigilante, um dos diretores do Sindicato dos Empregados em Empresas de Segurança e Vigilância do DF (Sindesv-DF). O Sindicato dos Bancários do DF não soube informar quantas agências ficaram fechadas, mas a adesão foi maior nos bancos públicos. Apesar dos cartazes anunciarem a greve, algumas instituições privadas abriram, mesmo sem a presença de seguranças, de acordo com o presidente do sindicato, Rodrigo Britto. A Lei 7.102/83 prevê que as agências bancárias só podem funcionar se as condições de segurança forem plenas. ;Os bancos que abriram estão colocando em risco os bancários e os clientes. É perigoso ter agências abertas;, disse Britto. O Ministério Público do Trabalho (MPT) realizou audiência ontem com representantes dos sindicatos dos empresários e dos vigilantes. Como não houve acordo, o procurador Valdir Pereira da Silva decidiu ajuizar dissídio de greve na Justiça do Trabalho. ;A sociedade está descoberta;, resumiu. Enquanto os bancos permanecerem fechados, o protético Francisco Nunes Pereira, de 38 anos, ficará sem dinheiro. Com a senha de seu cartão do Banco do Brasil cancelada, ele só pode criar uma nova sequência no caixa. Os postos de atendimento eletrônicos não têm essa função. Ontem, o dinheiro não dava nem para pegar um ônibus de seu trabalho, no Setor Comercial Sul, até Sobradinho, cidade onde mora. ;Vou precisar pedir dinheiro para meu patrão até para o ônibus. Vou ficar sem dinheiro para pagar minhas contas de casa se essa greve continuar. Espero que acabe antes do dia 1º, quando começam a chegar as faturas;, explicou. A estudante de medicina Isabel Furtado, de 29 anos, encontrou a Biblioteca Nacional de Brasília de portas fechadas. Como faz com frequência, ela foi ao local estudar, mas sem trabalhadores para fazer a segurança, a biblioteca não abriu. Decepcionada, Isabel passou a tarde estudando sentada no chão. ;Aqui, é ótimo para estudar, mas não do lado de fora;, brincou. O funcionamento parcial da rede bancária levou a Terracap a suspender a licitação prevista para amanhã. O prazo para pagamento da caução terminaria hoje e, na avaliação da diretoria da empresa, muitos interessados ficariam impedidos de participar por causa dos efeitos negativos da greve. As taxas já pagas serão devolvidas aos participantes. Os 170 terrenos que seriam vendidos deverão ser incluídos em outros editais. A próxima licitação será em 25 de junho. Os interessados em conhecer os automóveis que serão leiloados pelo Detran no próximo dia 6 também foram prejudicados porque ficaram impedidos de visitar o pátio do depósito ontem. Segundo a direção do órgão, hoje a visitação permanece suspensa. ;Vamos discutir para analisar a situação, podemos deslocar funcionários de outras áreas para a função, mas o leilão está mantido;, explicou o chefe de Fiscalização do Detran, Silvain Fonseca. Troca de função Na Esplanada, policiais militares fizeram plantão durante boa parte do dia em frente aos ministérios, tiraram dúvidas e indicaram caminhos aos que tentaram ser atendidos. Nos hospitais e centros de saúde públicos do DF, nenhum dos 1.560 vigilantes que fazem a segurança dos locais apareceu para trabalhar, o que provocou mudanças na rotina dos demais funcionários. Agentes de portaria e outras pessoas trocaram de função para checar quem entrava e saía dos prédios. ;Estamos nos virando como podemos. Por enquanto, está tudo bem, minha preocupação é durante a noite;, justificou a administradora do Hospital Regional do Guará, Maria Sônia Batista Costa. Na unidade regional de Taguatinga, a direção chamou agentes de portaria que estavam de folga e pediu apoio das polícias militar e civil. Houve dificuldades no atendimento no início da manhã. No Hospital Regional do Gama, dos 106 vigilantes, só quatro compareceram e isso fez com que parte das portarias fossem fechadas. Colaborou Helena Mader

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