postado em 01/06/2009 09:11
Embora a GM do Brasil adote o discurso de que a crise da matriz não impacta a subsidiária brasileira, analistas consultados pela Folha veem alguns canais de contágio para a montadora no país.
O desenho da concordata irá definir se a GM do Brasil será tragada pelo processo ou se ficará à parte da recuperação judicial, diz Luiz Carlos Mello, coordenador do CEA (Centro de Estudos Automotivos) e ex-presidente da Ford no Brasil.
"Trata-se de uma decisão jurídica. Isso vai determinar como fica a subsidiária. As operações podem ou não ser tratadas de forma diferenciada, a decisão é prerrogativa da matriz", afirmou Mello.
De acordo com David Wong, especialista do setor automotivo da consultoria Kaiser Associates, afora o problema jurídico a GM do Brasil poderá sofrer as consequências da concordata da matriz de três maneiras: por uma reação adversa dos consumidores à marca, pela drenagem de recursos por parte da matriz em forma de remessa de lucros e por uma defasagem tecnológica.
Opel
Com a venda da Opel -braço europeu da GM- a um consórcio formado pela canadense Magna, o banco russo Sberbank e a montadora de caminhões russa GAZ, ainda não estão claros quais serão os impactos à GM brasileira justamente na área de tecnologia e desenvolvimento. Analistas previam que uma venda da Opel a concorrentes da GM sem incluir a GM do Brasil no pacote --como de fato não foi incluída- teria impactos negativos.
Isso porque "boa parte" da base tecnológica da GM do Brasil vem atualmente da Europa, afirma Wong.
O acordo para a venda da Opel ao consórcio internacional foi confirmado no fim de semana pela chanceler da Alemanha, Angela Merkel. Preocupado com a manutenção dos 25 mil empregos ligados à Opel no país, o governo alemão concederá um empréstimo-ponte de US$ 2,1 bilhões ao consórcio, que se comprometeu a injetar mais 300 milhões de dinheiro novo na operação.
A marca emprega cerca de 55 mil pessoas na Europa, mas, mesmo com a venda, cerca de 11 mil demissões são previstas em razão da crise.
Desconfiança
Outro impacto possível da concordata na GM do Brasil, a desconfiança do consumidor em relação à marca, provoca visões divergentes entre analistas -bem como uma eventual elevação da pressão sobre os lucros promovida pela matriz sobre a subsidiária nacional.
Para o consultor André Beer, ex-presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), "80% dos consumidores provavelmente não têm essa dimensão da crise por que passa a GM nos Estados Unidos".
Já o presidente da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), Sérgio Reze, admite que pode haver algum impacto em volume de vendas.
"Às vezes, o consumidor é induzido a uma atitude irracional em função das notícias que vêm de fora. Mas não há motivo para isso porque esse momento por que passa a matriz não desqualifica a GM no Brasil do ponto de vista técnico", disse.
General Motors
Procurada, a GM não se manifestou sobre os últimos acontecimentos envolvendo a matriz, mas, em declarações recentes, o presidente da montadora no Brasil e Mercosul, Jaime Ardila, vem dizendo que os investimentos em andamento no país serão mantidos e que a operação brasileira apresenta resultado positivo.
No ano passado, a GM atingiu nível recorde de vendas no Brasil, com 549 mil unidades vendidas.
No país, a GM possui três fábricas de veículos e uma em construção em Joinville (Santa Catarina) para a fabricação de motores. A montadora emprega ao todo 21 mil funcionários.
Na sexta-feira a GM do Brasil convocou uma entrevista coletiva, agendada para amanhã, para discutir os efeitos da possível concordata da matriz.