postado em 05/06/2009 08:14
A montadora estatal Chery, uma das maiores fabricantes de automóveis da China, colocou em dúvida a instalação de sua primeira fábrica no Brasil. A fábrica de US$ 700 milhões foi prometida durante visita do presidente Lula a Pequim no mês passado e comemorada pelo governo brasileiro.
"Depende de mais estudos de mercado, precisamos ver se temos boas vendas em nosso primeiro ano no Brasil", disse à Folha o vice-presidente da Chery, Zhou Biren.
Ele diz que um dos objetivos da empresa é vender 10 mil carros dos modelos QQ3 (1.1) e Tiggo (utilitário esportivo compacto), que devem começar a ser comercializados no Brasil no próximo mês.
"Se não passarmos de 3.000 unidades, é difícil que nossos acionistas concordem com o investimento." A empresa tem um sócio brasileiro como representante, o Grupo JLJ.
A Chery é uma das cinco maiores montadoras chinesas e a única 100% nacional. Está instalada na cidade de Wuhu, na Província de Anhui, uma das mais pobres da China.
As vendas da empresa no mercado chinês caíram em 2008 -356 mil carros ante 381 mil em 2007. O objetivo do ano era vender 480 mil.
Segurança e pirataria
Com faturamento estimado em US$ 4 bilhões no ano passado, a montadora foi a maior exportadora do país -130 mil veículos vendidos para 60 países.
Os principais mercados externos são Rússia, Ucrânia, Egito, Síria, Irã, Indonésia, Filipinas, Tailândia e Vietnã. Consultores dizem que a Chery tem se especializado em mercados emergentes porque ainda não atinge os padrões de segurança exigidos na Europa e nos EUA.
Zhou nega. "Se nossos carros não fossem seguros, nossas exportações não teriam crescido tanto", diz. "Nos anos 80 e 90, início de nossa abertura, muitos produtos chineses não eram muito bons e ficamos com essa fama." Ele traça um paralelo com Japão e Coreia. "Japoneses e coreanos também tinham fama de fazer produtos de má qualidade e investiram muito para melhorar. Eles são nossos grandes concorrentes", afirma. No último ano, a Chery contratou o mítico estúdio de design italiano Pininfarina, autor de vários modelos da Ferrari.
No passado, a Chery era mais reconhecida por piratear modelos de outras montadoras. Em 2004, a GM entrou com processo contra a Chery pelas "excessivas similaridades" com modelos de sua então subsidiária coreana Daewoo.
A Justiça chinesa encontrou algumas pequenas diferenças, a GM foi alertada de que poderia ter problemas no mercado chinês se continuasse a briga e retirou o processo em 2005.
"Resolvemos o processo pacificamente com a GM", diz Zhou. "No futuro, outros copiarão a Chery." Desde 2006, a empresa estuda investimentos na América do Sul. No ano passado, abriu uma pequena fábrica no Uruguai, atualmente com cem funcionários, em parceria com o grupo argentino Socma.
"O Brasil pode ser nossa plataforma para produzir e exportar para o Mercosul e México", diz o vice-presidente.Parte das peças seria importada da China e outras seriam produzidas no Brasil e no Uruguai. "Mas produzir na China sai pelo menos pela metade do preço", diz. Os modelos da Chery ainda não têm motor flex, mas Zhou diz que a fábrica chinesa já estuda a produção de motores que também possam funcionar com álcool.