postado em 29/05/2009 19:06
Uma técnica para extrair etanol do bagaço e da palha da cana-de-açúcar a biomassa da planta poderá aumentar a produtividade das usinas em cerca de 37%. A técnica ainda está em caráter experimental, restrita a laboratórios, mas, segundo a coordenadora científica da Rede Bioetanol, Elba Bon, no prazo de três anos, poderá estar acessível para produção em escala industrial.
Já é possível aumentar o processo de produção de etanol dos atuais 80 litros por tonelada de cana para 110 litros, se aproveitarmos o material que sobra do procedimento de obtenção normal do etanol, que é pelo caldo da cana, explica a coordenadora.
Em nenhum país, o etanol extraído da biomassa é produzido em escala industrial ou comercial. Mas no Brasil esses estudos já avançaram bastante, ainda que a tecnologia esteja sendo desenvolvida apenas na escala laboratorial, avalia a pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Leda Maria Fortes. Isso poderá colocar o Brasil em uma posição ainda mais privilegiada, completa Elba.
Há, inclusive, um número considerável de usinas manifestando interesse em usar essa tecnologia. Até porque há grandes chances de a lucratividade da produção aumentar, afirma a coordenadora da Rede Bioetanol. Mas isso precisa ainda ser confirmado por meio de estudos, pondera.
O etanol usado comercialmente para abastecimento de veículos é extraído do caldo da cana. A técnica que o país vem desenvolvendo permitirá, por meio do processo de hidrólise, a obtenção do chamado etanol de segunda geração, a partir dos resíduos que sobram da cana após uma primeira extração de etanol explica a pesquisadora do Instituto Nacional de Tecnologia (INT), Viridiana Leitão.
As pesquisadoras participam, desde o dia 27, do workshop da Rede Bioetanol, evento que se encerra hoje (29) em Brasília.
Segundo Elba, é possível obter etanol da biomassa por meio de dois processos de hidrólise: o ácido e oa enzimático, que são diferenciados principalmente pelas substâncias utilizadas para a transformação da celulose em glicose.
A mais comum porém menos indicada pelas pesquisadoras por gerar inibidores do processo de fermentação e, também, por corroer os equipamentos é hidrólise ácida. Com os estudos desenvolvidos pela Rede Bioetanol, há grande expectativa de se desenvolver, em escala industrial, a hidrólise por meio da adição de enzimas.
Esta é a corrida da hora, aponta o professor de engenharia da Universidade Federal do ABC Adriano Ensinas, que também participa do workshop.
Aspectos sociais do desenvolvimento tornam a tecnologia ainda mais importante, segundo Elba, porque gera empregos para pessoas melhor qualificadas e, também, porque incentiva a qualificação profissional dos trabalhadores que já atuam em toda a cadeira de produção do etanol.
Além disso, a capacidade de produção pode aumentar mais, sem necessidade de expansão das áreas de cultivo. Essa tecnologia pode diminuir a necessidade de área plantada, preservando o ecossistema e os mananciais de água do país, argumenta Elba.
Financiado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, o workshop da Rede Bioetanol envolve 15 instituições, entre laboratórios universitários e centros de pesquisa.