postado em 07/06/2009 09:10
A economia brasileira vai entrar oficialmente em recessão na terça-feira, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciar o segundo trimestre consecutivo de contração no volume de riquezas produzidas no país. Segundo estimativa de economistas, o recuo no Produto Interno Bruto (PIB) entre janeiro e março ficará em torno de 2%, seguindo-se à brutal queda de 3,6% nos três meses encerrados em dezembro de 2008. Atingido o fundo do poço, a expectativa é que o nível de atividade tenha começado uma lenta recuperação a partir de abril, mas a maior parte dos analistas acredita que não haverá tempo útil para evitar o resultado negativo quando for computado o desempenho de todo o ano de 2009.
;Os últimos indicadores da indústria e o que se vê no consumo das famílias mostram que estamos retomando a rota de um pequeno crescimento. Mas o tombo de outubro de 2008 a março foi tão grande que seria necessário um reaquecimento absurdo na fase posterior para anular esse efeito negativo e permitir uma expansão no ano;, afirma o economista-chefe da corretora Concórdia, Elson Teles. Nos seus cálculos, o passado recente foi tão ruim que legou aos últimos três trimestres do ano uma inércia estatística, chamada de ;carry-over;, de 3,4%. ;É como se já estivéssemos devendo 3,4%.; Para Teles, o PIB recuou 2,1% até março. Se a expansão daí para frente for de 1% a 2%, a queda anual seria de até 1%.
A última vez em que o país entrou em recessão técnica foi nos dois primeiros trimestres de 2003, quando o PIB recuou 1,44% e 0,23%. Isso ocorreu porque o governo Fernando Henrique Cardoso teve que aumentar a taxa básica de juros (Selic) de 21% para 24%. Desde 1992, ano em que o PIB caiu 0,54% ainda como reflexo do Plano Collor, o Brasil não fecha um ano mais pobre.
Agora, o problema é a crise internacional. Ela afetou o crédito, a demanda por produtos industrializados, alimentos e minerais, além do nível de emprego, a confiança de consumidores e empresários e os investimentos. Apesar da recessão certa, o Brasil foi um dos países menos afetados em todo o mundo. ;Quando os dados saírem, estaremos olhando para o retrovisor. Hoje, muita coisa mudou para melhor na nossa economia;, diz o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. Segundo ele, o principal indicador desse novo ambiente é o aumento de 20% no índice de confiança da indústria.
Nas projeções da LCA, o PIB vai cair 1,5% no primeiro trimestre, mas crescerá 2,5% no segundo. ;Vamos sair logo da recessão. Ainda há chance de crescermos ao menos 0,5% no ano;, aposta. Borges baseia seu otimismo no consumo das famílias, que cresceria 2,7%. No último trimestre de 2008, as vendas no varejo caíram 0,6%, no primeiro recuo desde 2003, mas aumentaram 2,2% de janeiro a março. ;O crédito voltou para as pessoas físicas, os juros caíram e o desemprego não piorou muito. O consumo de bens duráveis vai ladeira acima.;
Pé no freio
A Tendências Consultoria prevê uma contração de 2% agora, o que reduziria a expansão acumulada em 12 meses de 5,1% para 2,8%. Isso mostra o tamanho do freio por que passou a economia brasileira, que vinha crescendo num ritmo superior a 6% antes da crise. Como consequência, a empresa revisou a projeção para o ano de 0,3% para -0,6%. ;A principal surpresa negativa tem sido o fraco desempenho da indústria, que vem se recuperando, mas muito lentamente. Esse setor deve apresentar a maior queda no resultado do PIB no primeiro trimestre: -12,4% na comparação com o mesmo período de 2008 e -6,7% em relação ao quarto trimestre de 2008;, diz Marcela Prada, analista da Tendências.
Na avaliação da economista, o resultado do setor agropecuário seria positivo em 0,4% e o dos serviços, em 0,6%. Pelo lado da demanda, três componentes ficariam no vermelho: importações (-18,5%), exportações (-2,8%) e investimentos (-8,7%). O consumo das famílias subiria 0,1% e o do governo, 0,3%. Os investimentos, que vinham se expandindo a taxas de 17%, foram um dos fatores mais dinâmicos no crescimento econômico de 5,1% em 2008. Mas a contração brutal na demanda interna e externa fez os empresários tirarem o pé do acelerador.
Diferentemente da maior parte dos analistas, o diretor da RC Consultores, Fábio Silveira, acredita que o país vai enfrentar três trimestres seguidos de contração: no primeiro deste ano, de -0,6%; no segundo, de -0,2%. A recuperação só viria no segundo semestre, quando se consolidaria o aumento da produção industrial e a elevação do consumo via crédito. Com uma condição. ;O mercado financeiro está passando por uma nova bolha, com elevação artificial do preço dos ativos nas bolsas de valores. Se essa bolha não furar no segundo semestre, podemos crescer 0,3% no ano, o que seria magnífico;, antevê.