postado em 08/06/2009 08:37
Um dos termômetros principais do nível de atividade da economia, os pedidos de financiamento do BNDES ilustram bem a freada dos investimentos em modernização e criação de nova capacidade da indústria desde o acirramento da crise.
As consultas de novos empréstimos para a aquisição de máquinas e equipamentos caíram de uma média próxima a R$ 3 bilhões por mês em maio de 2008 para mais de R$ 1,6 bilhão em maio deste ano, uma retração de quase 50%.
Para Cláudio Bernardo de Moraes, superintendente de Área de Operações Indiretas (repassadas por bancos) do BNDES, a crise afetou a procura por ampliação da capacidade das indústrias e renovação de máquinas. Dentre os ramos financiados, a aquisição de maquinário para a própria indústria, diz, foi o que sofreu mais e não mostra sinais de recuperação. Por outro lado, o financiamento à compra de caminhões já começa a reagir.
"De fato, os pedidos de financiamento sentiram o impacto da crise principalmente para máquinas e equipamentos para a indústria", disse Moraes.
Por seu turno, as liberações sentem com uma certa defasagem tal movimento e recuaram num ritmo bem mais lento, segundo os dados do BNDES.
Os desembolsos para a compra de máquinas e equipamentos caíram 3,4% nos primeiros quatro meses do ano -de R$ 6,919 bilhões de janeiro a abril de 2008 para R$ 6,684 bilhões no mesmo período deste ano.
Segundo Moraes, os empréstimos do banco na modalidade Finame não recuaram também porque o BNDES absorveu os financiamentos que eram concedidos por outros bancos, retraídos com a crise.
Além disso, diz, havia ainda uma "demanda reprimida" que foi atendida neste ano, já que em 2008 o BNDES apertou o caixa e restringiu as liberações da Finame -subsidiária que dá apoio ao setor de máquinas e equipamentos e cujos empréstimos são repassados por outros bancos, que assumem o risco de crédito.
Não são apenas os dados do BNDES que indicam a desaceleração dos investimentos. Segundo o IBGE, a produção de máquinas e equipamentos caiu 22,6% de janeiro a abril deste ano frente a igual período de 2008. Foi o maior tombo dentre todas as categorias.
Uma das maiores quedas ocorreu em máquinas e equipamentos para a própria indústria: 31,9%. Tal desempenho mostra o freio nos investimentos produtivos, segundo Isabela Nunes, gerente da pesquisa de indústria do IBGE.
"Quando a economia começou a crescer, lá em 2005, os investimentos lideraram o crescimento. O investimento é muito volátil. Depende de uma perspectiva boa para a economia. É normal que sofra mais na crise. Por isso, agora puxam a queda da indústria", diz Leonardo Carvalho, do Ipea.
Para Sérgio Vale, economista da MB Associados, o mercado interno aquecido irá assegurar uma recuperação um pouco mais vigorosa no segundo semestre. Tal reação, porém, será liderada pelos bens de consumo, e não pelo investimento, que dependerá do retorno da confiança do empresariado.