Economia

Crédito bancário e taxas de juros reagem à crise

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postado em 28/05/2009 07:55
A crise econômica parece ter abandonado o universo do crédito bancário e das taxas de juros. Pelo menos para as pessoas físicas. Segundo os dados divulgados ontem pelo Banco Central, o nível de consumo já voltou a subir, ao mesmo tempo em que caíram as taxas de juros dos principais empréstimos feitos pelos bancos aos clientes. Impulsionado pelo crédito para a aquisição da casa própria e pelo empréstimo com desconto em folha, o consignado, o volume de crédito total, disponível na economia, bateu em R$ 1,248 trilhão em abril, o equivalente a 42,6% do Produto Interno Bruto (PIB). É a relação crédito/PIB mais alta da história do país até o momento. Dentro do crédito total, quem mais contribuiu para a expansão foi o financiamento à casa própria. O governo, nos últimos tempos, adotou uma série de medidas de incentivo à compra do imóvel, como a ampliação dos prazos e dos limites de financiamento. Tem dado certo. De acordo com os números do Banco Central, só o crédito concedido às pessoas físicas para a compra da casa própria subiu 2,6% de março para abril , batendo em R$ 69,5 bilhões no mês. Em 12 meses, o crescimento foi de 40%. O crédito consignado também contribuiu para o aumento dos recursos à disposição dos clientes bancários. ;Voltou a aumentar a velocidade desses empréstimos;, reconheceu o chefe do Departamento Econômico do Banco Central (Depec), Altamir Lopes. Em abril, o volume de crédito consignado superou R$ 85 bilhões, com crescimento de 3,4% em relação ao mês anterior e de 8,8% no ano. Em 12 meses, o desconto em folha cresceu 21%. São os bancos públicos que, pressionados pelo governo, vêm ganhando mercado na concessão de empréstimos. Há um ano os bancos públicos respondiam por 34% de todo o crédito bancário concedido no país. Hoje, a participação deles é de 38%. Enquanto as instituições públicas ganharam espaço, os bancos privados nacionais e estrangeiros perderam, cada um deles 2% num intervalo de 12 meses. Inadimplência O aumento do crédito com redução da taxa de juros veio acompanhado da redução da inadimplência das pessoas físicas. O atraso no pagamento das dívidas bancárias caiu de 8,4% em março para 8,2% em abril. Essa queda, no entanto, não foi suficiente para impedir o aumento do calote geral, que passou de 5% das operações de crédito para 5,2% em abril, o nível mais alto desde outubro de 2000. Essa elevação foi centrada nas empresas. O atraso no pagamento das obrigações por parte das pessoas jurídicas passou de 2,6%para 2,9% de março para abril. Aliás, no mês de abril, as empresas sofreram com a retração do crédito, aumento das taxas de juros de várias operações de crédito, especialmente as de curto prazo, além da ampliação da inadimplência. Segundo Altamir Lopes, isso acontece porque a recuperação do crédito para as empresas é mais lenta. Algumas linhas afetadas pela inadimplência mais elevada, explicou, ainda refletem a dificuldade de captação de recursos. O volume do crédito para as empresas, por exemplo, sofre a influência da apreciação cambial de 5,9% no mês. ; Em reais, o volume de crédito para as empresas caiu, mas quando fazemos a conta em dólar, o volume aumentou em cerca de 1%;, esclareceu o chefe do Depec. Para o mês de maio, os dados coletados pelo Banco Central até o dia 14 indicam a mesma tendência de abril. O volume total de crédito cresce 0,2% impulsionado pelo aumento dos financiamentos para as pessoas físicas em 1,5%. A oferta de crédito para as empresas continua caindo. Em relação às taxas de juros, a situação é idêntica. As taxas caem um ponto percentual para as pessoas físicas, mantendo-se estáveis para as empresas.
Prazo maior para carros O Bradesco ampliou de 60 para 80 meses o prazo máximo de financiamento de veículos zero quilômetro. Nas duas últimas semanas, o Santander e Itaú Unibanco anunciaram que o número máximo de prestações mensais passou de 60 para 72 meses. ;O momento atual nos dá conforto para trabalhar com esses prazos;, afirmou o diretor executivo do Bradesco, Ademir Cossiello. O banco exige entrada mínima de 20% e oferece juros mínimos de 1,2% ao mês, ante 1,52% ao mês cobrados anteriormente. As novas condições, segundo Cossiello, farão com que a prestação fique até 18% mais barata. Taxas em queda As principais taxas de juros dos empréstimos para as pessoas físicas despencaram em abril. Um exemplo é o cheque especial. Embora esteja ainda absurdamente alta, quem precisou desse dinheiro extra durante o mês pagou bem menos do que quem recorreu a ele em março. Os juros do cheque especial caíram 2,8 pontos percentuais, passando de 169,1% ao ano em março para 166,3% ao ano em abril. No ano, a queda já alcança 8,6 pontos percentuais e continua recuando em maio. Levantamento parcial divulgado pelo BC indica mais uma queda de 2,8 pontos percentuais. ;A taxa de juros do cheque especial já está voltando ao nível pré-crise;, disse Altamir Lopes, chefe do departamento Econômico do Banco Central (Depec). O mesmo ocorre com o crédito pessoal, que chegou a 48,8% ao ano em abril, nível mais baixo desde maio do ano passado, quando bateu em 48,4% ao ano e depois voltou a subir para níveis acima de 50%, alcançando o percentual mais alto em dezembro de 2008, com taxa de 60,4% ao ano. A queda nas taxas do crédito pessoal foi impulsionada pelo aumento da concessão do crédito consignado, mais barato, explicou Altamir Lopes. Os juros do crédito com desconto em folha, em abril, foram de 28,7% ao ano. Veículos A discrepância, nas pessoas físicas, ficou para o financiamento de veículos. A taxa de juros subiu 0,2 ponto percentual, passando de 29,7% ao ano em março para 29,9% ao ano em abril. Nessa linha de crédito, a inadimplência também subiu de 5% das operações para 5,2%. Para as empresas, a situação é outra. Várias modalidades de crédito sofreram elevação da taxa de juros. A mais expressiva foi a linha de curtíssimo prazo, chamada hot money. O preço do dinheiro nessas operações subiu 6,1 pontos percentuais de março para abril, com a taxa de juros batendo em 61,3% ao ano. Também subiu muito o desconto de promissória. Essa alta, para o Banco Central, reflete a dificuldade de captação de recursos por parte dos bancos destinados às empresas.

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