postado em 08/06/2009 08:18
Voltados a um público com maior poder aquisitivo, os self-services que funcionam na Câmara dos Deputados, Tribunal de Contas da União (TCU) e tribunais superiores exibem cardápios e preços bem diferentes dos praticados pela concorrência que vende comida a quilo na Esplanada. Na terceira reportagem da série sobre os restaurantes do centro político de Brasília, o Correio revela quem são e como operam as empresas que exploram esse tipo de serviço em órgãos do Legislativo e do Judiciário.
Assim como acontece com os 10 restaurantes em atividade nos ministérios, as empresas que atuam nos demais poderes também venceram licitações antes de fincar bandeira nesse mercado. A diferença é que os editais são mais detalhistas, às vezes até mais rigorosos. É comum, por exemplo, os órgãos definirem preços-base das refeições e até exigirem que pratos sofisticados façam, obrigatoriamente, parte do menu. As formas de fiscalização e acompanhamento do contrato variam menos do que no caso dos restaurantes do Executivo. Já o volume de subsídios ; como isenção ou redução na cota de aluguel, água ou energia ; é menor.
Altiva Reis, sócia do Taioba que funciona no TCU, explica que a empresa precisa se reinventar todo dia para fazer valer o que determina a concorrência pública sem deixar cair a qualidade do produto. No tribunal, os dois restaurantes que levam a marca Taioba segmentaram o atendimento para conquistar clientes. Um, mais ;popular;, comercializa o quilo a R$ 12 e serve pratos quentes e frios tidos como padrão para qualquer restaurante de grande porte. O outro, mais ;elitizado;, oferece combinações à base de bacalhau, filé mignon e até sushi por R$ 16 o quilo. ;As pessoas gostam muito, mas o negócio é pouco lucrativo;, lamenta Altiva.Diariamente, entre 800 e mil refeições são servidas no TCU. Em agosto, o Taioba deixará de funcionar no local. ;Nos restaurantes que mantemos fora, o que vendo aqui no TCU custa R$ 27 o quilo;, completa Altiva. A empresa administra ainda o restaurante da Procuradoria-Geral da República (PGR) e o do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Na Câmara, há cinco restaurantes. Os preços do quilo variam entre R$ 12, R$ 19,50 e R$ 26,50 ; bem superiores aos cobrados na Esplanada (R$ 8 a R$ 9,55). Três dos self-services ativos pertencem ao Naturetto. Tobias Freitas, administrador da empresa, afirma que faz malabarismo para fechar as contas. O nível de exigência dos clientes e as obrigações contratuais, segundo ele, transferem ao negócio um nível de complexidade e incerteza que não é fácil de ser gerenciado.
Recentemente, o Senac despertou para esse filão. Com parcerias já firmadas no Executivo, o alvo agora é o Legislativo. A partir de agosto, o Senac passará a administrar um restaurante-escola no 10º andar da Câmara. Tainã Fialho, 26 anos, servidora da Câmara, gosta das opções servidas nos restaurantes da Casa, mas acha que com mais concorrentes a oferta pode melhorar. ;O preço é bem razoável. É mais barato do que comer no shopping e não precisa pegar o carro e enfrentar o trânsito. Gasto uns R$ 10 por dia. Acho que compensa;, completa. Todos os dias, a servidora faz uma quentinha no restaurante do anexo 4 e come na sala onde trabalha.
Tíquete
Dinâmicas e competitivas, as empresas dedicadas a atender o Legislativo e o Judiciário têm a seu favor o fato de que seus clientes têm renda maior do que os colegas do Executivo e não se importam em pagar um pouco mais para comer. A razão para isso é simples: o valor do tíquete alimentação. Enquanto nos ministérios o benefício não ultrapassa R$ 162 por mês, os servidores do Parlamento e da Justiça recebem ajuda de até R$ 630.
O governo federal pensa em minimizar esse abismo. O Ministério do Planejamento concluiu um estudo que prevê o reajuste do vale alimentação dos 539 mil servidores federais da administração direta, autárquica e fundacional.
LEIA NA PRÓXIMA SEGUNDA: Como ocorrem as licitações e os critérios para o funcionamento dos self-services