postado em 09/06/2009 08:24
A recuperação dos preços do petróleo e a expansão de investimentos no setor produtivo são as alternativas que poderiam evitar com que a economia venezuelana entre em recessão no próximo semestre, segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil.
A acentuada queda nos preços do barril do petróleo, motor da economia do país, fez com que o crescimento econômico venezuelano sofresse uma importante desaceleração no primeiro trimestre deste ano, com um aumento de apenas 0,3% do PIB (Produto Interno Bruto). No mesmo período do ano passado, o PIB havia registrado alta de 4,8%.
Para que a economia não caia em recessão, principal desafio declarado pelo governo de Hugo Chávez, a Venezuela depende de uma rápida ascensão dos preços do petróleo e de um programa ofensivo para estimular o desempenho da atividade produtiva nacional não-petrolífera, segundo analistas.
De acordo com projeções da consultoria venezuelana Datanalisis, se o preço do combustível venezuelano alcançar pelo menos US$ 70 e o governo expandir o endividamento externo para financiar o gasto público, a economia poderia se livrar de um maior encolhimento, podendo crescer até 1% neste ano.
"Caso contrário, até meados de outubro, a economia entrará em recessão e pode fechar o ano com um balanço negativo de -1,8% do PIB", afirmou à BBC Brasil José Antonio Gil Yepez, presidente da consultoria Datanalisis.
Petróleo
O Goldman Sachs Group fez uma revisão em suas projeções na semana passada e previu que, até o final do ano, os preços do barril de petróleo norte-americano podem alcançar US$ 85, alta que seria estimulada por um possível crescimento da demanda e o corte da oferta dos países produtores.
Na semana passada, o barril da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) alcançou US$ 68, maior alta registrada durante a crise internacional.
Com uma economia que depende 94% das divisas provenientes das exportações petrolíferas, o governo venezuelano viu seus ganhos caírem pela metade neste ano, com um preço médio de US$ 42 por barril. No ano passado, a média de preços foi de US$ 87 por barril.
Para tentar amortecer a crise, o governo cortou 6,7% no orçamento previsto para 2009 e recorreu a pelo menos US$ 12 bilhões dos US$ 42 bilhões disponíveis no fundo de reserva para financiamento do gasto público, de acordo com o Banco Central da Venezuela.
Segundo Gil Yepez, o uso das reservas permitiu ao governo, "manter a ilusão de que (apesar da crise) não está acontecendo nada relevante na economia".
Investimentos
Na avaliação do economista Andrés Santeliz, professor da Universidade Central da Venezuela, o governo adotou medidas "conservadoras" ao anunciar um programa de austeridade, que inclui o aumento do salário mínimo em apenas 10% --quando a inflação superou os 30% no ano passado-- e deixando para agosto o incremento dos outros 20%.
"Se o governo não ajusta o salário mínimo, principal responsável pelo aumento do consumo nos últimos anos, os estoques das empresas começarão a aumentar, haverá menos contratações e a economia pode entrar em colapso", afirma.
Na opinião de Santeliz, o governo toma medidas "contraditórias", temendo reproduzir o modelo de endividamento dos governos anteriores, e se detêm em debates ideológicos para conduzir a economia em meio à crise.
"O endividamento não é bom, nem mal, é oportuno ou não é oportuno", afirma.
"Aumentar a dívida em um momento inflacionário não tem sentido. Mas não aumentá-la em um momento de recessão pode ser ainda pior", acrescentou.
Na opinião do economista, o governo escolheu o momento errado para avançar em projetos de nacionalização de empresas estrangeiras, como o caso do Banco da Venezuela, de propriedade do grupo Santander e para a compra do qual o governo investiu US$ 1 bilhão no mês passado.
"Se o problema é atacar a recessão, o pior que pode acontecer é nacionalizar uma empresa estrangeira, porque terão que pagar em dólares e, com isso, o governo não está gerando nem um novo posto de trabalho", afirmou.
Números extra-oficiais estimam que o governo venezuelano tenha gasto cerca de US$ 14 bilhões em nacionalizações nos últimos anos.
Falta crédito
Na avaliação do ex-diretor do banco central da Venezuela, José Guerra, o problema é de escassez de crédito internacional.
"Há um problema de financiamento, o governo não tem os recursos disponíveis para gastar", afirma.
Diferente do que se previa, o acordo entre o BNDES e a Venezuela para criar uma linha de crédito de US$ 4 bilhões para financiar obras de infraestrutura no país não foi concretizado no último encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e o venezuelano Hugo Chávez, no final de maio, em Salvador.
De acordo com Guerra, o governo venezuelano conta fundamentalmente com suas próprias reservas e pode optar por socorrer o sistema financeiro interno como alternativa para financiar projetos produtivos.
Diante da queda das receitas do petróleo, o governo também restringiu o fluxo de dólares para importação.
Desde 2003, está em vigor no país uma taxa de controle de câmbio fixa de 2,15 bolívares por dólar.
Na opinião dos analistas, a redução do acesso às divisas incrementará o preço do dólar paralelo e, com ele, a inflação, outro velho problema da economia venezuelana.
Neste mês a inflação atingiu 2% e pode chegar ao final do ano com um acumulado de entre 25% e 30%, segundo analistas.