postado em 09/06/2009 09:18
Após ter atingido 116 milhões de toneladas no ano passado, a produção de soja da América do Sul recua 18,1% -para 95 milhões neste ano. Os dados de quebra de safra já foram assimilados pelo mercado, que faz contas para a safra 2009/10, mas o produtor ainda deve sofrer no bolso essa redução.
A quebra mexeu com os estoques mundiais, que estavam em recuperação, sustentou os preços da oleaginosa e redirecionou exportações entre os maiores produtores.
A redução de produção ocorreu devido à quebra de safra em todos os países da região, mas com maior intensidade na Argentina. Castigado pela maior seca dos últimos 70 anos, o país vai colher apenas 32 milhões de toneladas de soja, conforme recentes estimativas da Bolsa de Cereais de Buenos Aires.
O efeito da seca foi tão grande no país que, dos 17,8 milhões de hectares semeados, apenas 16,8 milhões serão colhidos. Além da área que não será colhida, a produtividade das demais áreas teve redução de 33% em relação à safra anterior.
José Pitoli, da Coopermibra, cooperativa do noroeste do Paraná, diz que a quebra de safra elevou os preços da soja. Essa alta, porém, pode não ser suficiente para compensar o que o produtor perdeu com a redução da produção e com o que ainda deve deixar de ganhar devido à contínua desvalorização do dólar nas últimas semanas.
A depreciação da moeda norte-americana, que atingiu neste mês o menor valor do ano, ao cair para R$ 1,924, significa entrada menor de reais no bolso dos produtores.
"Essa perda ocorre em um momento de elevação de custos. Se os preços dos fertilizantes estão abaixo dos praticados no ano passado, o mesmo não ocorre com outros insumos e com mão de obra", diz Pitoli.
Essa perda de renda em várias regiões brasileiras fará com que o produtor volte a semear a soja mais uma vez com menor uso de tecnologia. Os que já fizeram isso na safra 2008/9 vão comprometer ainda mais a produtividade da safra 2009/10.
Com recursos próprios limitados e crédito disponível bastante escasso, a área e a produção de soja podem ficar abaixo do esperado, segundo Pitoli.
Apetite chinês
Os analistas do Instituto FNP alertam para uma nova tendência no mercado, que ainda precisa ser confirmada. A soja produzida internamente pelos chineses já tem custos inferiores à importada, o que pode frear o apetite da China, cujas importações deste ano estão em patamares bem acima das da safra anterior.
Leonardo Menezes, da Consultoria Céleres, de Uberaba (MG), diz que os estoques finais de soja estarão bem mais ajustados na América do Sul devido à oferta menor na safra 2008/9.
Além disso, tanto Brasil como EUA elevaram as exportações para compensar a perda argentina, próxima de 15 milhões de toneladas nesta safra em relação à estimativa inicial.
A quebra na América do Sul, reduzirá a safra mundial para 210 milhões de toneladas neste ano, abaixo da demanda de 222 milhões estimadas pelo Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). Com isso, os estoques mundiais, que estavam próximos de 53 milhões de toneladas no início de safra, devem terminar o período próximos de 41 milhões -apenas 18% do consumo total.
Mas o cenário muda para a próxima safra, a 2009/10, que os norte-americanos já estão semeando. Brasil (60 milhões de toneladas) e Argentina (51 milhões) voltam aos patamares de produção pré-seca e, com isso, a América do Sul deverá colher 119 milhões de toneladas.
Do lado da oferta, além da evolução de safra no Brasil e na Argentina, haverá aumento também na dos EUA, que sobe para 87 milhões de toneladas. A safra mundial de soja deve atingir 242 milhões.